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Com seu novo projeto, voltado ao desenvolvimento de lideranças femininas, Ana Paula Padrão reafirma um propósito que sempre esteve presente em sua vida, o de inspirar mulheres a serem donas de suas próprias escolhas. Crédito: Divulgação.

Inspiração e propósito

A virada de chave na carreira de Ana Paula Padrão: “Eu me sinto como se tivesse me preparado a vida inteira para isso”

Fernando Henrique de Oliveira
Fernando Henrique de Oliveira
02/12/2024 10:29
Possivelmente, toda uma geração vai se lembrar de Ana Paula Padrão como a apresentadora de um dos reality shows de maior sucesso da TV brasileira, o MasterChef Brasil, um programa que conduziu por uma década. Mas, para quem conhece sua trajetória, seu novo projeto, focado no desenvolvimento de lideranças femininas, significa mais do que uma guinada de carreira: ele é um desdobramento natural de tudo o que ela representa. Afinal, Ana foi muito mais do que uma apresentadora e jornalista de destaque; ela se tornou um símbolo de sucesso e representatividade feminina ao longo das últimas décadas.
Primeira mulher a assumir a bancada do Jornal da Globo, Ana Paula Padrão marcou gerações anteriores à do MasterChef, especialmente a de jovens jornalistas que a viam como exemplo de competência, ousadia e força. Cobriu diversos cenários de guerra, como no Afeganistão, e dedicou-se a pautas que frequentemente colocavam o feminino no centro das discussões, mesmo que de forma indireta. “Meu interesse pelo papel feminino na sociedade sempre me motivou a contar histórias que destacassem a realidade e a força das mulheres em diferentes situações”, conta. 
Na TV, sua presença em cargos de destaque em um ambiente predominantemente masculino já era, por si só, um ato político e inspirador. Hoje, ao abraçar o desafio de orientar mulheres em suas carreiras, Ana apenas reafirma o que sempre esteve presente em sua vida: a determinação em abrir caminhos para outras mulheres e provar que liderança, escolha e coragem podem - e devem - ser parte da história de todas elas.
“Sempre me intrigou como as escolhas femininas ainda são limitadas pela estrutura social e cultural. Para mim, dar às mulheres autonomia para fazer escolhas e assumir suas consequências transforma não só suas vidas, mas também suas comunidades e ambientes de trabalho”, revela.

Ana empreendedora

A trajetória pública de Ana Paula Padrão sempre esteve acompanhada de iniciativas paralelas que tinham as mulheres como foco. Por volta de 2009, começou a organizar eventos no Brasil que traziam mulheres líderes para o palco e incluíam convidadas internacionais. Em 2011, fundou uma escola voltada para mulheres de classe C-menos, em resposta a uma provocação que teve em seminários do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
“Apesar de programas de qualificação para mulheres apresentarem aproveitamento pleno, a empregabilidade raramente ultrapassava 20%. Minha tese era que isso se devia a rachaduras de autoestima, enraizadas na forma como meninas e meninos eram educados, especialmente nos países latinos. Trabalhei essa questão criando um curso voltado para mulheres, com 150 aulas gravadas, distribuídas por telecentros de todo o Brasil. Em pouco tempo, atingimos 150 mil alunas, promovendo avanços significativos em autoestima, empregabilidade e mobilizando grupos locais”, conta.
Ainda em 2011, Ana fundou a Tempo de Mulher, uma empresa de comunicação voltada para o público feminino que começou como um portal e depois se reinventou, prestando consultorias para empresas e promovendo eventos que levam líderes empresariais mulheres - em geral, presidentes ou vice-presidentes de empresas - para falar com uma plateia composta por outras mulheres em busca de inspiração e modelos para suas carreiras.

“Após 10 anos à frente do MasterChef, senti que era o momento de mudar”

No entanto, todas essas iniciativas caminhavam paralelamente à consolidada carreira da jornalista e apresentadora Ana Paula Padrão, que se despediu do MasterChef em outubro, anunciando uma nova etapa em sua vida.
Ana diz que poderia contar várias histórias sobre sua decisão de deixar o programa, mas a principal razão, segundo ela, é que completou um ciclo. “Após 10 anos à frente do MasterChef, senti que era o momento de mudar”, conta. 
“Estou perto dos 60 anos e comecei a refletir sobre como quero viver os meus próximos anos produtivos e como desejo ser lembrada. Minha trajetória no jornalismo me trouxe credibilidade, e o MasterChef mudou a gastronomia no Brasil, mas senti que havia algo mais para fazer e que era hora levar meu interesse pela autonomia das mulheres a um novo patamar”, revela.
Sua aproximação com a Conquer Business School no início de 2024 colaborou para que Ana cristalizasse sua decisão. Convidada para dar uma aula em um dos mini-cursos da escola de negócios e nova economia, ela percebeu que talvez tivesse encontrado um espaço para avançar em seu propósito.
Da primeira aula, vieram outras. Depois, eventos e, a partir de uma conversa com Josef Rubin, cofundador da Conquer, Ana vislumbrou a possibilidade de desenvolver projetos relacionados ao público feminino. Isso a fez se aproximar cada vez mais da escola e seus times, envolvendo-se em projetos até assumir o posto de diretora de marca - algo que aconteceu antes de a instituição nascida em Curitiba ser adquirida pela Wiser Educação, grande holding do setor
Nessa posição, a então apresentadora Ana Paula Padrão começou a estruturar movimentos estratégicos que tornassem a Conquer acessível a um público que ela ainda não atingia e, aos poucos, a ideia de desenhar uma esteira de cursos voltados para mulheres começou a se fortificar, uma vez que, ela diz, ficou mais clara uma necessidade significativa de mercado para isso. 
“Aquilo que já trazia de muitos anos de contribuição para o universo feminino favoreceu a percepção de criarmos algo específico para mulheres, porque a comunicação para esse público é diferente. Há gatilhos, comportamentos e estilos de liderança distintos”, comenta.

Comunicações diferentes

“Modelos de gestão femininos e masculinos já são amplamente estudados por universidades, com resultados mensuráveis em retenção, felicidade das equipes, impacto na diversidade no topo das corporações, entre outros. A literatura sobre o tema destaca a gestão feminina pela sua abordagem mais horizontal, focada em pessoas e talentos individuais, em vez de apenas currículos ou descrições de cargo. Isso significa identificar e potencializar habilidades únicas dentro da equipe, permitindo melhores resultados e maior diversidade nas soluções. Essa abordagem, amplamente estudada por universidades como Harvard e Stanford, destaca o valor das habilidades não cognitivas na liderança, algo que tem sido cada vez mais adotado por líderes de diferentes perfis”, explica.
Durante as conversas sobre a criação de iniciativas voltadas à capacitação feminina, Ana notou que a Conquer demonstrava um interesse genuíno em adaptar suas estratégias, percebendo que tratar todos os públicos da mesma forma nem sempre era a melhor opção. As discussões evoluíram e levaram à percepção de que o projeto poderia ir além de um curso ou dois, abrindo espaço para algo mais amplo.
“A Conquer apresentou um modelo educacional inovador e alinhado ao que acredito. Após conhecer os fundadores e entender o propósito por trás da escola, percebi que era o ambiente certo para trabalhar em prol da liderança feminina. Foi um casamento de ideias que deu muito certo”, afirma.
Seguindo o mesmo princípio das diferenças de gênero, Ana também considerou que a comunicação com diferentes perfis de gestores exigia abordagens específicas. A maneira de se conectar com quem está em um primeiro cargo de liderança é bem diferente daquela direcionada a executivos de alto escalão, tanto na linguagem quanto na forma de aprendizagem.
“Foi percebendo tudo isso que vi que havia espaço para mais de um modelo de cursos e sugeri criar uma unidade de negócios específica. Foi nesse ponto que decidi encerrar meu ciclo com o MasterChef e me dedicar completamente a isso”, revela.

Mulheres à frente de suas carreiras

A partir de então, começava-se a tomar forma a Conquer Unna, uma escola de desenvolvimento de lideranças femininas que tem Ana Paula Padrão como sócia e CEO. O seu primeiro curso já está com inscrições abertas. Gratuito, ele terá aulas online e ao vivo de 9 a 11 de dezembro. Ana é quem conduzirá os encontros.
Em paralelo, a Conquer Unna está desenvolvendo uma esteira de cursos com base no que já se sabe sobre o comportamento feminino e os estágios de liderança das mulheres. A ideia é aplicá-los tanto para empresas como para o mercado em geral. Para janeiro, já está previsto um curso mais longo do que o que já foi lançado.
O propósito da Conquer Unna é colocar o maior número de mulheres na trilha da própria carreira. “Eu me sinto como se tivesse me preparado a vida inteira para isso, para chegar a este momento”, confessa Ana. A ideia é que a empresa não só prospere, mas que também traga impacto positivo para a maioria das mulheres, ela comenta.

Dona das próprias escolhas

Se é por meio da educação, liderando um movimento que busca destravar gatinhos para que cada vez mais mulheres possam conquistar mais espaço no mercado de trabalho e na própria sociedade, que Ana quer deixar o seu legado, ela não sabe. Mas tem certeza de uma coisa: o legado não são os resultados, mas saber quem ela foi.
“A Ana Paula Padrão foi uma mulher que fez as suas próprias escolhas - e não que deixou que a vida as definisse, como acontece com muitas mulheres. Esse é o legado, é isso que eu quero deixar para as pessoas: que eu fui coerente a minha vida inteira e que eu não deixei que nada nem ninguém decidisse por mim o que seria a minha vida. Eu fui uma mulher que escolheu viver o que quis viver. Que isso possa contribuir para que mais possam ter suas próprias histórias”, completa.