Estamos obcecados por soluções instantâneas, em que para cada dificuldade existe alguém oferecendo um atalho milagroso, quase sempre caro, raso e inútil, mas já falamos sobre isso por aqui.
A reflexão hoje é que existe, sim, uma solução que se aplica a praticamente tudo na vida.
Perder peso, ganhar massa magra, aprender um novo idioma, se tornar um atleta de alto rendimento, virar músico, empreender ou alcançar excelência profissional: o que todas essas coisas têm em comum é o fato de dependerem de algo que não cabe em vídeos de 30 segundos.
A verdade não poderia ser mais banal: a fórmula mágica é a junção fatal de vontade e disciplina. É simples, não é vendável, mas é a única que realmente funciona. Acompanha o raciocínio.
Comecemos pela vontade. Querer algo de forma aleatória, só porque está em alta ou porque alguém que você admira faz, não se sustenta. A empolgação inicial até aparece, mas desaparece com a mesma rapidez. A vontade verdadeira precisa nascer de um desejo profundo, motivado por um propósito que vai além do impulso.
Olhar para a infância é bastante revelador: quando éramos crianças, queríamos ser caça-fantasmas, super-heróis ou treinadores de dragões. Por mais que nenhum desses sonhos seja realizável, eles nos apontam o norte: o desejo.
O desejo é essa força interna, instintiva, que nos impulsiona em direção a algo que nem sempre faz sentido, mas que fala diretamente com quem somos.
Depois desse desejo bruto, emocional, vem a vontade racional, que é quando o sonho começa a se encontrar com a realidade. É o momento em que dizemos: “Ok, não posso ser caça-fantasmas, mas talvez eu possa ser arqueólogo”; “Não posso treinar dragões, mas posso ser biólogo e trabalhar com animais selvagens.”
A vontade é, portanto, a racionalização do desejo. E é justamente nesse ponto que descobrimos se aquilo que desejávamos era forte o suficiente para se transformar em ação, ou se não passava de um capricho momentâneo.
Mas mesmo a vontade, por mais genuína que seja, não se sustenta sozinha. É aqui que muitas pessoas se perdem: confundem vontade com força de vontade, e são coisas completamente diferentes.
Ter vontade vem do desejo. Ter força de vontade é resistir às tentações de abandonar o caminho. E nenhuma delas, isoladamente, gera resultado. Para alcançar qualquer objetivo, é preciso esforço, renúncia e constância: três palavras que não combinam com a lógica imediatista que toma conta do nosso tempo.
É por isso que para ser “fitness” não basta seguir blogueiros que exibem rotinas perfeitas. É necessário abrir mão das refeições desleixadas, seguir um plano alimentar equilibrado e colocar o tênis para treinar de verdade, mesmo nos dias ruins.
Da mesma forma, para ser arqueólogo, não basta se divertir cavando buracos no quintal. É preciso passar horas (muitas horas) dentro de um laboratório, analisando ossos e fragmentos de solo até que a coisa comece a fazer sentido.
A vida adulta é um lembrete diário de que gostar de algo não significa estar disposto a enfrentar o que esse algo exige.
Até aqui, está claro: desejo não é vontade, vontade não é ação e ação sozinha não garante resultado. O que produz resultado, de fato, é a disciplina: essa palavra impopular, quase antipática, que ninguém quer ouvir, mas que separa quem sonha de quem realiza.
Disciplina é acordar todos os dias e fazer o que precisa ser feito, mesmo cansado, mesmo sem motivação, mesmo sem… vontade. Sem disciplina, a vontade volta ao lugar de origem: a esfera emocional do mero desejo. E emoção, por mais intensa que seja, não constrói nada concreto.
O segredo não poderia ser mais óbvio: sonhos só se realizam com a combinação infalível de vontade e disciplina. Qualquer coisa diferente disso é fantasia. Vontade sem disciplina é apenas desejo e desejo sem ação permanece para sempre no mesmo lugar em que nasceu: na imaginação.