Há algumas semanas a notícia de que uma obra de arte digital vendida por 69 milhões de dólares - isso mesmo que você leu - ganhou as manchetes. Existem diversas facetas interessantes nessa história. Vou deixar alguns pontos mais claros para, depois, questionar algumas coisas.
Ao longo dos últimos 13 anos, o artista Mike Winkelmann, mais conhecido como Beeple, produz uma arte digital por dia. Por mais de uma década o artista criou e publicou suas criações nas suas mídias sociais e site. Beeple decidiu então juntar todas as suas artes desenvolvidas ao longo dos anos e uni-las em apenas uma obra. Após isso, a ofereceu como um NFT.
NFTs se referem a Non-Fungible Tokens, em uma tradução livre, Tokens Não-Fungíveis. Tokens são registros de ativos digitais criados em uma blockchain, um sistema imutável, extremamente seguro e que permite o funcionamento de sistemas descentralizados. Não-Fungível se refere à característica de imutabilidade daquele ativo. Ele não pode ser substituído.
Recentemente, o co-fundador e CEO do Twitter, Jack Dorsey, recebeu uma oferta de 2,5 milhões de dólares pelo seu primeiro tuíte, a primeira publicação a ser feita na mídia social, ainda em 2006. Um meme foi vendido por 600 mil dólares. Uma obra do artista Banksy foi vendida por 4 vezes o seu preço original. Parece loucura, certo?
Beeple, sobre o qual falamos há alguns parágrafos, pôs sua obra que juntava seus 13 anos de trabalho para leilão. O resultado? Veja a foto deste artigo.
Você pode estar pensando que é uma maluquice alguém querer comprar um tuíte por 2,5 milhões de dólares. Ou um meme por 600 mil. Ou uma obra digital por 69 milhões de dólares. E se considerarmos que qualquer um pode fazer o download da arte de Beeple e colocá-la em um quadro, assim como qualquer um pode fazer o download de Monalisa em alta qualidade e colocá-la em uma moldura para exibir em sua sala de estar, a coisa toda pode ganhar contornos ainda mais extravagantes. Entretanto, nós, como humanos, valorizamos o simbolismo e a escassez das coisas. Isso é o que leva alguém a querer gastar mais de meio milhão de dólares por ser o “dono” de um meme, embora aquele mesmo meme possa ser utilizado por qualquer pessoa na internet. É por isso que a versão original de Monalisa tem valor incalculável - ela é única e original - e suas reproduções, não.
Uma das primeiras vezes em que o mundo das NFTs chamou atenção foi em 2017, com o lançamento do jogo Cryptokitties, onde jogadores colecionam, trocam e vendem gatinhos virtuais. É. Por mais estranho que isso possa parecer, alguém chegou a pagar 170 mil dólares por um gatinho. Mais recentemente, a NBA lançou o jogo NBA Top Shot, onde usuários podem colecionar e vender momentos da liga, como numa versão avançada dos álbuns de figurinhas. Este ano, um vídeo de LeBron James, um dos jogadores mais populares do basquete mundial, foi vendido por mais de 70 mil dólares.
Todo esse mundo pode parecer muito estranho e sem sentido nenhum. Um gatinho online vale 170 mil dólares? Um vídeo de LeBron James - que pode ser assistido a qualquer momento - vale quase 100 mil? Uma obra digital de Mike Winkelmann vale 69 milhões de dólares? Para algumas pessoas, ao que parece, sim.
E aí, vem a pergunta “mágica”: Será que estamos passando por uma bolha no mundo dos ativos digitais? Difícil afirmar com certeza, mas existe probabilidade razoável de que sim. Que seja mais uma moda que em algum tempo, se tornará descartável. Mas, é claro, isso não quer dizer que as tecnologias que permitem essas trocas - como Blockchain, por exemplo - não tenham sua valia. A internet passou por uma bolha gigantesca, mas isso não significou que a internet era, por si, uma bolha. Ela era uma revolução. Da mesma forma, podemos passar por várias fases de modinhas de NFTs e Blockchain, mas isso não quer dizer que elas não sejam revolucionárias.
Estamos apenas começando a ver o quão disruptivas essas tecnologias podem ser. As próximas décadas trarão mais confusão, mais “loucuras”, mas também, muitas oportunidades. É bom ficarmos de olho.