Em um passado não tão distante, eu tive uma empresa 100% focada na minha imagem. Viajava o tempo todo dando palestras, e tanto o CNPJ quanto o valor do negócio estavam diretamente ligados à minha presença pessoal.
Isso significava que, se eu quisesse tirar férias prolongadas, parar de trabalhar ou - bate na madeira - partisse desta para uma melhor, a empresa simplesmente deixaria de existir.
As desvantagens de ser “eupreendedor” são inúmeras: sobrecarga pessoal, limitação na escalabilidade e na sustentabilidade do negócio - e falta de preparo para uma eventual sucessão. Por outro lado, as vantagens são evidentes: enquanto você estiver ativo e "na crista da onda", tudo estará ótimo. Ainda assim, lembre-se de que casos de sucesso de negócios centralizados no fundador são exceções, não regra.
Quando decidi empreender, escolhi um estilo de vida que, com o tempo, se mostrou insustentável: passava boa parte dos meus dias em aeroportos e hotéis para fazer algo que amo até hoje - dar palestras. Apesar da paixão pelo que fazia, esse estilo de vida acabou se tornando incompatível com outras prioridades, como passar mais tempo com minha família, por exemplo.
Na prática, isso significava que, no momento em que eu parasse de dar palestras, minha empresa deixaria de existir. E como vender um negócio que depende da imagem de uma pessoa que já não está presente? A solução foi reestruturar o modelo da empresa, mudar o foco e pensar em entregas que não dependessem exclusivamente de mim.
Vamos a uma história de sucesso conhecida. Quando Steve Jobs faleceu, muitos especularam que a empresa perderia valor, já que a marca estava profundamente atrelada à imagem dele - e ainda é, na verdade.
Mas, como já sabemos, não foi isso que aconteceu. Antes de sua morte, Jobs delegou funções, fortaleceu a equipe e priorizou a comunicação na qualidade e inovação oferecidas pelos produtos da empresa. Ele criou uma cultura que transcendia sua presença ao focar na importância da tecnologia que estava sendo produzida ali.
O saldo final é que a Apple continua sendo uma das empresas mais valiosas do mundo, provando que, para um negócio prosperar, o produto ou serviço precisa ser maior que o fundador. Sua empresa deve ser capaz de gerar valor de forma independente da sua presença.
Uma estratégia eficaz para descentralizar sua imagem do negócio é usar o personal branding - ou marca pessoal, no bom português - como ferramenta para fortalecer a empresa.
Isso significa utilizar sua presença nas redes sociais e em outros canais como uma alavanca para conectar-se ao público e humanizar o negócio.
Explico: você já deve ter notado que perfis corporativos nas redes sociais, salvo raras exceções, têm pouco engajamento, certo? Algumas empresas tentam contornar isso com embaixadores virtuais, linguagem acessível ou memes.
Essas estratégias podem funcionar, mas vamos ser práticos: postar um meme aumentou suas vendas? Mudou algum índice de resultado? Se a resposta for sim, ótimo. Se o resultado foi apenas o número de likes, lamento dizer: não foi efetivo.
O que realmente gera resultado é a conexão genuína que você estabelece ao usar sua própria imagem como porta-voz da marca.
Usar suas redes pessoais para engajar o público não só humaniza a empresa, mas também cria uma conexão direta com potenciais clientes e parceiros. Você se torna um "influenciador" da sua própria marca, transmitindo valores e mostrando o que diferencia seu negócio.
No LinkedIn, por exemplo, muitos CEOs estão presentes, escrevendo artigos, participando de debates e mostrando como pensam e se comportam. Essa interação não só fortalece a marca pessoal, mas também agrega valor ao negócio, permitindo que as pessoas se identifiquem tanto com você quanto com seus produtos.
Outro ponto importante é dar visibilidade à sua equipe. Permitir que colaboradores também sejam embaixadores ajuda a descentralizar sua imagem, além de estimular o crescimento de lideranças internas. Isso não só fortalece a empresa, mas também prepara o terreno para uma sucessão bem-sucedida no futuro.
Descentralizar não significa desaparecer ou abandonar a operação. Afinal, nós sabemos que, principalmente para um pequeno ou médio empreendedor, muito do negócio ainda depende de uma visão do próprio dono.
Estamos falando aqui de, naquilo que for possível, encontrar o equilíbrio certo, em que sua presença agrega valor sem que o futuro do negócio dependa exclusivamente de você. Assim, sua empresa poderá crescer de maneira sustentável e autônoma.