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Colocar, de forma clara, ideias no papel, é muito mais difícil do que a maioria das pessoas pensa.

Allan Costa

Allan Costa

Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.

Habilidades pessoais

Escrever: uma antiga arte mais importante do que nunca

23/05/2023 19:33
Tenho passado bastante tempo pensando nas habilidades que serão relevantes em um mundo cada vez mais dominado por tecnologias como Inteligência Artificial e máquinas que aprendem.
Pense no seguinte: essas tecnologias irão automatizar diversas tarefas que, hoje, são realizadas por nós e que gastamos minutos ou mesmo horas. Com o aumento da automação na sua indústria, você consegue imaginar quais habilidades serão mais valiosas no futuro?
Uma das que mais tem me chamado atenção não é novidade. Na verdade, é uma habilidade humana que remonta aos primórdios da civilização: a escrita. Não estou falando aqui, necessariamente, de uma escrita poética ou erudita - embora essas também sejam válidas. Estou me referindo à arte de escrever para si mesmo, para colocar as ideias para fora e organizar pensamentos.
Essa é uma das melhores maneiras que conheço para diminuir a ansiedade em relação a novos projetos ou para pensar mais claramente quando muitas variáveis estão em jogo. Voltando ao ponto inicial deste artigo: em um mundo dominado por Inteligência Artificial, no qual informações e insights poderão ser criados facilmente por máquinas, ser capaz de organizar os pensamentos e buscar pensar mais claramente, diminuindo todo o ruído - que só será maior daqui para frente - será fundamental. Escrever se tornará uma poderosa aliada para esta finalidade.
Colocar, de forma clara, ideias no papel, é muito mais difícil do que a maioria das pessoas pensa. Já publiquei três livros, um dos quais em inglês, uma língua que obviamente não é a minha, então falo isso por experiência própria: organizar pensamentos de forma que faça sentido, revisá-los e tentar apresentá-los de forma clara, usando poucos recursos - apenas uma ou outra imagem - não é uma tarefa fácil, mas que ajuda imensamente quando precisamos de clareza mental ou quando necessitamos apresentar ideias para alguém.
Da próxima vez que você se sentir confuso, precisar refletir bastante sobre uma grande decisão a ser tomada ou mesmo apenas definir os rumos de um projeto ou da sua carreira, experimente sentar e escrever. Não se preocupe com a qualidade, pelo menos não no início. Não se preocupe em ser perfeito. Apenas coloque para fora os desafios e potenciais formas de resolvê-los, como se você estivesse tendo uma conversa consigo mesmo.
Você verá que, com a prática, vai ficar mais fácil separar esses desafios em bullet points, em desafios menores. Fica mais fácil, também, pensar sobre eles de forma mais clara e transparente. Pode parecer besteira, mas o fato de sentarmos e buscarmos colocar esses pontos de forma clara no papel - ou na tela - nos faz refletir sobre eles de uma forma diferente e com outra perspectiva.
Esse tipo de técnica não é papo de coach de quinta categoria. Acredite - eu odeio esse tipo de papinho. Escrever nossos pensamentos realmente ajuda a entendê-los melhor. Isso é tão verdade que a Amazon, uma das empresas mais bem-sucedidas do mundo, usa um modelo de reuniões fortemente baseado em escrita, onde os participantes precisam escrever um documento com os principais pontos da conversa, expondo-os de forma clara. Os demais participantes lêem o documento antes de iniciar e, durante a reunião em si, todos discutem o que já foi lido.
Embora seja uma forma de expressão antiga - e muitas vezes esquecida -, escrever se tornará uma habilidade ainda mais importante nas próximas décadas, conforme o mundo se torne ainda mais automatizado e dominado por máquinas. O ChatGPT pode até produzir um documento crível com ideias razoáveis. Mas organizar o que está dentro da sua cabeça - e que, portanto, é verdadeiramente único -, é o que fará a diferença em um ambiente cada vez mais padronizado pelas tecnologias.