De portos a esportes, passando por logística, turismo, geração de energia, pesca, dentre outros setores, a economia azul se mostra um grande campo de avanço para a tecnologia e para a inovação. Crédito: gvictoria/Bigstock.
Beto Marcelino
Sócio-fundador do iCities, hub de negócios em cidades inteligentes que realiza, desde 2018, o Smart City Expo Curitiba. Também é embaixador da Fira Barcelona no Brasil.
Dos portos ao surf: como a Economia Azul pode (e vai) ganhar cada vez mais relevância no cenário brasileiro
26/09/2024 15:45
Sem dúvida, o oceano é vital para a economia brasileira. Afinal, temos uma costa litorânea de 8.500 quilômetros e cerca de 80% da nossa população vive até 200 km do litoral. Nesse contexto, vemos um enorme potencial econômico para setores como navegação, turismo, geração de energia no mar (offshore) ou em costa, pesca, aquicultura, esportes marítimos e extração de petróleo e gás. É o que chamamos de Economia Azul ou, em inglês, Blue Economy.
O tema é tão relevante que ganhou uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), a Década dos Oceanos, que se estende de 2021 a 2030. O objetivo é promover a saúde e a sustentabilidade dos oceanos, por meio de ações que incentivem a pesquisa científica e a inovação tecnológica. Para mim - e para o iCities -, a tecnologia está entre as prioridades mais imediatas elencadas pela iniciativa e há muito o que fazer, assim como muita gente boa envolvida neste setor. Em minhas andanças pelo Brasil, fico cada vez mais impressionado com as pessoas e a vontade de fazer acontecer.
No entanto, mesmo com essa garra e tantos avanços, ainda vejo bastante espaço para o crescimento da tecnologia no segmento portuário brasileiro. De acordo com a ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), mais de 95% do comércio exterior é transportado pelo mar, o que traz à tona a relevância dos portos para essa economia. Aqui, quero destacar o papel dos “Portos Inteligentes”. Eles representam um avanço tecnológico essencial para o futuro da economia do mar. Portos como o de Barcelona têm implementado sistemas de digitalização e automação que não apenas aumentam a eficiência logística, mas também reduzem o impacto ambiental.
A automação de processos nos portos, como a movimentação de contêineres, monitoramento de poluição e sistemas de vigilância de emissões, reduz drasticamente a pegada de carbono das operações. Além disso, a coleta de dados em tempo real, por meio de sensores e inteligência artificial, permite uma gestão mais precisa dos recursos marítimos, ajudando a evitar derramamentos de óleo, proteger a biodiversidade marinha e otimizar o uso de combustíveis.
O porto de Barcelona é um exemplo notável nesse cenário. Lá, foram introduzidas inovações que incluem o uso de energias renováveis para suas operações e a implementação de sistemas de monitoramento ambiental para reduzir a poluição. Além disso, o porto está investindo em soluções de mobilidade elétrica e autônoma, como caminhões e guindastes elétricos, reduzindo o uso de combustíveis fósseis.
No Brasil, Niterói é um dos municípios que tem investido fortemente em infraestrutura para a economia do mar, incluindo o saneamento básico e a dragagem do canal de São Lourenço, que impulsionam a economia local em setores-chave como a pesca e a indústria naval. Por essa razão, a cidade receberá, em dezembro, a primeira edição do Tomorrow Blue Economy no Brasil, um evento global para discutir o futuro da economia do mar.
Com certeza, portos Inteligentes melhoram a logística de uma cidade, trazendo benefícios que chegam até o dia a dia do cidadão. Ou seja, não é apenas uma coincidência semântica: portos inteligentes têm tudo a ver com cidades inteligentes que, por sua vez, são criadas por pessoas e empresas inteligentes.
E é justamente por isso que também é preciso chamar a atenção do setor privado para somar esforços em prol da proteção dos oceanos e do desenvolvimento sustentável dessa economia. O envolvimento de marcas com a economia azul fomenta práticas de ESG e pode abrir espaço para a inovação, desenvolvendo não só as cidades, mas impactando a vida do cidadão comum.
Por fim, eu, um grande fã de esportes e surfista há anos, não posso deixar de mencionar que o surf, canoagem, vôlei de praia, frescobol, beach tennis, dentre outros também fazem parte da economia do mar. Como vimos recentemente nas Olimpíadas de Paris, são modalidades promissoras e suas práticas são muito importantes para a economia das cidades litorâneas.
De portos a esportes, passando por logística, turismo, geração de energia, pesca, dentre outros setores, a economia azul precisa de atenção e se mostra um grande campo de avanço para a tecnologia e para a inovação, fatores promissores para transformar os municípios, otimizando serviços e levando qualidade de vida para o cidadão.