Rua Voluntários da Pátria, em Curitiba, passou por um processo de revitalização.
Beto Marcelino*
Sócio-fundador do iCities, hub de negócios em cidades inteligentes que realiza, desde 2018, o Smart City Expo Curitiba. Também é embaixador da Fira Barcelona no Brasil.
Cidades necessitam reabrir as ruas para as pessoas
29/10/2020 18:51
Estamos em ano de eleições municipais, cenário propício para fomentar debates sobre a transformação necessária das cidades brasileiras, especialmente sob o aspecto da infraestrutura urbana e qualidade de vida.
Em webinar realizado na plataforma iCities Weaver na última semana, esse tema foi abordado com bastante propriedade pelo engenheiro civil Alex Maschio. “Temos que resgatar o uso dos espaços públicos, ruas, praças, pelas pessoas. Isso envolve o resgate da identidade local de cada cidade dentro de suas características. Hoje, toda a infraestrutura urbana é pensada para os veículos automotores, com os outros modais em segundo plano, ou de forma inexistente”, afirmou.
Não é preciso ir muito longe para lembrar do ambiente das cidades com mais qualidade de vida: um exemplo muito simples é o das brincadeiras na rua, na frente de casa, uma possibilidade remota na maioria dos bairros atualmente.
A integração dos vários modais de mobilidade é fundamental, pois naturalmente influencia a convivência entre pedestres, ciclistas e motoristas. Afinal, regiões centrais que investem em calçadas mais largas e zonas calmas costumam ter seus índices de velocidade e acidentes reduzidos consideravelmente.
Além do planejamento viário, não podemos nos esquecer da arborização e iluminação pública, que impactam diretamente em nossa qualidade de vida diária. Andar por uma rua sob a copa de árvores é muito mais agradável do que em uma via toda asfaltada e concretada.
Maschio enfatizou ainda o tripé que leva aos crimes nas grandes cidades, de modo geral: o próprio criminoso em sua disposição para o delito, a suscetibilidade da vítima e a falta de infraestrutura urbana, como iluminação adequada e segurança.
Nos últimos anos, muitas cidades pelo mundo vêm investindo em espaços para pedestres e ciclistas sob a ótica das smart cities. Não somente na Europa, Ásia e Estados Unidos, mas temos bons exemplos na América Latina: México, Chile, Colômbia estão repletos de cases a serem reproduzidos.
Infraestrutura envolve também o uso sustentável do concreto, que reduz o impacto das ilhas de calor nas cidades, pois reflete mais a luz solar do que o asfalto. Los Angeles tem investido nessa estratégia de substituição do asfalto pelo concreto em suas vias mais movimentadas, na chamada Cool Seal. O objetivo da cidade é de reduzir em dois graus Celsius sua temperatura nos próximos 20 anos.
Em Curitiba, temos um exemplo recente de inteligência urbana aplicada na ocupação dos espaços públicos na Rua Voluntários da Pátria. Revitalizada, dando prioridade à circulação de pedestres, é aprovada pelos comerciantes, pois o movimento impacta nas vendas – mais que a circulação de veículos em busca de vagas para estacionar.
O engenheiro civil destacou ainda, nesse webinar, os quatro fatores indispensáveis para garantia de diversidade nas ruas, segundo a ativista e escritora Jane Jacobs: presença de pessoas, quadras curtas (que possibilitam a mudança de paisagens), combinação de imóveis novos e antigos e densidade elevada de pessoas nas ruas.
“Convidar as pessoas a caminhar e pedalar na cidade é um início, mas não basta. O convite deve incluir a opção de sentar-se e passar um tempo na cidade. Atividades de permanência são a chave de uma cidade viva, mas também realmente agradável”, definiu o arquiteto dinamarquês Jan Gehl, no que assinamos embaixo, numa ótica de protagonismo cidadão e soluções práticas de cidades inteligentes que encontra eco em tudo o que o iCities ajuda a propagar.
*Beto Marcelino é sócio fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa de soluções para cidades inteligentes que organiza a edição brasileira do maior evento de cidades inteligentes do mundo, o Smart City Expo Curitiba, entre outras iniciativas de fomento ao ecossistema de smart cities no Brasil.