Caio Castro*
Agricultura inteligente
Brasil tem condições para fomentar as primeiras “Smart Agro Cities”
Vivemos atualmente na Terceira Revolução Verde, impulsionada pela necessidade de aumentar a produtividade, reduzir os custos e impactos ambientais. O incremento dessa eficiência é buscado por meio de tecnologias inovadoras, num panorama que trará ainda mais assertividade ao campo e ampliará a sustentabilidade entre os produtores rurais. Tudo isso passa pelo uso de organismos naturais contra pragas, melhoria de solos e plantas, avanço genético e agricultura de precisão, até os robôs e drones.
Pode parecer estranho relacionar Smart Cities com o agronegócio, mas os meios e incentivos para se expandir e garantir uma agricultura inteligente passam pelas soluções de tecnologia e inovação fomentadas desse ecossistema global. As conexões no campo trazem consigo o potencial revolucionário de uma rede inteligente de sensores, câmeras, drones e outros dispositivos, que geram dados e interagem em um nível sem precedentes de controle e tomada de decisões automatizadas.
Isso fica ainda mais relevante quando falamos sobre o Paraná, maior produtor de proteína animal do Brasil, que representa 22% do total do país e tem no agronegócio o grande alicerce de sua economia. O novo status de área livre de febre aftosa sem vacinação, concedido no final de maio pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), abre fronteiras até então inéditas para o mercado paranaense.
Vantagens do “agro ser tech”
As vantagens trazidas pelos processos englobados na agricultura inteligente são muitas. A maior eficiência na produção agrícola tende a reduzir os custos, contribuindo para melhorar a segurança alimentar da população. Outro ponto favorável está no controle mais seguro de pestes, por exemplo, com redução da quantidade aplicada de agrotóxicos e, consequentemente, mais qualidade e saúde na mesa do consumidor.
O meio ambiente também sai ganhando: a tecnologia contribui para o estabelecimento de metas de sustentabilidade no campo. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), o agronegócio é responsável pelo consumo de 70% da água no país, com um desperdício de 50%. Em um cenário como esse, qualquer economia tem um impacto ambiental significativo, que a agricultura inteligente colabora para amenizar.
Conexões com o campo
O primeiro passo para fazer com que essas tecnologias avancem é investir em infraestruturas em locais remotos. Existem muitas startups com soluções inovadoras, chamando a atenção do mercado das grandes empresas e criando hubs de inovação. Isso tende a desenvolver um ambiente criativo e competitivo, que vai popularizar as ideias para todo o mercado agro.
A criação de linhas de crédito específicas para aplicação da inovação no campo é outro importante ponto de incentivo. Como o agronegócio trabalha com margens menores, o pequeno produtor tem dificuldade de enxergar o ganho a longo prazo.
Outro ponto fundamental é a conexão de qualidade entre os dispositivos, e também a saída do sinal do campo, com a chegada nos locais de processamento e tomadas de decisão: com as redes constituídas, será possível a maior conectividade do campo, de suas máquinas, seus dispositivos e sua gente. A agricultura de precisão terá capilaridade de forma inimaginável.
A partir de dados microclimáticos, condições específicas do solo definidas em tempo real, sistemas inteligentes poderão acionar a irrigação de uma lavoura com a distribuição de água em pontos específicos, na quantidade certa; contribuindo com a economia dos recursos hídricos. Drones poderão identificar manchas de baixa produtividade, por meio de sensoriamento remoto, em curtos períodos de tempo, indicando a necessidade de medidas corretivas, ainda na fase de desenvolvimento da lavoura.
“Smart Agro Cities”
Inúmeras oportunidades nascerão para a pecuária e para a agroindústria no que tange ao aumento de produtividade e à adoção de práticas sustentáveis que apresentem resultados. Ao que tudo indica – e aqui vai uma boa dose de otimismo – em breve teremos não apenas smart cities, mas “Smart Agro Cities”, que vão transformar a relação entre produção, consumo e meio ambiente.
O iCities está envolvido em projetos para as Smart Agrocities, com ações no Paraná e em Goiás. Nossa área de Novos Negócios atua para viabilizar a consolidação das melhores tecnologias disponíveis no mercado global, focando na sensorização, conectividades de primeira e segunda camadas e na gestão inteligente dos recursos disponibilizados. A ideia é aproximar principalmente os pequenos e médios produtores dos diferenciais competitivos que vão possibilitar maior independência e produtividade, com atenção ao valor agregado das soluções.
Em parceria com empresas e institutos que compartilham dessa missão, olhamos para o desenvolvimento nacional, embasados por práticas como a do projeto “Internet of Food & Farm 2020”, da Comissão Europeia, que se baseia na explosão constante e profunda do uso das redes de conexão. Acredita-se que a conectividade do campo permitirá o aumento significativo da produção agrícola, com uso mais adequado dos recursos naturais.
Raríssimos setores possuem valores ESG naturalmente intrínsecos em suas atividades como o agronegócio, um dos setores econômicos mais exigidos, normativamente, quanto à adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança. Com as “Smart Agro Cities”, o agronegócio nacional – o mais sustentável do mundo – terá finalmente a oportunidade de aprofundar suas práticas ambientais e, especialmente, será capaz de apresentar os seus resultados ao mundo, por meio da coleta de dados em tempo real.
*Caio Castro é sócio-diretor e diretor de relacionamento com mercado do iCities, empresa pioneira no Brasil, hub especializado em projetos e soluções para cidades inteligentes, que realiza desde 2018 realiza o Smart City Expo Curitiba, edição brasileira do maior evento de smart cities do mundo, chancelado pela Fira Barcelona.