João Kepler
João Kepler é escritor, educador, anjo-investidor, conferencista, apresentador do programa PIVOTANDO no SBT News. É autor de 11 livros, especialista em nova economia, equity, startups e negócios inovadores. Foi premiado quatro vezes como o Melhor Investidor Anjo do Brasil pelo Startup Awards. Também foi premiado pelo iBest como Top #1 do Brasil em Economia e Negócios. Kepler ainda é CVO da Bossa Invest - Venture Capital e CEO da Equity Fund - Private Equity.
Carta aberta aos investidores
Hora é de buscar o breakeven nas startups
- Não ter liquidez, no curto prazo, NÃO é um problema no investimento em Startup;
- Taxa de JUROS ou taxa SELIC é uma coisa, IRR é outra;
- Investimento alternativo deve ser feito apenas com uma pequena parcela do seu patrimônio;
- Dificilmente você terá algum retorno do seu investimento antes de três anos.
- Do lado dos investidores, o status é de cautela, mas o foco deve ser no fato de que ainda existe liquidez no mercado e muitos fundos estão captados, que agora toma uma postura de maior diligência para realização de seus deals e, provavelmente, veremos menos casos de múltiplos esticados e valuations surreais.
- Como reforcei ainda acima, o horizonte de investimento em Venture Capital é de longo prazo. E bons aportes que agora conseguem ser realizados em valuations mais ajustados e com um racional adequado, visando pelo menos três anos para qualquer evento de liquidez, irá refletir em um contexto em que provavelmente já teremos o mercado em um cenário mais otimista. Ou seja, aqueles que agora estão com caixa para investir, possuem a oportunidade de obter os melhores retornos.
- O comportamento dos grandes fundos (estágios série A em diante) devem mudar para menos deals em Startups com operações muito mais saudáveis e rentáveis. A tendência é que o ticket médio dos aportes também diminua.
- Investir em Startups é investir em EQUITY, em empresas de capital fechado, que não depende de oscilações, volatilidade e especulações. Depende unicamente do crescimento do negócio e seus próprios resultados.
- Investir em STARTUPS é diferente de investir em Renda Fixa. Quando você Investe em Startups é seu dinheiro aportado em GENTE, em Capital Produtivo, para gerar renda, trabalho, impostos e desenvolvimento econômico, porém sem nenhuma garantia ou liquidez. Já investir em Renda Fixa, no Tesouro Direto, por exemplo, é seu dinheiro comprando um título do governo para financiar as dívidas públicas. No caso do título CDB, é emitido por bancos para captar recursos, com garantias e com seu dinheiro rendendo taxas fixas. Na prática, é seu dinheiro parado e improdutivo, sem esforço, como se você emprestasse com garantias para o Governo ou para o banco. Eu prefiro investir em ativo que dependem UNICAMENTE do esforço PRODUTIVO para crescer e não do ESPECULATIVO ou com base na volatilidade de fatores externos. Pra mim, este é o segredo para quem já compreendeu o Jogo do EQUITY.
- Para aqueles focados em investir para gerar ganhos e lucro rápido, Startup não deveria ser seu investimento.
- As startups em estágio inicial (Anjo, pré-seed e Seed) estão unicamente posicionadas para desenvolver um negócio sustentável desde o princípio, fazer mais com menos caixa e com respeito ao combinado com o investidor, essas sim podem multiplicar seu valor investido no médio/longo prazo.
- Do outro lado – das Startups, agora é a hora de buscar incentivar para que as investidas também se empenhem no seu “dever de casa”. Buscar o breakeven, segurar caixa para voltar a investir num próximo ciclo de crescimento, perceber que podem não alcançar o planejado e, certamente, boa parte das startups que precisarão de novas injeções de capital podem ser forçadas a encarar um down round, ou seja, aceitar um valuation menor do que a rodada anterior.
- Os investidores em Startups querem saber quem está realmente focado em construir negócios que resolvem problemas reais e geram valor. E isso nunca vai mudar. Desde que o mercado existe passa por ajustes que são naturais e consequências de movimentos e aceitação de quem o compõe.
- E, por fim, como alertou Pierre Schurmann sobre o assunto. Como consequência dos últimos acontecimentos, é bem provável que haja uma seleção natural dos empreendedores e um pouco de volta às origens do ecossistema de startups. O impulso historicamente era de mudar o mundo, buscar a disrupção. E para nós, isso confere um certo alívio, porque esses ajustes vão separar o joio do trigo.