Rucelmar Reis
Rucelmar Reis é empreendedor, com vasta experiência em tecnologia e negócios digitais. Fundador e sócio de diversas empresas, atua como mentor e conselheiro de startups. Formado em ESADE Barcelona e MIT, une visão estratégica e prática no desenvolvimento de negócios.
Na Veia
Web Summit Lisboa: Muito Mais Sobre Validação do que Sobre Revelação
Terminando o segundo dia de apresentações, já dá para opinar melhor sobre o que estamos vendo. O Web Summit 2025, com seus mais de 70 mil participantes, é o maior palco global de inovação. Mas, ao caminhar pelos corredores do Parque das Nações, a sensação é clara: o evento é muito mais sobre validação do que sobre revelação.
Não houve até agora nenhum "iPhone moment", nenhum anúncio que deixasse todos extasiados.
A frustração é real: a sensação de "muito do mesmo" é inevitável. Frases e discursos de como a IA vai revolucionar nosso trabalho e nossa vida, já não surpreendem ninguém. Mas é aí que reside a grande incongruência da aceleração.
O problema não é que não haja novidade. O problema é que a novidade se tornou a nossa nova normalidade.
A transformação é tão gigante e tão rápida que a mudança constante nos rouba a sensação de disrupção. O Web Summit não é um evento de revelação; é um espelho que reflete a velocidade vertiginosa do futuro que já está operando.
A Tese Validada: O Futuro Já Começou
Se os palcos foram para influencers e keynotes "seguras" (Sharapova, Khaby Lame), o que realmente valeu o bilhete foi a conversa de corredor. É lá que o futuro está sendo fechado, longe dos holofotes, e a tese da validação se confirma.
A multidão que se movimenta por todo o espaço, se assemelha a um garimpo, onde cada um quer achar a sua pepita de ouro, e crê firmemente que ele será o único a achá-la. Quem sabe aquela startup com uma ideia sensacional que você pode investir, ou aquele país que traz uma novidade desconhecida. No entanto, por ora, o sentimento é um pouco de decepção, por ver muita coisa do mesmo.
Mas, tem 3 aprendizados importantes, que já podemos ficar de olho:
1. O Novo Gargalo Não É o Chip. É o Megawatt.
A IA exige um "novo petróleo" – hardware eficiente e data centers sustentáveis. O trending topic técnico que domina os bastidores é a energia.
A confissão de um CTO de uma big tech nos side events é um alerta: "O maior bottleneck para treinar o nosso próximo modelo não é GPU, é megawatts". A sustentabilidade não é mais uma pauta ética; é uma restrição de engenharia. A próxima onda de inovação será liderada por quem resolver o problema da energia limpa e abundante.
2. O Fim da Opacidade e a Ascensão do Open-Source
O Web Summit reforçou o alerta: a dominância tech ocidental está em declínio. O CEO do evento, Paddy Cosgrave, destacou a potência da China em IA e robótica e o Brasil como "disruptor nos pagamentos" (Pix), inclusive dizendo que a Europa deveria se inspirar em nossa tecnologia de pagamentos.
Simultaneamente, o Open-Source está ganhando a guerra corporativa. Empresas estão migrando de modelos proprietários (GPT-4o) para soluções abertas (Llama + fine-tune interno) por dois motivos significativos: custo e privacidade. A opacidade algorítmica está se tornando um luxo insustentável. Qualquer um que tenha a missão de desenvolver a IA em sua empresa, precisa olhar isso com atenção.
3. A Execução Implacável é a Nova Inovação
Esta sensação de "muito do mesmo" que falei, é o preço que pagamos por vivermos na era da IA Agentic – agentes autônomos que executam workflows complexos. A mudança é tão fragmentada e contínua que não há mais um único "momento iPhone" para celebrar.
Aí, fico me perguntando: Será que o sucesso agora não está mais na invenção, mas na execução implacável do que já foi validado? Será só isso? A IA é que vai por si só dar os passos inventivos?
O futuro apresentado está previsível demais, e disponível a tanta gente que custo a acreditar que será dessa forma. Ainda não aceitei que não teremos nenhum marco ou ápice maior que defina outros caminhos.
No fim, o Web Summit 2025 ainda não revelou o futuro. Ele apenas o está confirmando.
