O Smart City Expo World Congress (SCEWC) em Barcelona, com seus mais de 27 mil participantes de 143 países, não foi apenas um evento; foi um marco de maturidade para o conceito de cidade inteligente.
O que mais marcou esta edição foi a capacidade que a inteligência artificial trará na forma como as cidades serão administradas.
Destaques técnicos: a cidade operada por algoritmos
A SCEWC deixou claro que a IA não é mais uma promessa, mas o catalisador que opera a cidade.
IA-Enabled Cities: O foco mudou de "aplicativos" para agentes autônomos que operam mobilidade, energia e resíduos. A IA acelera soluções urbanas, como o gerenciamento de tráfego e a eficiência energética, buscando maior equidade e responsividade nos serviços públicos.
Gêmeos Digitais Urbanos: A tecnologia que permite a previsão multimodal (clima, tráfego, enchentes) em tempo quase real. O Gêmeo Digital não apenas simula; ele permite que a cidade seja gerida de forma preditiva, otimizando o uso de recursos e a alocação de serviços.
Mobilidade e Energia: A ênfase técnica foi na descarbonização, com destaque para a meta de 70-80% de veículos elétricos e soluções de economia azul e transição energética.
Quando a cidade inteligente esquece o básico
Percebi um contraste relevante durante os dias do evento.
A Smart City Expo World Congress (SCEWC) celebra as cidades que já são inteligentes – Barcelona, Roma, Curitiba. Mas o que acontece quando confrontamos essa realidade com lugares que ainda lutam pelo básico?
A COP30 em Belém do Pará é o contraponto perfeito.
Enquanto Barcelona discute opacidade algorítmica e transparência dos gêmeos digitais, Belém, a capital que sedia o maior evento climático do mundo, ainda enfrenta um déficit estrutural de saneamento básico. O Pará tem apenas 5,8% de cobertura de esgoto – um número que fala por si.
Esse contraste revela algo essencial:
Uma cidade inteligente não é aquela que tem mais sensores, mas a que entende melhor o cidadão.
A IA que otimiza o trânsito em Roma é um avanço admirável, mas de pouco serve a quem ainda pisa em lama para ir ao trabalho. Assim como celebramos as cidades mais evoluídas, deveríamos também cobrar das demais o mínimo de dignidade urbana.
De nada adianta termos as melhores tecnologias disponíveis se os gestores públicos não conseguem aplicá-las para resolver os problemas reais das pessoas. A tecnologia só é verdadeiramente inteligente quando atua onde a cidade é desprovida. E muitas vezes, é desprovida do básico.
Me parece que falta, tanto na SCEWC quanto na COP30, esse debate honesto sobre soluções simples, baratas e de fácil implementação, capazes de transformar o cotidiano de quem mais precisa.
Próximas paradas: Bratislava e Viena.
Fui convidado a conhecer Bratislava e Viena, cidades que consistentemente lideram rankings de qualidade de vida. Deixamos o palco da tecnologia de ponta para entrar no palco da qualidade de vida e da cultura. Esse me parece um caminho mais sólido e testado.
O que espero ver lá?
Em Barcelona, vimos a evolução das cidades. Em Viena e Bratislava, quero ver a evolução dos cidadãos. Quero entender como a tecnologia se integra a uma sociedade que já prioriza o bem-estar, a arte e a história. Essas cidades, com sua excelência em transporte público, segurança e cultura, servem de exemplo para o mundo: a tecnologia deve ser invisível, mas seu impacto na vida do cidadão, precisa ser inegável.
A resposta que coloquei na bagagem, saindo de Barcelona: uma cidade inteligente começa por atender bem o básico e não necessariamente ter toda a tecnologia do mundo.