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Nos próximos cinco anos, a China dará passos largos para a produção doméstica de microchips.

Andre Inohara

Andre Inohara é cofundador e CEO da Inovasia, consultoria de educação executiva que ajuda empresas brasileiras a se conectar aos modelos mais disruptivos de negócios na Ásia. Antes de criar a Inovasia, André atuou como assessor de comunicação na Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, e ajudou a criar o conteúdo multiplataforma da entidade. É jornalista e administrador, com MBA em Informações Financeiras pela FIA (Fundação Instituto de Administração) e pós-graduação em Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Microchip

A caminho da autossuficiência, China deve triplicar produção doméstica de chips

15/04/2021 19:19
O que seria da vida moderna sem o microchip? Essas
minúsculas placas eletrônicas que fazem funcionar todo tipo de celular,
notebook, carros e outros aparelhos eletrônicos são as grandes viabilizadoras do
estilo de vida atual das pessoas. Sem chips, não dá para conversar com pessoas
do outro lado do mundo, comprar coisas com um clique no celular e, futuramente,
viajar de carro para qualquer lugar sem ter que encostar na direção.
Tanto é que os chineses correm para desenvolver seus
próprios semicondutores e não depender dos americanos, os líderes mundiais da
tecnologia que já deixaram bem claro que farão de tudo para continuar reinando
sozinhos nesse campo. A autossuficiência em chips críticos é prioridade na
China, conforme declarado no 14º plano quinquenal de desenvolvimento anunciado
em outubro do ano passado para o período de 2021 a 2025.
O planejamento de Estado prevê investimentos anuais de cerca
de 7% do PIB em tecnologias avançadas, como chips de última geração a
inteligência artificial (AI) e computação quântica. O objetivo de Pequim é que
até 2025 o país produza 70% dos chips que tanto necessita.
A estimativa do governo central dificilmente será alcançada,
de acordo com a consultoria IC Insights. Hoje, a China compra 70% dos chips mundiais,
mas somente 6% desse volume é abastecido pela indústria local.
Mesmo com todo o esforço público e privado no desenvolvimento da indústria de semicondutores, a consultoria estima que a China deve atingir uma produção interna de 20% até o final do 14º plano de metas. É um dado muito abaixo do objetivo de Pequim, mas que, mesmo assim, seria um impressionante desenvolvimento exponencial (mais de três vezes a produção doméstica atual), se confirmada a projeção da IC Insights.
Independente disso, já existe uma grande mobilização por
semicondutores na China. No ano passado, fundos públicos e privados chineses
investiram US$ 35,6 bilhões em startups e grandes empresas domésticas de
semicondutores. Isso representa um aumento de cinco vezes (407%) o volume de
investimentos de 2019. Um ritmo que vai continuar aquecido neste e nos próximos
anos.
O desafio é do tamanho da ambição chinesa. Para produzir
mais e melhores chips, a China precisa de duas coisas: a primeira é criar uma
cadeia produtiva completa de semicondutores, a exemplo da vizinha Taiwan. Apesar
de a China estar algumas gerações atrasadas em relação ao país, o progresso tem
sido rápido.
Empresas como a startup Changxin Memory Technology começaram
a produzir em massa o seu primeiro chip de memória dinâmica de acesso aleatório
(DRAM) - um componente de alto desempenho e mais barato usado na memória
principal de computadores e placas de vídeo. Outra startup de destaque é a HiSilicon,
filial de design de chips da Huawei, que apareceu entre os 10 maiores
fornecedores mundiais de semicondutores pela primeira vez em agosto.
O segundo e mais crítico ponto é desenvolver cérebros qualificados. Segundo a Associação da Indústria de Semicondutores da China, para que o país consiga se transformar em uma fabricante de semicondutores de classe mundial, vai precisar formar ou atrair pelo menos 300 mil especialistas em produção, design de chips e outras especialidades.
Mesmo que a China não atinja totalmente o seu objetivo de
autossuficiência nos próximos anos, vai dar passos importantes para tanto. À
medida que o país diminuir sua dependência de chips estrangeiros, vai mudar a dinâmica
do mercado de semicondutores mundial. Quando a China ganhar volume, vai começar
a exportar componentes e aumentar ainda mais a sua influência no mercado
tecnológico mundial.
O gigante asiático superou os EUA em muitos segmentos, mas
ainda está atrás quando o assunto é processamento de dados e precisa
desesperadamente dos chips que fazem suas torres de telefonia 5G funcionarem,
assim como nos projetos de inteligência artificial e carros autônomos, por
exemplo.
A sanção americana à transferência de chips para o mercado
chinês atingiu em cheio a Huawei. Foi o caso mais emblemático da tensão
comercial entre os dois países. Sem receber os componentes americanos, a Huawei
não conseguiu produzir novos celulares e perdeu a liderança mundial do mercado.
Diante da urgência, o plano quinquenal reafirma a meta da China de se tornar uma nação produtora de semicondutores. É um passo crucial para o objetivo de construir aeronaves, dispositivos de robótica e veículos movidos a novas energias.