Thumbnail

Moeda digital da China será adotada em todo o país a partir de 2022

Andre Inohara

Andre Inohara é cofundador e CEO da Inovasia, consultoria de educação executiva que ajuda empresas brasileiras a se conectar aos modelos mais disruptivos de negócios na Ásia. Antes de criar a Inovasia, André atuou como assessor de comunicação na Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, e ajudou a criar o conteúdo multiplataforma da entidade. É jornalista e administrador, com MBA em Informações Financeiras pela FIA (Fundação Instituto de Administração) e pós-graduação em Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

e-RMB

Moeda digital da China vai facilitar acesso de estrangeiros ao seu mercado

23/07/2021 12:00
Por enquanto, são poucos os comércios chineses que recebem pagamentos em e-RMB, a nova moeda soberana digital da China. Desde 2019, o e-RMB (ou renminbi digital) está sendo testado em metrópoles como Pequim, Xangai, Shenzhen, Chengdu e Suzhou. Os resultados excelentes do programa credenciam o e-RMB a ser adotado oficialmente em toda a China a partir de 2022, garante o Banco do Povo da China (banco central). O impacto será sentido não só na China, mas no mundo todo.
Até 30 de junho, o banco central chinês revelou que o total de transações com o e-CNY atingiu 34,5 bilhões de renminbi (RMB). Segundo a autoridade monetária, o e-RMB é testado em 1,3 milhão de pontos e usado em quase 21 milhões de carteiras pessoais digitais e em mais de 3,5 milhões de carteiras corporativas, somando 70,7 milhões de transações. Só para ilustrar o que isso representa, o montante convertido em real é de R$ 27,8 bilhões. É um pouco acima do lucro líquido que a Vale, empresa mais valiosa da América Latina, produziu em 2020: R$ 26,7 bilhões.
Durante a fase piloto, o governo local distribui pequenas quantidades de e-RMB por meio de uma loteria. Para usar o dinheiro eletrônico, os sorteados baixam o aplicativo de e-RMB ou retiram um cartão magnético específico. Para quem prefere o celular, o e-RMB funciona sem internet. É possível transferir valores apenas encostando um celular no outro.
Por sua vez, os usuários recebem cerca de 200 RMB em moeda digital para gastar em comércios credenciados. Já os funcionários públicos recebem parte do pagamento em e-RMB para comprar comida, pagar serviços públicos e obrigações legais. Na outra ponta, todos os grandes e-commerces, como Alibaba, JD.com e Pinduoduo, recebem compras com o renminbi digital. Até mesmo turistas estrangeiros de curto prazo conseguem abrir uma carteira de renminbi digital para transações diárias, sem precisar abrir conta bancária na China.

e-RMB x Pagamentos digitais

A grande diferença do e-RMB para os pagamentos digitais dos e-commerces e bandeiras de pagamento é que ele não cobra taxa de serviço, funcionando como um pagamento à vista. Segundo o banco central chinês, a nova moeda veio para dar mais eficiência ao sistema bancário, reduzir custos e facilitar o combate ao cibercrime.
Uma motivação não admitida é controlar a influência do setor privado sobre os pagamentos digitais. Na China, as transações digitais estão concentradas nos grandes e-commerces. Além de dominar o varejo, essas companhias faturam alto com a intermediação financeira. Uma movimentação que não é bem-vista pelas autoridades centrais.
Sempre é bom lembrar que o e-RMB não é uma criptomoeda nem uma stablecoin. Isso porque o e-CNY tem emissão centralizada e lastreada pelo banco central, ao contrário das criptomoedas. Também não é uma moeda digital atrelada a um ativo, como o dólar ou o ouro, a exemplo da stablecoin. O e-RMB vale tanto quanto uma nota de renminbi justamente porque é controlada pelo BC local.

Influência transfronteiriça

Até aqui, o e-RMB vem sendo testado para uso doméstico na China. Mas o banco central chinês não descarta a aplicação do renminbi digital em pagamentos cross border (transfronteiriços). “Olhando para o futuro, o PBOC (sigla em inglês do banco central da China) responderá ativamente às iniciativas do G20 e de outras organizações internacionais para melhorar os pagamentos cross border e explorará a aplicabilidade da moeda digital do Banco Central em cenários transfronteiriços", assinala a autoridade.
Via e-RMB, a moeda chinesa que circularia em outros países seria uma alternativa ao sistema internacional de pagamentos dominado pelo dólar americano. O dinheiro chinês também seria uma opção funcional ao sistema de compensações financeiras em dólares, o que vai minimizar o impacto de eventuais sanções americanas em países sob esfera de influência chinesa.
As vantagens são grandes para a China. Além de reduzir o risco de interferência estrangeira nos negócios, o e-RMB vai facilitar o acesso de estrangeiros à sua moeda, bem como a integração nas operações cambiais internacionais.
Não vai ser uma tarefa fácil, naturalmente. Será preciso vencer resistências e demonstrar a confiabilidade do e-RMB. No entanto, a China é o país mais bem posicionado para desafiar a sistema atual: tem poder econômico, industrial e comercial para tanto.