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China reduz ritmo de unicórnios

Andre Inohara

Andre Inohara é cofundador e CEO da Inovasia, consultoria de educação executiva que ajuda empresas brasileiras a se conectar aos modelos mais disruptivos de negócios na Ásia. Antes de criar a Inovasia, André atuou como assessor de comunicação na Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, e ajudou a criar o conteúdo multiplataforma da entidade. É jornalista e administrador, com MBA em Informações Financeiras pela FIA (Fundação Instituto de Administração) e pós-graduação em Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Unicórnios chineses

Com pausa de investidores, China reduz ritmo de unicórnios

27/08/2021 12:00
Segundo país do mundo com mais unicórnios (empresas que atingem US$ 1 bilhão em valor de mercado sem abrir o capital), a China gestou poucas empresas bilionárias esse ano. De acordo com a CBInsights, casa de análise e inteligência de negócios, até junho apenas três empresas chinesas alcançaram o status de unicórnio em 2021. Os novos unicórnios chineses são a Star Charge, de baterias elétricas, a edtech Yunxuetang e a plataforma de negociações WeBull.
É uma queda brusca, se comparada aos números do ano passado, quando 14 empresas chinesas entraram para o clube dos unicórnios, e de 2019, com 22 empresas bilionárias. Ainda assim, a China continua na vice-liderança de países com mais unicórnios, segundo a CBInsights: são 158, perdendo apenas para os EUA, com 402.
O volume de unicórnios chineses é apenas um quinto do que a Índia produziu no período, 15 empresas bilionárias. Segundo a CBInsights, a Índia é a terceira colocada, com 40 unicórnios e o Brasil aparece em sétimo, com 13. A desaceleração de unicórnios na China é chamativa, mas os motivos estão mais relacionados à pausa que os fundos de investimento e de VC (venture capital) – que são os grandes responsáveis pela capitalização dessas empresas – estão fazendo no mercado chinês, do que por perda de vigor criativo.
A migração dos fundos de VC para outros destinos já tem sido percebida. Em julho, a Índia recebeu 51,3 bilhões de renminbi (RMB), ou US$ 7,9 bilhões em recursos de VC. O montante superou o volume de investimentos na China pela primeira vez desde 2013, de acordo com o instituto de pesquisa Preqin. No mesmo mês, os investimentos de VC em solo chinês foram de US$ 4,8 bilhões.
Os investidores garantem que, assim que autoridades regulatórias consolidarem o arcabouço de regras de mercado, voltarão a investir. No dia 10 de agosto, o fundo japonês SoftBank comunicou que interromperia novos aportes no mercado chinês até que "a situação fique mais clara". O Softbank é um peso-pesado que tem participações relevantes na Bytedance (TikTok), Didi Chuxing (controladora da 99), a edtech Zuoyebang e a plataforma imobiliária Beike, para citar apenas algumas empresas.

Mudança de cenário na China

Até o final de 2020, as empresas chinesas de tecnologia atuavam em um ambiente mais permissivo em termos de privacidade e regras antitruste, cenário do qual os investidores projetavam seus aportes. Em paralelo, havia muitas reclamações dos clientes sobre o comportamento das empresas.
Foi aí que as autoridades decidiram reforçar as regulamentações sobre práticas antitruste, proteção à privacidade, segurança de dados e listagens no exterior. Em especial a criação de regras sobre segurança de dados e IPOs no exterior, que vão atingir com mais intensidade os fundos de VC no exterior.
Ou seja, as autoridades exigem que empresas chinesas ou estrangeiras que controlam dados de mais de 1 milhão de usuários na China obtenham permissão do governo antes de realizar IPOs no exterior.
O objetivo do governo central é reprimir o armazenamento e coleta indiscriminada de dados dos usuários, além de evitar que sejam acessados por companhias do exterior. Na prática, é uma medida dura para empresas chinesas que queiram listar suas ações nas bolsas americanas – onde estão as principais fontes de capitalização do mundo.

Ajuste de rota

A nova regra de segurança de dados da China vai restringir a atuação dos fundos internacionais, mas nem de longe significa que eles desistiram do lucrativo mercado chinês. A regulamentação, por exemplo, não inclui as saídas de recursos via Hong Kong, que deve ganhar atratividade como ponto intermediário entre a China e os EUA.
Em menor ritmo, o próprio SoftBank continua investindo em empresas chinesas, como a startup de veículos autônomos Neolix. Em agosto, a startup declarou ter recebido "centenas de milhões de RMB" em uma rodada de financiamento liderada pelo SoftBank Ventures Asia.
O que está acontecendo no mercado chinês é um movimento de cautela e ajuste de projeções. A China ainda é um país extremamente inovador e ávido por capital e os investidores não desistiram desse mercado. Eles apenas estão esperando a estabilização do ambiente regulatório para dar sequência aos aportes.