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Andre Inohara

Andre Inohara é cofundador e CEO da Inovasia, consultoria de educação executiva que ajuda empresas brasileiras a se conectar aos modelos mais disruptivos de negócios na Ásia. Antes de criar a Inovasia, André atuou como assessor de comunicação na Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, e ajudou a criar o conteúdo multiplataforma da entidade. É jornalista e administrador, com MBA em Informações Financeiras pela FIA (Fundação Instituto de Administração) e pós-graduação em Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Controladora da 99 no Brasil

China aperta o cerco antimonopólio contra Alibaba, Tencent e Didi Chuxing

30/12/2020 17:50
Principal app de caronas pagas da China, a Didi Chuxing se
tornou líder de mercado em 2016, quando adquiriu a operação chinesa do Uber em
uma controversa operação. No Brasil ela é mais conhecida por ter adquirido a 99
em 2018. A operação brasileira vai de vento em popa, mas na China a fusão da
Didi com o Uber não foi aprovada até hoje pela SAMR, sigla em inglês para
Administração Estatal de Regulação de Mercado, que vem a ser o principal órgão
regulador antitruste da China.
Na prática, há uma chance real de a operação ter que ser
revertida por não ter sido cumprida as exigências de mercado, com consequências
ainda não mapeadas para as operações internacionais da Didi. De qualquer forma,
chama atenção a forte atuação das autoridades antitruste chinesas nas últimas
semanas. Tudo começou em outubro, com as declarações de Jack Ma, o icônico
multibilionário chinês que fundou o Alibaba e a Ant Financial (a fintech que
tem valor de mercado superior ao de Itaú e Bradesco juntos), sobre reformas no
sistema financeiro.
Durante uma reunião com autoridades públicas de alto escalão
semanas antes do IPO da Ant Financial – que aconteceria em novembro –, Ma criou
polêmica ao discursar duramente contra o sistema regulatório e pedir por
reformas que estimulassem a inovação e redução da burocracia. Foi o bastante
para irritar profundamente as autoridades e desencadear uma clara mudança de
atitude em relação à Ant Financial e Alibaba, como também às demais big techs
chinesas.
O que se viu em seguida foi uma enxurrada de fiscalizações e
questionamentos das autoridades sobre a governança do império de Ma. O
levantamento de exigências para a regularização foi intensa e provocou o
adiamento da operação por tempo indefinido. Obediente, a Ant Financial já
declarou que cumprirá todas as exigências públicas necessárias para dar mais
transparência às operações.
Antes da fatídica reunião com o governo, a abertura de capital da Ant vinha sendo especulada como a maior da história. Havia a expectativa do mercado de que Ma e os investidores embolsariam US$ 37 bilhões na operação.
O estrago, no entanto, já estava feito. As declarações de Ma
por reformas no sistema financeiro em prol de mais autonomia e inovação das
empresas desencadearam uma ampla e rígida fiscalização das autoridades sobre o
Alibaba e outras big techs chinesas.
Na segunda quinzena de dezembro, a SAMR multou o Alibaba,
empresas afiliadas da Tencent (controladora do principal app de mensagens da
China, o WeChat) e a gigante de logística SF Express por práticas
anticoncorrenciais.
Esses foram apenas alguns exemplos da mudança de atitude de Pequim em relação aos seus gigantes
da tecnologia e vêm na sequência da onda antitruste global que os reguladores
dos Estados Unidos e União Europeia iniciaram meses antes, com o objetivo de
avaliar a atuação de outros titãs, como Google e Facebook, nos respectivos
mercados.
Juntando esse
fundo de cena com a intensidade com que o governo reagiu ao discurso
liberalizante de Ma, não se pode dizer que a guinada é surpreendente. O governo
já vinha monitorando a atuação das empresas e alertando em relação a práticas de
concentração de mercado e participação nos meios de pagamento, como é o caso da
Ant Financial (que administra os serviços financeiros do Alibaba) e a Tencent.
É bem provável
que o caso Ma tenha sido usado como justificativa perfeita para intervir nas
empresas de tecnologia e desestimular práticas de concentração de mercado, a
exemplo do que está sendo feito no Ocidente.
Para analistas de mercado, as perspectivas de regulação
antitruste serão moderadas. Liu Zejing, da corretora Huaxi Securities, escreveu
um relatório afirmando que o governo não tem como objetivo reprimir a indústria
da internet, mas fazer o "movimento inevitável" de conter um
potencial comportamento monopolista.
Jin Xiangyi, da Huachuang Securities, disse que os gigantes
da tecnologia vão se submeter à lei antitruste da China, o que é um evento benéfico
e direcionar o retorno delas à inovação tecnológica. No entanto, alguns
excessos, como a polêmica operação de fusão entre a Didi Chuxing o Uber, que ainda
está sob avaliação da SAMR.
Desde o episódio com as autoridades chinesas, Jack Ma vem cultivando o silêncio, qualidade enaltecida pelo filósofo Confúcio em de seus provérbios e que, aparentemente, não foi seguida pelo empresário. O conterrâneo de Ma ensina que “o silêncio é um amigo que nunca trai”. Quanto a Ma, sua imagem de invencibilidade foi arranhada no mercado e ele já foi comunicado pelas autoridades de que a supervisão financeira de seus negócios vai aumentar. E que deve considerar aumentar a governança corporativa de suas empresas. Além do ditado de Confúcio, fica para ele também uma valiosa recomendação contida em um provérbio bem brasileiro: “não se cutuca uma onça (ou dragão) com vara curta