Enrico Milani, CEO da Vapza, transformou uma decisão ousada de mudança de carreira em uma jornada de liderança à frente da empresa paranaense que revolucionou o mercado alimentício brasileiro. Ele, que participou do encontro MEX em abril, revela nesta entrevista exclusiva, que é possível competir com gigantes do setor mantendo valores locais e visão global.
Sua jornada começou na engenharia civil e teve uma guinada para a produção. O que essa mudança revelou sobre você mesmo?
Enrico Milani: Eu achava que seguiria o caminho tradicional da engenharia, como meu pai. Mas quando entrei na linha de produção, vi que meu olhar era outro. O que me encantava não eram os cálculos, mas o impacto real. Foi ao lidar com processos e pessoas que percebi meu papel: transformar o simples em algo extraordinário. Aprendi que meu papel era menos sobre construir estruturas e mais sobre facilitar conexões com o time, com o consumidor, com o propósito. Isso moldou minha liderança: prática, empática e inquieta.
A Vapza nasceu valorizando batatas que o mercado descartava. Como essa origem continua viva na empresa?
Essa origem molda nossa essência até hoje. A Vapza nasceu para levar valor onde ninguém via, nas batatas pequenas que o mercado descartava. A ideia era simples, mas poderosa: transformar o que seria perdido em alimento de qualidade e com praticidade. Esse olhar segue com a gente em tudo o que fazemos: transformar, simplificar e entregar soluções reais. A praticidade virou um pilar. Pensamos em quem está na cozinha de um restaurante com pressa, e em quem chega cansado em casa e quer comer bem. Não vendemos só alimentos. Entregamos tempo, conveniência e confiança — e isso faz toda a diferença.
A Vapza eliminou o envio de resíduos para o aterro . Como essa conquista se conecta com a Certificação B?
Nos desafiamos a zerar os resíduos e conseguimos. Esse passo mostrou que impacto positivo exige ação concreta. A virada de chave foi perceber que não bastava ser sustentável no discurso. A prática nos exigia mais. A Certificação B veio como consequência natural: um selo que valida um jeito de pensar o negócio, colocando impacto positivo no centro. É um compromisso com o planeta, mas também com as próximas gerações.
E como é competir com gigantes sendo uma empresa 100% paranaense?
É desafiador, sem dúvida. Mas também é uma vantagem. É uma jornada intensa, mas muito gratificante. Estar mais próximo dos nossos clientes, ter liberdade para inovar e decidir rápido são vantagens que só uma empresa como a nossa tem. Trabalhamos com verdade, coragem e uma identidade que nos diferencia. Queremos ser os mais relevantes para quem acredita na nossa proposta.
Mais da metade dos cargos de liderança da Vapza são ocupados por mulheres. Como isso impacta a cultura da empresa?
Isso aconteceu naturalmente. Buscamos competência, comprometimento e encontramos isso em muitas mulheres. Ter diferentes perspectivas na liderança só enriquece. Decisões mais equilibradas, ambiente mais acolhedor e uma cultura mais humana. Na Vapza, diversidade é reflexo de escolhas justas, não de metas impostas.
Você lidera uma empresa em expansão, exporta para 14 países e ainda fala de equilíbrio. Como faz isso caber na sua rotina?
Eu aprendi a importância de ter uma liderança presente. Seja em uma reunião estratégica ou em em casa com meus filhos. Não é sobre ter tempo, é sobre estar inteiro em cada momento. Faço exercícios, reservo momentos para estar com minha família e já aprendi a confiar no meu time. Quando a gente constrói uma empresa com propósito, ela também sustenta quem a lidera.
E qual foi o erro mais valioso na jornada de inovação da Vapza?
A linha de orgânicos foi um desses momentos. Tínhamos uma proposta incrível, produto pronto, comunicação alinhada… mas subestimamos um elo essencial: a cadeia de fornecedores. Não conseguimos atender à demanda e tivemos que dar um passo atrás. Foi duro, mas nos ensinou muito. Inovar exige consistência em toda a jornada — da ideia ao campo, da logística à entrega final. Hoje, cada inovação nasce mais integrada, mais madura.
Que conselho você daria a quem quer empreender?
Não comece pelo produto, comece pelo “porquê”. Encontre uma dor real e uma razão forte para enfrentá-la. O caminho vai ser desafiador, muitas vezes solitário. Mas, com propósito, ele vira bússola. E lembre-se: propósito não se cria, se encontra. Quando ele aparece, tudo faz mais sentido.
Por fim, quando olha para trás e para frente, o que espera que seja o legado da Vapza?
Mesmo com 30 anos, a Vapza ainda é um alimento do futuro. Somos uma evolução da conserva tradicional — com mais tecnologia, mais saúde e mais propósito. Se daqui a 30 anos disserem que a gente ajudou a mudar a forma como o Brasil se alimenta — com mais consciência, mais praticidade e menos desperdício — esse já será um legado e tanto. Porque mais do que produtos, queremos deixar uma nova maneira de pensar o alimento — e o impacto positivo que ele pode gerar no mundo.