Ao adotar uma abordagem humanizada, os líderes criam um ambiente de trabalho que promove a colaboração e contribui para o sucesso coletivo da equipe. Crédito: jd8/Bigstock.
Antonella Satyro
Antonella Satyro é CEO e founder do Human Skills Manifesto. Atuou por 13 anos na maior multinacional de petróleo do mundo, a ExxonMobil, nas áreas de liderança global e inovação, gerenciando times ágeis de tecnologia no Brasil, EUA e Índia. Atualmente, é executiva à frente do Human Skills Manifesto, uma edtech que capacita profissionais e líderes para a Nova Era. Também é angel investor, conselheira e board member em startups, assim como atua mentorando CEOs e, principalmente, lideranças femininas nas maiores aceleradoras do Brasil, Portugal e Israel. É palestrante internacional e TEDx Speaker. Autora do livro "Todas as Emoções deste Mundo" e do livro “Líderes que Curam”.
Transformando o jogo: como a liderança humanizada impulsiona 4.81 vezes os resultados de uma organização
27/09/2024 17:36
Para muitos profissionais que atuam em posições diretivas e gerenciais, a liderança está intrinsecamente ligada ao exercício do poder e da autoridade. Nesse sentido, aquele que lidera nunca pode perder o comando e o controle sobre o seu liderado, custe o que custar. Diferentemente de uma liderança humanizada, essa perspectiva tem se tornado cada vez mais equivocada e descompassada com os valores atuais exigidos para que empresas de todos os segmentos e tamanhos sejam bem-sucedidas em um mercado competitivo.
Isso por que essa visão relativa à liderança perde de vista o quão fundamentais são as chamadas soft skills (habilidades socioemocionais e comportamentais) para o ambiente de trabalho e para a sociedade em geral, tendo em vista a importância que adquire a interação humana em um mundo cada vez mais globalizado e tecnológico. Essas habilidades desempenham um papel crucial no estabelecimento de relacionamentos saudáveis, na liderança eficaz, na resolução de problemas complexos e na promoção do bem-estar geral.
Compõem a lista das três principais habilidades socioemocionais e comportamentais para lideranças, segundo pesquisa realizada pela Amcham e Humanizadas em 2024 com mais de 780 líderes de todo o Brasil:
Inteligência emocional (71%): fator principal no desenvolvimento das lideranças, essencial para a gestão de conflitos, motivação de equipes e criação de um ambiente positivo.
Saúde mental e emocional (64%): importante para garantir que os líderes desempenhem suas funções de forma eficaz e sustentável, incluindo técnicas de gerenciamento de estresse e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Autoconhecimento e reflexão (64%): permitindo que os líderes compreendam suas forças e fraquezas, tomando decisões mais informadas e desenvolvendo suas capacidades continuamente.
Munidos dessas habilidades, buscando aprimorá-las constantemente, os líderes praticam um tipo de liderança que chamamos de liderança humanizada.
A liderança leva esse nome porque tem como motivação as habilidades humanas e tem como preocupação primordial o ser humano, aliando essas características a processos e ferramentas que vão construir, manter e gerar resultados nessas áreas.
Liderança não é sobre ego ou poder, mas sim sobre ajudar pessoas a se desenvolver, fazendo uso das melhores ferramentas disponíveis: seja por meio de habilidades humanas e frameworks, seja por meio de exercícios e feedbacks construtivos, mas sempre colocando o ser humano em primeiro lugar.
A liderança humanizada é servidora, ou seja, coloca o bem-estar e o crescimento dos liderados como uma prioridade. Ao contrário de abordagens mais tradicionais, que se concentram no poder e na autoridade do líder, a liderança servidora se baseia na ideia de servir ao outro e ajudá-lo a alcançar seu pleno potencial. O que não significa que o líder servidor seja subserviente ou passivo. Muito pelo contrário, ele continua se responsabilizando por suas decisões e pelo time com uma abordagem fundamentada na ideia de servir e capacitar aqueles que lidera.
Outra característica importante da liderança humanizada é seu caráter transformacional, pautado pela capacidade de inspirar e motivar as pessoas a alcançarem resultados extraordinários e promoverem mudanças positivas em suas vidas e no ambiente de trabalho.
Ao contrário de outros estilos de liderança mais transacionais, que se concentram principalmente em tarefas e recompensas, a liderança transformacional busca elevar a visão e os valores dos liderados, despertando seu potencial máximo e estimulando o crescimento pessoal e profissional.
Em suma, a liderança humanizada é repensar, inclusive, a avaliação das lideranças e o que chamamos de performance delas. Geralmente, líderes são avaliados por metas tradicionais de curto prazo, como financeiras (84%) e de satisfação dos clientes (64%). Cerca de 1/3 de pesquisas são avaliadas, hoje, por indicadores de clima ou cultura (36%) ou metas de sustentabilidade (31%). Isso demonstra que as empresas ainda estão olhando para o jogo com um paradigma do passado de comando e controle, ao invés de olhar para líderes que desenvolvem pessoas e trazem resultados em médio e longo prazo para as organizações.
Ao adotar essa abordagem humanizada, caracterizada pela orientação, apoio e oferecimento de oportunidades, visando descobrir habilidades latentes, incentivar o desenvolvimento delas e empoderar os liderados, os líderes criam um ambiente de trabalho que promove a colaboração e contribui para o sucesso coletivo da equipe.
Temos dados científicos de Harvard, Universidade da Califórnia e outras sobre isso. Aqui no Brasil, já contamos com pesquisas da Humanizadas que apontam para o fato de que líderes que desenvolvem uma liderança mais humanizada têm colaboradores 200% mais inovadores, 300% mais criativos, mais de 30% mais engajados, além de organizações que possuem rentabilidade 4,81 vezes superior à do mercado.
Ou seja, o líder que busca desenvolver seu autoconhecimento, conhecer e desenvolver suas pessoas, reconhece a singularidade de cada liderado(a), fazendo toda a diferença no desempenho individual e no alcance dos objetivos organizacionais.
A liderança humanizada é o caminho para que as empresas se tornem mais felizes e engajadas, e, consequentemente, obtenham resultados muito mais positivos para seus colaboradores e lucro sustentável emlongo prazo para si próprias. É sobre isso que falo no meu livro, “Líderes que Curam: construa times motivados e engajados e de melhor performance”, e continuarei falando em outras oportunidades.