Liderança é um fenômeno humano e sua prática deve ser sempre entendida a partir de um determinado contexto. Contextos diferentes exigem perfis de liderança também distintos, portanto nunca existirá um único perfil mitológico de líder “universal ou ideal” que reúna todos os atributos necessários para servir a todas as organizações, lugares, formatos, em tempos e situações diversas de forma plena.
Isso fica muito claro quando observamos o perfil dos líderes do início do século XX. Na época em que as mudanças econômicas ocorriam numa velocidade lenta e as competências das equipes eram relativamente pequenas, o papel que os líderes exerciam era o de orientadores do futuro. Eram os líderes e tão somente eles que definiam o futuro a ser alcançado pelas organizações cabendo aos demais componentes seguir suas orientações. A partir dos anos 70/ 80 houve uma evolução no papel da liderança cujo perfil necessário passou a ser de líderes visionários capazes de inspirar as pessoas a alcançar determinada visão de futuro criada.
Seriam esses mesmos perfis de líderes adequados para o momento atual onde as mudanças ocorrem em alta velocidade e a inovação se tornou em fator determinante do sucesso empresarial? A resposta claramente é não. Ser um Líder da Inovação requer atributos diferentes com menor intensidade na tradicional orientação para o futuro e maior intensidade no papel de arquiteto da cultura e das capacidades de inovar em uma organização.
Linda Hill (Harvard, 2022) descreve muito bem esse tipo de líder em seu livro "Gênio Coletivo". Para ela, as organizações que encontram dificuldades para inovar são provavelmente aquelas que empregam um perfil de liderança do passado. Inovação exige cocriação, e cocriação requer um perfil diferenciado de líder. Se a organização precisa inovar de forma rápida e escalável para competir no mercado, o líder deverá exercer 3 funções primordiais de forma integrada: de arquiteto, construtor de pontes e de catalizador.
Na função de arquiteto, o líder cria as condições para que sua equipe possa colaborar, experimentar e aprender de forma coletiva. Inovação é muito mais fruto do coletivo do que da ação individual. Cabe ao líder reunir os diversos talentos com expertises diferentes dentro da organização para que o processo de co criação ocorra. O papel do líder é de soltar o “gênio coletivo organizacional” e aproveitar processo e resultados para o bem comum.
Na função de construtor de pontes, o líder conecta grupos de trabalho da empresa com fontes externas para economizar tempo e ganhar rapidez e escala no processo de inovação. A ponte se dará com fornecedores, aceleradoras, laboratórios e outras diversas organizações que possibilitam o acesso a todo tipo de recursos, conhecimentos e capacidades que a organização não possui em quantidade e qualidade ou que demoraria muito tempo para conseguir por conta própria.
A terceira função, de catalizador, ocorre quando a ambição pela inovação é ainda maior e a organização busca interagir e influenciar todo o ecossistema para acelerar seu processo de inovação. Trabalhar com o ecossistema exige influenciar um conjunto de atores aos quais a empresa não tem mando. Universidades, Investidores, incubadoras, aceleradoras, labs, parques e centros de inovação são somente alguns dos exemplos. Para ter acesso aos recursos disponíveis nas outras organizações que fazem parte do ecossistema, o líder deve ter a habilidade de formar alianças e estabelecer acordos de mútuo comprometimento que trarão como resultados o aumento da capacidade, tanto da organização quanto do ecossistema, em inovar.
Para realizar bem todos esses papéis, o líder da inovação precisa desenvolver cada vez mais seu poder de influência, de modelar e desenvolver a cultura e as capacidades da empresa inovar, estabelecer as diversas conexões internas e externas à organização, de buscar mútuo comprometimento e confiança com o grupo de colaboradores para que possam assumir os riscos associados à inovação, pois inovação é feita com o engajamento genuíno das pessoas.