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Não é sobre ser isso ou aquilo, mas ser uma coisa e outra. Mulheres podem assumir quantos papeis elas quiserem. Crédito: southworks.

Cris Alessi

Cris Alessi

Cris Alessi é consultora de inovação e transformação digital, conselheira, palestrante, investidora-anjo e autora do livro "Gestão de Startups: desafios e oportunidades”.

Autonomia

"Deus me livre ser mulher CEO"? Na sociedade do "E" e não do “OU”, mulheres podem ser o que quiserem

20/09/2024 16:19
Sentados à mesa de reunião, líderes empresariais tomam decisões institucionais, financeiras, sobre mercados, produtos. Uma cena corriqueira na vida de muitas pessoas, mais um dia comum. Mas, cada vez mais, estamos tentando mostrar que, sentados à essa mesa, historicamente, em sua grande maioria estão homens. Em 2023, pela primeira vez na história, mulheres CEOs lideram cerca de 10% das empresas da Fortune 500, lista das maiores companhias dos EUA por receita. Vibramos com esse número. Chegamos a 10%.
Por anos, as mulheres vêm pleiteando um lugar nessa mesa, estudando e se preparando para isso. Segundo a pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil” do IBGE, no grupo com 25 anos ou mais de idade, 19,4% das estudantes mulheres tinham ensino superior completo, contra 15,1% dos homens. Na faixa etária de 45 a 54 anos, 19,4% das mulheres tinham nível superior contra apenas 13,8% dos homens com a mesma titulação.
“Uma mulher tem que ocupar o lugar de liderança por mérito”, é o que ouvimos com frequência ao abordar esse assunto. Pois não, um relatório The Ready-Now Leaders da Ong Conference Board mostra que as organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro.
Esse dado quebra o paradigma de que existe um jeito certo de liderar (o jeito dos homens). Não é porque a forma que mulheres lideram é diferente, que ela seja pior ou errada. Uma pesquisa liderada por Cindy Adams, presidente e CLO (Chief Learning Officer) da Leadership Circle, mostra uma análise cientificamente validada que mede “competências criativas” e “tendências reativas” na liderança. Os comportamentos dos líderes criativos decorrem de seus valores e propósitos, e não de um conjunto de suposições sobre como os líderes devem se comportar.
Mesmo assim, mesmo que com mais formação, resultados evidentes e vontade, o número de mulheres em cargos de liderança cresce lentamente.
“Deus me livre de mulher CEO”. Eis que vem à tona o que, infelizmente, muitos pensam. Não é sobre meritocracia. Nossa sociedade patriarcal continua replicando o pensamento de que lugar de mulher é cuidando da casa e da família. Pensamento que remonta ao Iluminismo, que moldou nossa sociedade com o conceito de que tudo o que é masculino é racional; tudo que é racional diz respeito à produção; tudo que diz respeito à produção é feito fora de casa, nos lugares apropriados para o trabalho.
Em paralelo, tudo que é feminino é emotivo; tudo que é emotivo diz respeito à reprodução; tudo que diz respeito à reprodução é feito em casa, que é o lugar da família.
É um pensamento secular arraigado na alma da sociedade. Mas muitos, homens e mulheres, têm transformado isso. Nós lutamos pela sociedade dos “E”.
Nós, mulheres, queremos e podemos criar nossos filhos e nossas famílias com amor e competência E ocupar lugar de destaque no mercado de trabalho e nos tornarmos profissionais realizadas. Assim como os homens podem ocupar grandes posições profissionais E serem pais, maridos, filhos presentes e participativos na construção familiar. Não se trata de ser isso "OU" aquilo. Podemos ser muitas coisas, mulheres e homens.
Estamos provando, como sociedade, que podemos quebrar essa barreira cultural e sermos melhores. Não é por isso que todas as mulheres devem ou querem ser CEOs, nem líderes. As que escolhem cuidar de suas casas e filhos são igualmente importantes, desde que sejam felizes e realizadas com isso.
Mas, às que querem avançar em suas carreiras, não cabe mais esse pensamento que remonta ao século XVIII. Agora, além do poder da nossa energia feminina, temos também o poder da escolha: ser isso E aquilo. Desejo que todas as mulheres possam escolher chefes, companheiros e ambientes que as respeitem, as incentivem e as apoiem. E desejo que todos tenham vontade e sabedoria para entender essa nova sociedade, a sociedade dos “E”.