Segundo um estudo da Climate Ventures, há mais de 220 negócios verdes que atuam em diferentes áreas, da gestão de resíduos e indústria à agropecuária e florestas.
Cris Alessi
Cris Alessi é consultora de inovação e transformação digital, conselheira, palestrante, investidora-anjo e autora do livro "Gestão de Startups: desafios e oportunidades”.
Economia de baixo carbono: o que a tecnologia tem a ver com isso?
09/10/2023 17:31
No meu artigo anterior, falei sobre a ecoinovação e áreas importantes que compõem esse mercado. Entre eles, a economia de baixo carbono. Fator importante no conceito da economia de baixo carbono é a ampliação do uso de energias limpas e atribuições de custos aos impactos gerados pela emissão de gases poluentes com o crédito de carbono.
A descarbonização esteve entre as principais notícias da última semana, justamente pela tramitação e aprovação pelo Senado do projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil. O projeto cria o Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões (SBCE) e regula empresas que emitem acima de 10 mil toneladas por ano.
A principal polêmica da discussão no Senado foi a retirada do setor agro das obrigações de mensuração. Discussão importante já que, segundo o Observatório do Clima, os setores de uso da terra e agro são responsáveis por mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Polêmicas à parte, é importante avançar na regulação já que este assunto não é novo. Ao longo dos anos, aconteceram muitos aprendizados e mudanças ao redor do mundo. A primeira grande discussão a respeito do mercado de carbono aconteceu em 1997, com o Protocolo de Kyoto. Este acordo internacional teve como meta a redução da emissão de gases de efeito estufa e estabeleceu que os países tivessem uma cota máxima para emitir gases poluentes. Isso permitiu negociações de crédito de carbono.
Entendidas as fragilidades do acordo de Kyoto, em 2015 foi criado um novo tratado internacional, o Acordo de Paris. Aumentando a abrangência das metas, 195 nações aderiram ao acordo. Um dos artigos mais discutidos foi justamente o que tenta regular o mercado de carbono.
A ideia comum em torno do assunto é que se estabeleça um teto aceitável para a emissão de carbono das empresas por ano. Empresas que emitem além do teto devem compensar ou comprar crédito, já as que conseguirem reduzir a emissão ficam com crédito que podem ser vendidos no mercado.
O volume de transações desses créditos já movimenta cifras bilionárias. O crédito de carbono equivale a 1 tonelada de gás carbônico (ou outros gases) que deixou de ser emitida para a atmosfera. Uma regulação efetiva do mercado de carbono pode movimentar no Brasil entre US$ 493 milhões a US$ 100 bilhões e gerar 8,5 milhões de empregos até 2050.
Há diferentes formas de gerar créditos de carbono e dois tipos de mercado: o mercado regulado e o mercado voluntário. No mercado voluntário, a geração pode ser por meio de investimentos em projetos de manuseio e descarte de resíduos, iniciativas de reflorestamento, conservação de áreas de floresta e fontes renováveis de energia, por exemplo.
Esse é um desafio global, e também uma exigência cada vez maior de mercado. A União Europeia é considerada um dos principais mercados regulados no mundo e também faz grande pressão para outros países e para empresas para o atingimento do mercado neutro em emissões.
Muitas empresas têm aderido e trabalhado com ações concretas, diminuindo o impacto em suas cadeias produtivas, entre elas podemos citar Grupo Boticário, Natura, Ambev, Ifood e gigantes como Apple e Amazon. Há vantagens econômicas para as corporações que estão planejando mudar suas práticas. Desde o marketing positivo até a preparação para evitar futuras multas e impostos, algo que é bem-visto pelos seus acionistas.
Sem dúvida essa é a tendência mundial. E não está na pauta apenas dos governos e das empresas. A sociedade também tem pressionado empresas, setores e cidades a adotar medidas para frear a crise ambiental que vivemos. É uma questão de sobrevivência e será necessário um esforço coletivo, em toda a cadeia produtiva, em todos os setores e em todos os países. Haverá, também, necessidade de mensuração do processo produtivo e de mudanças de matriz energética, das práticas de produção e descarte.
Com certeza, a tecnologia é uma aliada dessa mudança, tanto que surgem inúmeras empresas neste mercado, entregando valor para apoiar grandes corporações e os governos. O termo ESG entrou no vocabulário de todas as empresas e com as startups não foi diferente.
Startups conhecidas como Greentechs, Cleantechs, ESGtech e de Investimento de Impacto têm crescido e, segundo o Global Impact Investing Network, a estimativa é que o mercado global de investimentos de impacto alcance a impressionante marca de US$ 1,164 trilhão.
Segundo um estudo da Climate Ventures, plataforma de inovação focada em soluções climáticas que fez um mapeamento do cenário das startups verdes no Brasil, há mais de 220 negócios verdes que atuam em diferentes áreas, da gestão de resíduos e indústria à agropecuária e florestas.
Essas startups estão na mira do mercado de investimentos. Segunda a PwC, 65% dos investidores possuem uma política de investimento responsável (ESG). Isso porque o investimento alinhado ao ESG não compromete os retornos financeiros e muito frequentemente performa melhor que aqueles que não observam as práticas.
Há demanda, há interesse do setor corporativo, há indução do setor público, há pesquisa e desenvolvimento na área, há pressão da sociedade. Quem não estiver se preparando para as exigências e as oportunidades do mercado de baixo carbono, seja grande ou pequeno, certamente estará fora de qualquer outro mercado em pouco tempo. Como sua empresa está tratando esse assunto?