A inovação está na pauta da maioria das empresas. Está na startup que respira inovação, que a tem na origem do seu negócio, no corredor e no cafezinho... mas também está na empresa tradicional, que tem visão de futuro, que enxerga as mudanças do mercado, que sabe que precisa caminhar na direção da inovação.
É fácil relacionar inovação com startups. Afinal, o Brasil tem cerca de 14 mil empresas desse tipo, dos mais diversos segmentos. Dominamos o ecossistema latino-americano com 77% do mercado e 70% dos investimentos na região. É um mercado que cresce ano a ano.
Além dos grandes números, o olhar do mercado para as startups também está relacionado à capacidade que estas empresas têm de entregar soluções diferentes para problemas antigos. Soluções que modificam o consumo e geram novas oportunidades. Mas nem tudo são flores para as empresas de tecnologia.
Anteriormente aceleradas com investimentos fartos e disponíveis pelos Fundos de Investimentos e Investidores Anjos, viram a torneira fechar com a maturidade dos investidores, mudanças nas taxas de juros e exigência cada vez maior de resultados mais sólidos para os investimentos.
Basta ver o surgimento de unicórnios (startups que chegam ao valor de mercado de US$1 bilhão). Em 2021, o Brasil teve 11 novas startups unicórnios; em 2022, foram 5; e, em 2023, tivemos 1 startup a chegar a esta marca. Em 2023 houve uma queda de 86% no capital investido em novos negócios nacionais, em comparação a 2022.
Apesar desse cenário, o mercado de startups está longe de desacelerar. Aqui entram as empresas tradicionais, que cada vez mais percebem a importância da aproximação com as empresas nascentes de tecnologia. A relação entre os ecossistemas das startups e das grandes companhias criou uma forma de investimento tanto nas startups quanto em inovação corporativa - o Corporate Venture Capital (CVC).
Cada vez mais, vemos corporações fazendo aportes de capital nos negócios de inovação com o objetivo principal de trazer melhorias e reduzir gaps de pesquisa, desenvolvimento e tecnologia.
Nos últimos anos, com a redução global dos aportes de venture capital, o Corporate Venture Capital foi uma alternativa para as startups continuarem a captar investimentos e crescer. O corporate venture capital já movimenta R$ 10 bilhões no Brasil.
Por meio de processos de inovação aberta, empresas buscam o apoio de startups para resolver problemas que não conseguem resolver sozinhas, ou para buscar inovação além de seus muros. Mas a inovação aberta também é um desafio para grande parte das empresas. Investir ou se associar a uma startup traz complexidades culturais, organizacionais e processuais. De qualquer forma, estamos avançando nesse assunto.
O Ranking TOP Open Corps 2023, que mapeia o envolvimento de grandes companhias com as startups e ecossistemas de inovação pelo país, registrou um total de R$ 6,4 bilhões em 2023 de contratos de empresas relacionados à inovação aberta, acumulando 54 mil parcerias. Mais do que o dobro do ano anterior.
Se estamos avançando no relacionamento entre startups e corporações, também estamos aprendendo a criar fundos corporativos de investimento. Mas ainda temos um longo caminho pela frente, não só o Brasil.
O professor Ilya A. Strebulaev, especialista em venture capital e inovação da universidade de Stanford, nos Estados Unidos, fez um estudo no qual constatou que 31% dos CVCs dos EUA fecharam nos três últimos anos. O motivo? A ação não estar na estratégia da corporação.
Quer dizer, as empresas não colocam a ação de investir em startups ou de realizar projetos de inovação aberta na estratégia do negócio. Tenho falado bastante disso, desde que iniciei minha nova etapa de apoiar empresas em projetos de inovação e transformação digital.
As corporações precisam estruturar sua estratégia de inovação interna primeiro e, depois, se abrir para inovação com startups. No estudo do professor Strebulaev, entre os principais pontos para o sucesso estão: ter clareza dos objetivos da inovação; encontrar a motivação correta para a criação de fundos de investimento; e definir e monitorar as métricas que pretendem ser alcançadas.
A re-percepção é o primeiro ponto na escala da inovação. Depois, vem a mudança na cultura e, então, a transgressão até chegar ao impacto.