O Instituto das Cidades Inteligentes (ICI), organização voltada ao desenvolvimento de soluções de Tecnologia da Informação e Comunicação para a gestão pública, completou 25 anos de atuação em 2023. Com certeza, são muitas as conquistas que poderíamos comemorar.
Porém, além de celebrar, quero olhar para o futuro refletindo sobre aonde queremos chegar, levando em conta os novos paradigmas para continuar cumprindo nossa missão de prover soluções tecnológicas e inovadoras para a evolução da prestação dos serviços públicos.
Historicamente, considero que são três as grandes ondas da oferta de tecnologia para os municípios. A primeira foi a onda transacional, nos anos de 1970.
O foco estava nas soluções “do balcão para dentro”, como aquelas fornecidas pelo ICI no seu início, que atendiam governantes, funcionários públicos e representantes governamentais. Isso trouxe uma grande melhoria na organização financeira, procedimentos e processos municipais. Essa fase atingiu seu ápice duas ou três décadas atrás.
A segunda onda foi a oferta de soluções ao cidadão, permitindo que ele utilizasse aplicativos, portais e autosserviço para interagir com os processos governamentais. Os governos reconheceram a importância de investir em tecnologia para melhorar a interação com os cidadãos, levando a um novo impulso de mercado e ao desenvolvimento de soluções centradas no usuário, como, por exemplo, os totens de autoatendimento.
A terceira onda é a do envolvimento do cidadão, na qual ele é não só um usuário das tecnologias, mas também um participante ativo do sistema. Esta fase, que é a que vivemos hoje, envolve a criação de canais de comunicação, integração e interação. Um exemplo é a nossa Central 156 em Curitiba, com a qual o cidadão interage e se envolve na solução que pretende.
E aí está o grande desafio, que é incluir cada vez mais o cidadão na definição das tecnologias governamentais. O cidadão pode, então, atuar em vários papéis, e um deles (em que quero focar) é o de investidor. O indivíduo que põe recurso na cidade, monta o seu negócio. É sobre esse perfil de cidadania que precisamos avançar nas próximas ondas de oferta de tecnologia.
O desafio é alavancar investimentos por meio dos sistemas municipais, abrangendo desde grandes investidores até pequenos empreendedores. Exemplificando com Curitiba e o ICI, que possuem mais de 200 sistemas ativos. Imaginem o que se poderia fazer se conseguíssemos reutilizar esses sistemas para facilitar a atração de investidores, fornecendo serviços digitais para os cidadãos. Com isso, traríamos empregos, com empregos a capacidade de consumo, impostos, e geramos, assim, um ciclo virtuoso.
E como podemos fazer isso?
Começando com os dados municipais, que compõem um volume muito grande de informação. Eles podem ser compartilhados respeitando a LGPD, de modo aberto e amplo, auxiliando investidores a melhor planejar negócios com base em informações oficiais. Lembrando que isso não é disponibilizar dados para um empreendedor, é disponibilizar dados para o ambiente de empreendedorismo.
A infraestrutura existente, como wi-fi e fibra óptica, também tem que ser considerada. Que tal permitir ao pequeno empreendedor usar esse wi-fi, respeitando horários e regras, para planejar e viabilizar seu projeto? O intuito seria gerar empreendimentos de todos os tamanhos e fomentar a concorrência. Para municípios menores, uma cooperação entre cidades vizinhas pode fortalecer as cadeias econômicas por meio da tecnologia.
Surge então uma quarta onda, iminente no futuro, que visa sistemas capazes de apoiar a geração de negócios. Sistemas de modo amplo: hardware, software, infraestrutura, coleção de dados e assim por diante.
O município tem, por meio dos dados e da tecnologia que detém, domina e usa, a capacidade de ajudar a organizar melhor determinadas cadeias, favorecendo seus negócios e, por que não, recolhendo impostos sobre o que é produzido. Essa é a grande ideia de um sistema municipal que incrementa o empreendedorismo e a realização de negócios dentro das suas fronteiras.
Essa onda deve ser benéfica economicamente para os municípios, focando em negócios inteligentes. Uma visão de “cidade inteligente” - de que gosto muito - fala do poder público antecipando as necessidades dos cidadãos: “Negócios inteligentes para cidades e seus cidadãos são aqueles que solucionam problemas mesmo antes de serem reconhecidos.”
A ideia de cidade como plataforma (city/urban as a plataform) vem com força, envolvendo governantes, servidores, cidadãos e, crucialmente, empreendedores. Isso requer uma mudança de foco das empresas de tecnologia municipais, incluindo os investidores como atores-chave.
Atração de investidores passa por tópicos como política de dados abertos e envolvimento de todas as partes interessadas. Todos os atores e todas as classes de atores econômicos precisam estar nessa discussão, e uma governança sólida é essencial para a relação entre setores público e privado.
A tecnologia hoje é um fator importante de atração para negócios. O município, enquanto investidor de grandes volumes de dinheiro, inclusive, na definição e no desenvolvimento da tecnologia que ele faz para si, pode alargar o círculo de alcance e de capilaridade e trazer para perto de si, de modo favorável, o empreendimento, a construção de negócios, a geração de renda e a prosperidade local.