Ronaldo Oliveira*
Mercado de crediário
Seria esse o fim do BNPL (Buy Now Pay Later)?
Nos últimos anos, presenciamos o surgimento de várias startups com a proposta do BNPL (Buy Now Pay Later), uma modalidade de crédito que se assemelha ao tradicional crediário. A ideia era simples: oferecer aos consumidores a oportunidade de comprar produtos e serviços e parcelar o pagamento por meio de uma financeira parceira. Essas empresas foram o hype do momento, conquistando valuations astronômicos e atraindo a atenção do mercado e fundos de venture capital.
No entanto, muitas dessas startups do BNPL mostraram-se despreparadas quando se tratava de lidar com o crédito. À medida que a inadimplência começou a aumentar, o castelo de cartas começou a desmoronar, resultando em consequências desafiadoras para o setor. Um exemplo disso foi a Klarna, uma das líderes globais do BNPL, que enfrentou dificuldades quando a inadimplência afetou seus resultados. Recentemente, a ADDI, uma das empresas que atuava no Brasil oferecendo a modalidade BNPL, encerrou suas operações no país.
É nesse cenário que as varejistas tradicionais encontram uma oportunidade. Enquanto muitas startups do BNPL lutam para se adaptar e sobreviver, as boas e velhas varejistas, com seus "carnêzinhos", ainda se destacam. O fato é que essas empresas têm experiência de longa data no oferecimento de crédito aos consumidores e compreendem os desafios associados a essa prática.
Desafios enfrentados pelas startups do BNPL e suas consequências no setor
Dado os últimos acontecimentos, o principal desafio que as varejistas enfrentam é a adoção de tecnologia e infraestrutura regulatória adequadas para acompanhar as demandas e expectativas dos consumidores modernos. É aqui que entram em cena empresas especializadas em soluções fintech para o varejo. Essas empresas fornecem as ferramentas e o conhecimento necessários para as varejistas modernizarem seus negócios e oferecerem serviços de financiamento no próprio crediário.
Por meio da parceria com empresas de tecnologia financeira, as varejistas podem adotar sistemas automatizados de análise de crédito, processamento de pagamentos e gestão de riscos. Essas soluções trazem eficiência e agilidade aos processos internos, ao mesmo tempo em que oferecem aos consumidores uma experiência de compra mais conveniente e flexível.
Além disso, a infraestrutura regulatória é outro aspecto crucial para as varejistas que desejam ingressar no mercado do crediário. Lidar com as exigências legais e regulatórias pode ser um obstáculo complexo. Nesse cenário, as empresas de “credit as a service” podem auxiliar as varejistas, disponibilizando suas licenças e tecnologia como serviço, assim facilitando a jornada da empresa para se tornar provedor de crédito para seus clientes.
Também é importante ressaltar que a queda das empresas de BNPL não significa o fim completo desse modelo de crédito. Pelo contrário, representa uma mudança no cenário, com uma maior valorização das varejistas tradicionais que possuem expertise no gerenciamento de crédito. Essas empresas têm a oportunidade de se reinventar por meio da tecnologia fintech, aproveitando os avanços digitais para aprimorar seus serviços e oferecer opções de financiamento mais atrativas aos clientes.
Oportunidade para as varejistas tradicionais no mercado do crediário
A colaboração entre varejistas e fintechs de infraestrutura de crédito também proporciona uma vantagem competitiva no mercado. As empresas que conseguirem implementar com sucesso tecnologias e soluções de ponta no gerenciamento de crédito estarão à frente da concorrência, pois poderão oferecer serviços mais acessíveis e convenientes para os consumidores e até mesmo expandir para novas praças, como os casos de Fintech Magalu e MercadoPago.
Nesse contexto, mostra-se fundamental que as varejistas estejam atentas aos desafios e riscos associados a essa transformação. A adoção de tecnologia e a oferta de crédito exigem um conhecimento aprofundado sobre as regulamentações do setor financeiro e uma gestão eficaz dos riscos de inadimplência. Portanto, é crucial que elas estabeleçam parcerias estratégicas com empresas especializadas em fintechs, que possam fornecer suporte e orientação nesse processo de transição.
Em conclusão, o fim do BNPL como o conhecemos destaca a importância das varejistas tradicionais no cenário do crediário. Essas empresas conhecem muito bem seu consumidor e possuem a experiência necessária para trabalhar com crédito, mas precisam se adaptar às demandas tecnológicas e regulatórias da era digital. Ao colaborar com empresas fintech, elas têm a oportunidade de modernizar seus negócios, oferecer serviços de financiamento inovadores e garantir sua relevância no mercado em constante evolução. O futuro do crédito está nas mãos daqueles que sabem equilibrar tradição e inovação.
*Ronaldo Oliveira é founder e CEO da Giro.Tech.