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Desde 2006, os investidores estão reconhecendo cada vez mais a importância dos fatores ambientais, sociais e de governança em seu processo de tomada de decisão de investimento.

Itali Collini*

Agenda ESG

O que é ESG e por que investidores estão incorporando essa abordagem em suas decisões

07/03/2023 19:41
O termo ESG e a exigência de incorporação de critérios ESG na análise de ativos apareceram pela primeira vez em 2006 no Principles for Responsible Investment (PRI) das Nações Unidas. De lá para cá, os investidores estão reconhecendo cada vez mais a importância dos fatores ambientais, sociais e de governança em seu processo de tomada de decisão de investimento.
Os fatores ambientais consideram como uma empresa impacta o meio ambiente, o que pode incluir uso de energia, emissões de gases de efeito estufa, gerenciamento de resíduos e poluição. Os fatores sociais consideram como uma empresa impacta seus stakeholders, incluindo funcionários, clientes, fornecedores e as comunidades onde atua. Os fatores de governança consideram como uma empresa é administrada incluindo práticas no conselho de administração, os direitos dos acionistas, as políticas anticorrupção, por exemplo.
Seja pelo viés de mitigação de risco, tentando mapear possíveis perdas de valor acionário no caso de externalidades negativas geradas pelas empresas, ou pelo viés de impacto socioambiental, tentando criar soluções que enfrentem desafios de desigualdade social e mudança climática, a abordagem ESG para selecionar, investir e gerir ativos tem crescido no mundo todo.
Em 2020, os ativos globais de investimento sustentável passaram de US$ 35 trilhões em 2020, e nos Estados Unidos, esses ativos atingiram US$ 17 trilhões, representando 33% de todos os ativos geridos por investidores. Esse movimento vem na esteira de exigências dos investidores, uma pesquisa do Morgan Stanley descobriu que 85% dos investidores individuais estavam interessados ​​em investimentos sustentáveis, e 95% das pessoas da geração millennial estavam interessadas nessa classe de ativos. Além disso, uma pesquisa da PwC constatou que 72% dos investidores institucionais consideram fatores ESG em seu processo de tomada de decisão de investimento.
Reguladores em todo o mundo estão cada vez mais apoiando o investimento ESG. Na União Europeia, por exemplo, o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis ​​exige que os participantes do mercado financeiro divulguem como integram fatores ASG em seu processo de tomada de decisão de investimento. Nos Estados Unidos, a Comissão de Valores Mobiliários emitiu orientações sobre a importância dos fatores ASG para empresas de capital aberto.
Na América Latina, as movimentações também são intensas, a B3 entrou para a iniciativa Bolsas de Valores Sustentáveis das Nações Unidas, que promove a adoção de princípios ESG por empresas listadas, além de ter lançado o Índice de Sustentabilidade Empresarial que, hoje, conta com 69 empresas listadas. Da mesma forma, a Bolsa de Valores Mexicana lançou um índice junto com a Standar & Poor’s, o S&P/BMV Total Mexico ESG, que inclui empresas que se destacam nesses critérios.
O investimento com viés ESG está se tornando cada vez mais importante para os investidores que buscam obter retornos financeiros e, ao mesmo tempo, considerar o impacto de seus investimentos no meio ambiente, na sociedade e na governança. A robustez que as metodologias começam a ganhar e a ampla cobertura do mercado, além da demanda dos investidores e do suporte regulatório, sugerem que a pauta ESG veio para ficar no mercado financeiro.
No entanto, o mercado também apresenta resistência às mudanças, com alguns executivos e analistas abraçando uma agenda anti-ESG. Elon Musk, por exemplo, disse no ano passado “ESG is a scam” (ESG é uma farsa, em tradução livre) quando a Tesla foi removida do S&P 500 ESG index, índice da S&P Global que lista empresas que se destacam em questões ambientais, sociais e de governança (ESG), de acordo com a metodologia própria da agência de rating.
Minha visão é que estamos nessa era pré-padronização com o ESG. Não se trata de uma farsa, ou um golpe, mas sim de uma integração de externalidades à análise financeira que ainda vai levar tempo para amadurecer em um padrão internacional auditável e adotado por todos os agentes de mercado.
Para se ter uma ideia do ciclo de amadurecimento de práticas de mercado, a contabilidade financeira, por exemplo, já era feita há séculos quando Francesco Villa decidiu publicar na Itália "La Contabilità Applicatta alle Amministrazioni Private e Pubbliche", em 1840, trazendo o método de partidas dobradas.
Levou 133 anos depois disso para ser criado o International Accounting Standards – IAS, em 1973, responsável pelo processo de internacionalização das normas contabilísticas. Mais 28 anos se passaram até a transformação do IAS em IFRS – International Financial Reporting Standards em 2001, em português, Normas Internacionais de Contabilidade.
Quer dizer, não é porque não tinha IFRS em 2000 que a gente podia falar que os esforços de algumas instituições em comparar empresas e criar métricas de mercado era uma farsa. Do mesmo jeito, agora nós temos um campo em pleno desenvolvimento e essencial para o mercado mapear o que vai além de receita e custos para incorporar o que afeta o planeta e sua manutenção. Tentar barrar essa transformação de mercado porque não se entende, não se interessa ou tem algum ativo seu individualmente prejudicado é nadar contra uma corrente muito maior que você
*Por Itali Collini, economista, Investidora Anjo e diretora da Potencia Ventures