Janine Motta*
Janine Motta é comunicóloga, jornalista e profissional do marketing.
Equidade de gênero
Novas perspectivas de carreira na trajetória da liderança feminina
A transformação do ambiente de negócios contemporâneo vai além do paradigma digital e da corrida tecnológica que, sem dúvidas, avança e ganhou um impulso preponderante já no contexto de pandemia. Estamos falando, concomitantemente, de uma mudança de enfoque cultural nas empresas, que trouxe mais destaque, por exemplo, para os conceitos de ESG e de uma maior inclusão de gêneros, etnias e estratos sociais em organizações dos mais variados portes.
Sem dúvidas, esse é um debate central para a formação de um mercado mais plural e diverso, sobretudo dentro da realidade de um país como o Brasil, com uma série de camadas de desigualdade também no que concerne à geração de oportunidades nas empresas – desigualdade essa que só aumenta quando pensamos em cargos de liderança e com voz ativa para a tomada de decisões.
Pensando, por exemplo, na esfera da liderança feminina, a verdade factual é a de que, apesar de alguns movimentos positivos em anos mais recentes, ainda estamos aquém de uma real paridade de gêneros no mercado.
Nesse sentido, para que ideias como a de governança social e diversidade se tornem, realmente, pilares da nova economia, é necessária uma renovação estrutural que passa pela abertura de programas específicos para a formação de lideranças femininas nas empresas; fomento e incentivo público; e por um interesse real das empresas em abraçar a igualdade como um valor corporativo – que, como veremos, gera evidentes ganhos econômicos.
Desafios e oportunidades para as novas líderes
Quando analisamos com mais minúcia dados recentes do mercado, não é difícil perceber que os obstáculos para a trajetória da liderança feminina ainda persistem no Brasil e no mundo. Segundo uma pesquisa global divulgada pelo Fórum Econômico Mundial em julho do ano passado, só 37% das empresas possuem mulheres em cargos de liderança.
No Brasil, também de acordo com dados de 2022, esse número sobe para 38% – no entanto, em 2021, o índice era de 39%. Os números são da Grant Thornton e demonstram um aumento da desigualdade de gênero justamente em um momento de boom dos debates sobre ESG e impacto social das organizações.
E se engana quem pensa que essas questões também não estão presentes no mercado de startups: um levantamento da Distrito divulgado no ano passado apontou que, das 100 maiores startups do país, somente 5% são lideradas por mulheres.
Tais indicadores evidenciam também que não bastam boas intenções: é preciso uma estratégia muito bem orquestrada de transformação cultural que abra espaço para novos ecossistemas corporativos e geração de oportunidades para diferentes perfis de liderança, incluindo as mulheres.
O Brasil já conta com experiências bem-sucedidas nesse sentido, como os programas de formação de novas líderes da Ambev ou o alto índice de igualdade de gênero em corporações do varejo como a Magalu.
E os benefícios de tais ações não são apenas por uma questão de justiça social ou filosofia corporativa: eles trazem resultados econômicos claros. O relatório TheReady-Now Leaders da Ong Conference Board, apontou, por exemplo, que empresas com ao menos 30% de líderes mulheres aumentam em 12 vezes suas chances de se colocarem com as empresas de melhor desempenho financeiro dos seus respectivos setores.
Superar obstáculos exige uma mudança de mindset
E, para além das questões estruturais, acredito piamente na necessidade de uma mudança de mindset por parte das novas líderes que as auxiliem a vencer os desafios ainda presentes no mercado.
Um primeiro ponto envolve a autovalorização – que deve caminhar em conjunto com a capacidade de demonstrar seu valor para a empresa em que atua. Devemos nos posicionar, reforçar a autoridade e competência sobre nossos campos de domínio, por meio do reforço de soft skills de liderança, comunicação, negociação, visão estratégica e poder de convencimento.
Nesse mesmo sentido, devemos colocar nosso desenvolvimento em primeiro lugar, estando abertas para oportunidades em empresas que, de fato, reconheçam nosso talento e esforço – não só do ponto de vista monetário, mas também de crescimento e ganho de voz.
Finalmente, devemos manter os olhos abertos para o futuro: afinal de contas, nós somos parte da mudança e, a partir do momento que assumimos postos de liderança, devemos contribuir para a construção de espaços e culturas que incentivem a formação das líderes dos próximos anos e décadas.
Só com esses elementos, na minha visão, o discurso da diversidade e o pilar S de ESG podem, de fato, se transformar em prática. Colocar a pauta da inclusão no holofote de corporações e startups, sem dúvidas, já foi uma conquista. Mas esse é apenas o primeiro passo para a construção de um mercado em que todos têm a oportunidade de crescer e de serem avaliados apenas pelo seu talento.
*Janine Motta é comunicóloga, jornalista e profissional do marketing.