Tiago Amaral*
Inovação
A Netflix vai entrar no mercado de jogos e aqui está o porquê
Por anos, a Netflix foi a empresa dominante no mercado de streaming de filmes e séries, tendo sido o player que praticamente definiu esse nicho antes que qualquer pessoa percebesse o que estava acontecendo. Contudo, as décadas de supremacia podem estar chegando ao fim, já que a tecnologia de hoje permite que outras grandes produtoras e criadoras de conteúdo desenvolvam suas próprias soluções.
Amazon, HBO, Hulu, Apple, Disney e, por que não, Globo, decidiram entrar com tudo nesse mercado. Em seu primeiro dia de lançamento, o Disney+ abocanhou 10 milhões de assinantes nos Estados Unidos. No primeiro dia.
Costumo dizer que não apenas produtos, mas tecnologias e modelos de negócio também costumam virar commodities. A Netflix abriu o caminho e acostumou a audiência a esse novo modelo. Agora, outras gigantes estão buscando o seu espaço nesse mercado, e cada novo subscriber será disputado conteúdo a conteúdo.
O que antes era um belo oceano azul para a Netflix está para se tornar um imenso oceano vermelho, com empresas gastando dezenas de bilhões de dólares para criar os melhores conteúdos possíveis.
Minha aposta é de que, mais cedo ou mais tarde, a Netflix vai olhar com carinho e adentrar outros mercados. E eu aposto fortemente que o mercado de jogos será o próximo.
Embora já seja bilionário, é possível dizer que ainda existem lacunas a serem exploradas, principalmente no que se refere ao mobile. A Netflix já possui acesso a atores, roteiristas e produtores. É uma marca extremamente forte e possui uma presença global. Possui também um histórico poderoso de saber ler as ações de seus usuários para criar conteúdos direcionados e com alto grau de probabilidade de serem um sucesso, como House of Cards e Stranger Things, unindo cargas gigantescas de dados e roteiristas, produtores e atores extremamente talentosos. Além de tudo, possui expertise em infraestrutura, algo que não nasce da noite para o dia e que está diretamente ligada à experiência do usuário.
É difícil dizer como essas novas apostas podem acontecer. Já temos exemplos de produções mais interativas por parte da gigante, como o Black Mirror: Bandersnatch. Contudo, não apostaria necessariamente nisso (embora eu ache que produções mais interativas são parte do futuro do entretenimento).
A Netflix já considera um jogo como a sua maior ameaça. A própria empresa já admitiu que Fortnite é o que tira o sono de seus diretores.
Eu aposto que a gigante do streaming pode entrar, em um primeiro momento, como uma publisher, ou seja, responsável pelo marketing, relações públicas, vendas e conexões entre desenvolvedores e roteiristas, produtores e atores.
Usando a força de sua marca, a Netflix poderia trazer para o seu ecossistema um mercado já bilionário e começaria a atingir um público extremamente engajado, ao mesmo tempo em que fortaleceria as desenvolvedoras dos jogos.
Há alguns dias, enquanto assistia a um gameplay de Death Stranding, um dos jogos mais aguardados do ano, um dos comentários mais curtidos do vídeo dizia: “melhor que 90% da Netflix”.
Para os próximos cinco anos, eu diria que a Netflix vai entrar de vez no mundo dos jogos. Antes, como essa publisher, já nascendo com alta reputação e bons recursos e, quem sabe, após, como uma criadora de todo um ecossistema de entretenimento que levaria seus usuários de filmes para séries para jogos e para perfis de personagens e jogos nas redes sociais, em uma espécie de looping, com diversos pontos de contato, em várias plataformas e canais diferente e de diversas formas diferentes.
E você, acha que isso faz sentido?
*Tiago Amaral é Head of Growth do AAA Inovação e mentor do curso "Os 3 dilemas da inovação" e do "Curso de tendências: construindo o futuro, observando o presente". Amaral já teve como alunos profissionais de empresas como XP Investimentos, Bayer, PwC, Carrefour e iFood.