Entre 2020 e 2023, um dos assuntos mais comentados na mídia foi o metaverso. Em síntese, a palavra se refere a um ambiente virtual onde as pessoas interagem por meio de avatares tridimensionais. O termo foi mencionado pela primeira vez ainda na década de 1990, pelo escritor Neal Stephenson no livro "Snow Crash", publicado em 1992.
Inovação e negócios: o foco não está no recurso que você tem, mas na mentalidade que adota
Segundo Massimo di Felice e Eliane Schlemmer (As ecologias dos metaversos e formas comunicativas do habitar, 2022): “...se trata de uma ampliação do espaço ‘real’ do mundo físico, geográfico, para o espaço digital da internet. O metaverso seria, então, uma espécie de ‘não lugar’, sob a ótica da existência física, constituída por átomos, mas um lugar pela perspectiva da existência digital, formada por bits.”
Com o desenvolvimento dos ambientes virtuais, a ideia se tornou cada vez menos abstrata e próxima de se tornar real. Sobretudo durante os anos da pandemia, onde ocorreu uma aceleração no desenvolvimento de tecnologias para comunicação e interação social, devido às restrições impostas por governos e autoridades sanitárias em todo o mundo, a fim de evitar contato e contágio entre as pessoas.
Uma das principais consequências desse fenômeno foi o surgimento dos diferentes metaversos (sim, são inúmeros), criados com o objetivo de oferecer espaço para criação, reuniões, entretenimento e, principalmente, conexão entre as pessoas.
Os avatares tridimensionais se tornaram outra forma de contato e comunicação, que, além de práticos, ofereciam conforto em alguns casos em que o impedimento do contato físico chegava a ser uma questão de saúde mental.
As múltiplas funções do metaverso
Diferentemente do que muitos pensam, os metaversos não são apenas espaços para entretenimento, descontração e relaxamento. Eles podem ser uma extensão da vida real. Aliás, nos dias de hoje, o que é real?
Dentre as diversas plataformas que surgiram nesse período está a Meta, nome adotado pela empresa Facebook. Esse metaverso tinha como objetivo ser uma extensão da própria rede social. No entanto, a qualidade dos gráficos, somada à necessidade do uso de óculos específicos, fez com que o projeto não alcançasse o sucesso esperado. Ao mesmo tempo, muitos outros ambientes digitais apareceram com propostas inovadoras, oferecendo maior liberdade e ambientes mais flexíveis. Ou seja, tudo o que um usuário deseja.
Entre as diversas plataformas existentes, a minha preferida chama-se Spatial (spatial.io). Ao se cadastrar, o usuário já tem a possibilidade de ter sua própria casa, um espaço onde seu avatar pode decorar como quiser, relaxar e convidar outras pessoas para visitar. Desde o início, a plataforma disponibilizou espaços padronizados para diferentes finalidades: palestras, conferências, reuniões, exposições e ativações de marcas. Como curador de artes, tenho utilizado esse ambiente para promover exposições virtuais únicas ou mesmo dar sobrevida a exposições que foram temporárias no mundo físico, mas que no virtual podem ser ilimitadas.
Uma sugestão é utilizar os espaços virtuais como galerias fotográficas. Nos últimos anos, o comportamento de consumo e compartilhamento de fotos mudou drasticamente. Primeiro, as fotos deixaram de ser impressas e guardadas; depois, deixaram de ser acumuladas, sendo postadas apenas as melhores em redes sociais; em seguida, seu tempo de apreciação foi reduzido de uma vida para um story e, hoje, para alguns segundos.
Com isso, um importante veículo de preservação da memória está deixando de cumprir seu papel. Mas, ao transferir um álbum de fotografias para o Metaverso, podemos eternizar esses momentos, torná-los públicos (ou não) para apreciação de mais pessoas e reaproximar aqueles que muitas vezes estão distantes de nós.
E se você ainda acha que o Metaverso pode ser um lugar vazio de sentido e significado, deixo aqui um provérbio oriental para reflexão: “Não conceba o vazio como sendo o nada.”