Bruno Dreher*
Big data
Dados: qual a importância da tecnologia que impacta cada vez mais a sua vida
“Dados são o novo petróleo” é uma frase se ouve cada vez mais - inclusive já falei sobre ela em outro artigo. Quando comecei a ouvir este bordão, entendia que ter um grande banco de dados tinha valor, mas não sabia bem o motivo.
Em 2018, estudei tecnologias emergentes na Universidade Hebraica de Jerusalém. No curso, a ciência de dados foi um dos temas mais abordados, juntamente com bioengenharia e biotecnologia. Quando entendi o poder da ciência de dados, entendi por que os bancos de dados se tornaram ativos tão valiosos hoje em dia.
Os bancos de dados sozinhos não servem para muita coisa. Fazendo uma comparação, dados são o novo petróleo e a ciência de dados é a nova refinaria. Com ela temos o poder de analisar, entender padrões e fazer previsões.
Imagine um médico que faz um diagnóstico de um possível câncer. Ele pega o exame, verifica alguns dados, vê alguns padrões, compara com os exames que já viu e chega a uma conclusão: é ou não um tumor maligno. Porém, quantos exames semelhantes ele vê ao longo da vida? Cem mil? Um milhão? Imagine que, para chegar a um milhão de exames, um médico precisa ver dez exames por dia, sem folgas, durante 274 anos. Em um banco de dados, você pode colocar bilhões de exames e comparar o novo exame com todos eles.
Quanto mais dados, mais assertivo é o diagnóstico. Eu recebi, durante o curso, um banco de dados com apenas 683 exames de câncer de mama e criei um algoritmo para prever o resultado de novos exames. A confiabilidade do algoritmo foi de 96,48%. Isso quer dizer que eu, um cientista de dados com menos de dois anos de experiência, que não pratica diariamente, tenho um algoritmo que irá acertar 96 em cada 100 exames de câncer de mama, usando um banco de dados muito pequeno. O modelo usado foi muito semelhante ao que Brittany Wagner criou aos 17 anos, com taxa de acerto de 99%.
A polícia de Oakland, na Califórnia, instalou câmeras inteligentes em suas viaturas. Conforme a viatura policial passa pelas ruas, ela vai tirando fotos dos carros estacionados, criando um banco de dados com a placa do automóvel, local, data e hora. Estes dados são abertos e estão disponíveis.
Então digamos que alguém cometa um crime e fuja, e as únicas informações que a polícia tem é que foi um fusca azul e que o crime foi cometido às 19h na rua X. Por acaso, você também possui um fusca azul. O policial entra no banco de dados e vê que seu carro foi fotografado às 18h50 em um local a 50 km do local do crime. Isso ajudaria você a provar a sua inocência.
Imagine se estas câmeras forem distribuídas ao longo das cidades, em semáforos, placas, etc. Além do quesito segurança, podemos fazer diversas análises como análises de tráfego, mudança da estrutura urbana, etc. Em alguns lugares, como na China, existem câmeras de reconhecimento facial espalhadas pela cidade que descobrem inclusive quem atravessou fora da faixa de segurança.
No filme Robocop, de 2014, o robô possui uma câmera de reconhecimento facial ligado diretamente ao banco de dados dos foragidos pela polícia. O sistema de inteligência artificial avisa automaticamente o robô, que faz a prisão. Esta tecnologia é totalmente possível nos dias de hoje.
Tudo isso gera uma grande discussão: a privacidade. Em 2016, estive em um evento onde ouvi o então presidente dos EUA, Barack Obama, responder questionamentos sobre a privacidade de dados. A resposta dele foi interessante:
“Nós já abrimos mão da nossa privacidade em nome da segurança em diversos momentos. Quando somos parados em uma blitz e entregamos nossos documentos, abrimos mão do anonimato. Quando passamos por um detector de metais, abrimos mão de parte da nossa privacidade sobre o que carregamos ou deixamos de carregar em nome da segurança de todos”.
As aplicações da ciência de dados juntamente com inteligência artificial beira o infinito, e por isso a profissão de cientista de dados é uma das mais procuradas e bem pagas do mundo.
Assim como qualquer ferramenta que possuímos, o banco de dados pode ser usado para o bem e para o mal. Mas, da mesma forma que a maioria das pessoas usa facas para cortar carne e não para cometer assassinatos, tenho a convicção de que usaremos esta poderosa ferramenta muito mais para o bem que para o mal. Nunca esquecendo que, como diria Thomas Jefferson, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.
Portanto, tome cuidado para que seus dados sejam compartilhados com empresas confiáveis, mas confie. No final, eles serão usados muito mais para o bem que para o mal.
*Bruno Dreher é consultor, palestrante, especialista em inovação pela Universidade Hebraica de Jerusalém, membro da World Futures Studies Federation (Paris, França) e World Future Society (Chicago, EUA).