Mauricio Pimentel*
Diretor-presidente no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI). Palestrante, professor de MBA, apaixonado por gente e por tecnologia.
Facilitando a vida dos cidadãos
Cidades inteligentes continuam complexas
Nos muitos anos em que atuo na docência no ensino superior, sempre dediquei energia e tempo na tentativa de diferenciar complexidade de dificuldade. No conceito comum, algo complexo se assemelha a algo difícil, de entendimento doloroso, de adoção sofrida. Mas essa visão está errada, ou pelo menos é bastante falha.
Provoco meus alunos com um exemplo singelo, que reproduzo aqui: Partindo do princípio que um motor à combustão de um carro novo é complexo (e por enquanto tomo isso como afirmação inicial), preciso perguntar se é também complicado, ou de difícil entendimento. A resposta mais sensata é que, para alguns, sim, é difícil, mas para outros não. Esses últimos são capazes de entender, atuar, discutir e até se apaixonar pelo tal motor.
Assim, podemos afirmar que atendendo a premissa colocada, a complexidade é um atributo do motor e a dificuldade um atributo do observador, portanto não pertencem sequer ao mesmo objeto, tampouco são a mesma coisa.
Bom, então o que significa complexidade? O conceito mais contemporâneo e pragmático é que é uma medida que representa o número de relações e integrações entre as partes de um objeto, um sistema ou uma cidade, por exemplo.
Quanto mais ingredientes, variáveis e relacionamento esse sistema tem e promove, mais complexo é. Quanto maior o número de componentes da malha ou do tecido sistêmico, maior é a complexidade.
Pensando numa cidade, podemos falar dos muitos aspectos de infraestrutura – tais como as ruas, praças, prédios, subsolo, calçadas, galerias; ou ainda das muitas variáveis humanas – convívio, papéis, funções; sem esquecer das questões políticas – governo, representação, decisões, projetos.
Podemos ainda imaginar o grande emaranhado das relações entre todos esses pontos e tantos outros que sequer citamos nesse texto. Isso nos dará a dimensão da complexidade da urbe ou da cidade.
Outro ponto de vista é a leitura de como as coisas acontecem nessa mesma cidade. Se ela é organizada, se os serviços são disponíveis, se as resoluções são agilizadas, se tem uma boa capacidade de projeção do futuro, de proteção contra incidentes graves, se está preparada para novas demandas coletivas e sociais. Tudo isso faz com que seja mais fácil ou mais difícil viver nessa hipotética cidade.
Ok, mas o que tudo isso tem a ver com as Cidades Inteligentes?
As Cidades Inteligentes tendem a facilitar as coisas no tocante aos acessos, ao convívio, à tomada de serviços e à vida cidadã rotineira, ainda que continue crescendo a sua complexidade social, política, econômica ou de governabilidade. Ou seja, buscar sempre e mais separar e isolar o quanto possível a complexidade da dificuldade de viver nas cidades.
A política pública, o governo, as decisões e mesmo a população local têm pouca capacidade de aumentar ou diminuir a complexidade de modo proposital, intencional ou planejado. A dinâmica da complexidade está ligada à evolução das cidades de modo muito mais forte que ao da mudança de planos e políticas, essas podem e devem atuar sobre a burocracia, os processos, os projetos, a forma de atendimento e resolução de demandas dos cidadãos, investidores, turistas ou qualquer outro que consuma a cidade, tornando a vida de cada um o mais fácil possível, ainda que sempre deliciosamente complexa.
Em resumo, as Cidades Inteligentes continuam complexas, mas são cada vez mais capazes de facilitar a vida dos seus cidadãos. Direto ao ponto.
*Mauricio Pimentel é diretor de Sistemas e Inovação no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI). Palestrante, professor de MBA, apaixonado por gente e por tecnologia.