Leonardo Jianoti*
Investimentos
O que Andy Warhol e o Velvet Underground ensinam sobre custo de oportunidade e risco
Quando o mago da pop art Andy Warhol se viu em algum momento de 1966 num porão em Manhattan (NY) diante de um quarteto musical ensurdecedor chamado Velvet Underground, enxergou ali uma oportunidade. De certo risco, evidentemente, mas que daria a ele a possibilidade de levar para mais gente uma manifestação cultural inovadora e, de quebra, ampliar seu capital imaterial como artista. Warhol empregou um pouco de dinheiro na banda e, sobretudo, seu prestígio, e conseguiu para eles um contrato para a gravação de um disco.
The Velvet Underground and Nico, o álbum, saiu em 1967. Mais de 50 anos depois, está na lista da revista Rolling Stone dos 50 melhores discos da história da música pop. E Lou Reed, principal compositor do grupo, é sem dúvida um dos compositores mais brilhantes que crítica e público já puderam reverenciar.
A ousadia e percepção de Warhol podem nos trazer muitas inspirações como investidores audaciosos. Investir no mercado financeiro tradicional — títulos da dívida pública, CDBs, fundos de renda fixa — pode ser de fato a maneira mais segura de esperar por rentabilidade. Mas essa forma faz pouco pela economia real, a que afeta você e eu cotidianamente. Há uma maneira mais rápida de aliar investimento e interferência positiva nessa economia de todos nós.
O equity crowdfunding é como um financiamento coletivo voltado a disponibilizar recursos a pequenas e médias empresas em busca de capital. Regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários, permite ao pequeno empreendedor fazer ofertas públicas para captar recursos em plataformas regulamentadas pela CVM. E dá ao investidor a chance de investir em negócios promissores ainda em seu estágio inicial em troca de uma participação no negócio.
A diferença para os modelos tradicionais de investimento é que, neste caso, é dinheiro injetado diretamente nas veias de empreendimentos como startups de tecnologia e de setores como energia renovável, imobiliário, agropecuário e florestal. Em uma economia em que as PMEs são responsáveis por mais de 50% dos empregos gerados no país, e que, segundo o Sebrae, respondem por 30% do PIB brasileiro, é interferência positiva direta na economia real.
Analisando outras possibilidades de investimento, em um cenário de Selic a 2% ao ano, investir em modelos tradicionais como títulos da dívida pública ou renda fixa, que acompanham de perto a taxa básica de juros, não parece a opção mais atraente — alguns diriam que a renda fixa virou perda fixa.
No mercado de ações, as opções são os investimentos em empresas sólidas, com lastro de bom desempenho na bolsa de valores, que podem aplicar o volume obtido via venda de ações em seus negócios e, em algum momento, vão render dividendos aos acionistas. Mas o caminho que o dinheiro faz até chegar nessas empresas, que normalmente têm acesso mais fácil a linhas de crédito de instituições como o BNDES, por exemplo, é mais longo até chegar à sua real aplicação e seu impacto na economia real.
Para incluir mais empresas nesse modelo de captação de recursos em meio a uma crise econômica e sanitária sem precedentes, a CVM alterou até o fim deste ano as regras do jogo. Se antes, apenas as empresas que registram faturamento menor do que R$ 5 milhões no ano anterior poderiam ir às plataformas atrás de recursos, agora as companhias com receita nesse valor no primeiro semestre também estão aptas e realizar ofertas públicas pelas plataformas de financiamento coletivo. O órgão reduziu ainda de um terço para a metade o percentual da oferta para que ela seja considerada bem sucedida.
Em Curitiba, uma startup decidiu criar um marketplace para negociar artigos esportivos usados. Criada por três empreendedores com experiência em empresas sólidas, tradicionais, a plataforma permite que interessados nesses itens possam comprar e vender a preços acessíveis. E, por tabela, gera benefícios ambientais ao reaproveitar em uma economia circular o que iria para o lixo.
De cara, a startup abriu dois postos de trabalho qualificados, e já no primeiro ano espera aumentar o time para 20 pessoas. Não fosse o modelo de investimentos coletivos, teria dificuldade de ter acesso a crédito tradicional para aplicar no negócio.
Warhol poderia ter aplicado seu tempo, dinheiro e prestígio em qualquer outra coisa que lhe parecesse, inicialmente, mais seguro e rentável — em sua própria carreira ou em uma redecoração da Factory, seu ateliê em Manhattan, por exemplo. Algo que não envolvesse o risco de um eventual fracasso — os Velvets nunca foram sucesso de vendas — mas que pouco acrescentaria ao universo cultural norte-americano. Só que ele entendeu qual o custo de oportunidade e o risco que corria. E que naquele porão havia gente talentosa fazendo algo inovador. O disco está eternizado como um clássico absoluto, e rendeu ao artista plástico mais um motivo para ser chamado de visionário. O investidor não precisa ser genial como Warhol; basta avaliar e aproveitar as oportunidades.
*Leonardo Jianoti é co-fundador da Platta, plataforma eletrônica de investimento coletivo.