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Flavio Tavares

Flavio Tavares é referência em mobilidade no Brasil. Tem incentivado empresas e líderes a repensarem a maneira como fazem negócios e a terem um olhar mais sensível em relação às pessoas. É palestrante, fundador do Instituto PARAR, a maior plataforma de inovação e educação em mobilidade corporativa do Brasil, idealizador da Welcome Tomorrow, o principal evento sobre mobilidade e futuro da América Latina, e uma das maiores vozes sobre propósito da atualidade.

O perigo do #sextou

O ano deve começar só depois do carnaval?

07/03/2020 10:00
Não sei você, mas nunca fui muito fã de assistir aos desfiles de escolas de samba. Eu acho linda a expressão cultural que existe ali, fico impressionado com nossa capacidade criativa e como conseguimos mostrar ao mundo nossa alegria mas, para mim, assistir sempre foi entediante. Lembro que meu pai gostava muito de assistir e passava a madrugada vendo as escolas — ele, inclusive, torcia muito pela Portela. Acho que, por conta disso, o que eu mais gostava de acompanhar era a apuração das notas na quarta-feira de cinzas.
Até hoje acho bacana ver e ainda tenho uma torcida pela Portela por conta do meu pai. Este ano, por exemplo, foi incrível a virada da Viradouro, praticamente no último quesito. Mas uma lembrança maior que tenho e que se reforça todos os anos é que o ano só começa depois do Carnaval.
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Este ano, vi muitas pessoas publicando memes desejando um feliz ano novo logo após o Carnaval. Isso sempre me intrigou: por que o ano só começa agora? Reza a lenda que não trabalhamos antes, que todo mundo está de férias e que só nos dedicamos mesmo às nossas agendas profissionais logo que acaba a quarta-feira de cinzas.
Um dos temas que mais tenho falado nos últimos anos é sobre nossa relação com o tempo. Criamos uma atmosfera compartimentada dentro dele, como se conseguíssemos ser personagens diferentes dentro das lacunas do tempo que estamos inseridos.
Se estamos na lacuna do tempo chamada “férias” somos mais alegres, mais soltos e felizes. Se estamos na lacuna do tempo chamado “trabalho” ficamos mais ranzinzas, mais chatos e mais presos. Enfim, o tempo se divide em vários compartimentos, é normal que seja assim, mas o que temos que aprender é que nós não precisamos ser pessoas diferentes nas lacunas diferentes do tempo.
No Brasil, criamos uma relação muito negativa com o
trabalho, como se o tempo que estamos ali para produzir não fosse algo bom para
a vida. Vemos isso nas sextas-feiras, quando inundam as redes sociais os memes
mais alegres porque “sextou” e, na segunda, os mais tristes do tipo “mais uma
semana ????”. Sabia que por causa dessa nossa relação com tempo, trabalho
e vida, somos muito menos produtivos que muitos países? Por exemplo, o
americano produz, em média, em uma hora de trabalho, quatro vezes mais do que o
brasileiro. Fazemos 25% do que um americano faz em uma hora.
Tenho defendido que temos que aprender que somos seres
indivisíveis, não existe separação em quem somos em relação ao tempo em
família, no trabalho, nas férias, com os amigos. Somos a mesma pessoa exercendo
papéis distintos, mas todos eles deveriam nos orgulhar, pois ali temos a
oportunidade de mostrar quem somos e aprender sobre nossa melhor versão todos
os dias. Quanto mais entendermos isso, mais produtivos seremos em todas as
áreas, porque a questão não será externa e, sim, interna, sobre as marcas que
você vai deixar na sua história.
Sabe, tenho falado muito sobre essa busca que a sociedade
atual tem em relação a se fazer o que ama, o que acho um erro, porque temos
perdido muito tempo tentando encontrar o que amamos e esquecemos de amar o que
estamos fazendo agora. O futuro é agora, e se colocarmos nosso coração no que
fazemos agora, mostraremos quem somos de verdade e isso nos definirá, enquanto
se buscarmos fazer o que amamos, nossa identidade estará pautada no que fazemos
e não em quem somos, entende?
Então, o ano não começa depois do carnaval, ele já começou para mim há muito tempo, e para muitas pessoas que conheço, que estão desde o primeiro dia do ano, buscando serem melhores pais, cônjuges, profissionais e tem se dedicado a fazer do tempo uma linda expressão de suas próprias vidas.
Temos que aprender a sair do Chronos, que é o tempo opressor, baseado no tempo do relógio, e começar a viver no Kairós, que é o tempo da vida, porque, no fim, quando demoramos para entender isso, o que perderemos não será o tempo, estaremos perdendo nossas próprias vidas. Temos muito o que produzir e fazer para tornar o Brasil um lugar mais justo, mais democrático, com mais oportunidades para todos e isso só depende de mim e de você. Vamos em frente que 2020 promete ser o melhor ano de nossas vidas.