
Cris Alessi
Cris Alessi é consultora de inovação e transformação digital, conselheira, palestrante, investidora-anjo e autora do livro "Gestão de Startups: desafios e oportunidades”.
Indústrias inteligentes, decisões precisas: o poder dos gêmeos virtuais
Empreendedorismo e inovação. Visões, ações e confusões para um mundo em movimento
A transformação digital não é mais uma promessa futura: ela está acontecendo agora, moldando os bastidores da indústria com ferramentas capazes de prever o comportamento de um produto antes mesmo que ele exista fisicamente. Entre essas tecnologias, os gêmeos virtuais se destacam como uma inovação muito estratégica do presente.
Já falei sobre eles aqui, enfatizando que indústrias e até a gestão pública podem se beneficiar neste cenário. E sobre o que diferencia um gêmeo virtual de um modelo digital.
Modelos digitais (conhecidos como digital twins) oferecem uma representação estática ou visual de um objeto. Já os gêmeos virtuais vão muito além: eles simulam comportamentos complexos, interagem com o mundo real em tempo real e são capazes de subsidiar decisões com base em dados e cenários diversos. São organismos digitais “vivos”, que aprendem, evoluem e respondem a variáveis externas, funcionando como um verdadeiro laboratório para inovação.
Essa capacidade faz dos gêmeos virtuais uma peça-chave dentro do PLM (Product Lifecycle Management) — a Gestão do Ciclo de Vida de Produtos. O PLM organiza todas as fases de um produto — da concepção ao descarte — promovendo integração, colaboração e inteligência em cada ponto de decisão. O gêmeo virtual, inserido nesse contexto, potencializa a previsibilidade e a performance, antecipando problemas e otimizando recursos desde a primeira ideia até o uso final.
Imagine testar o desempenho de um novo carro elétrico antes que ele seja montado. Agora, vá além: simule sua produção na fábrica, otimize o layout da linha de montagem e antecipe o comportamento do operador da máquina. Com os gêmeos virtuais, tudo isso é possível — e mais: essas simulações ajudam a reduzir erros, melhorar a segurança, economizar recursos e acelerar o time to market.
Mas essa capacidade não se limita à indústria automotiva. Setores diversos já estão se beneficiando da aplicação de gêmeos virtuais. Na manufatura, o uso se estende desde a engenharia de produto até a personalização em massa, na gestão de supply chain os gêmeos virtuais permitem prever gargalos logísticos, testar cenários de abastecimento e antecipar impactos em toda a cadeia de suprimentos. Na gestão pública, os gêmeos virtuais estão sendo usados para modelar cidades inteiras, permitindo simulações sobre mobilidade urbana, impacto de eventos climáticos, uso eficiente de energia e até segurança pública.
Até setores menos óbvios como o agronegócio podem se beneficiar, onde é possível simular ambientes de beneficiamento de sementes, prever o impacto de variações climáticas e otimizar cultivos com base em simulações avançadas.
E vale destacar: não estamos falando apenas de grandes indústrias. Startups, scale-ups e até negócios tradicionais em transformação digital já estão incorporando essas simulações avançadas para criar produtos mais inteligentes e processos mais sustentáveis.
Para empresas e governos que estão desenhando o amanhã, a adoção de tecnologia não é mais opcional. Trata-se de uma vantagem competitiva real. Buscar soluções que ofereçam respostas ágeis em cenários de crise, ajustando parâmetros sem que um parafuso seja apertado. Também facilitam o design centrado no usuário, testando usabilidade e desempenho antes mesmo que o produto chegue às mãos do consumidor.
O futuro será moldado por quem conseguir antever possibilidades, ajustar rotas em tempo real e testar o novo antes que ele aconteça. Para inovação de verdade, isso faz toda a diferença.