James Cichy
Mentoria e coaching não são sinônimos
Quando o assunto é mentoria no contexto de negócios, não é incomum confundi-la com coaching, com o qual até há semelhanças e que pode ser considerado um processo complementar. O certo, contudo, é que uma técnica não é sinônimo da outra, vez que os métodos, propósitos e qualificações dos profissionais são distintos.
O coach, que significa, literalmente, treinador, tem como papel principal extrair da pessoa a quem auxilia o seu melhor. Munido de metodologias e ferramentas específicas, o coach provoca o assessorado, a partir de determinadas perguntas, a descobrir, sozinho, o que precisa ser modificado ou melhorado em sua vida profissional ou pessoal – a depender dos objetivos do treinamento –, em que aspectos ele pode estar errando, o que está travando seu crescimento, entre outros pontos.
O papel do coach, dessa forma, é como que o de um guia em uma jornada de autoconhecimento. Quaisquer decisões, entretanto, serão tomadas pelo coachee (o cliente do coach), com foco em fazer vir à tona o melhor de si.
A mentoria, por sua vez, pressupõe uma atuação de tutor, de compartilhar conhecimento e experiências, de pegar o mentorado “pela mão” e ensiná-lo. O coach não aponta ao coachee o que é certo ou errado, pois é o assessorado que deve identificar, sozinho, onde pode melhorar, enquanto o mentor vai orientar e dizer com todas as letras o que precisa ser feito.
É óbvio que não se trata de uma imposição, pois o diálogo é fundamental, mas são diretrizes repassadas com base na experiência de quem está aplicando o mentoring. No caso de uma empresa, por exemplo, o mentor vai dizer, sem meias palavras, se determinado setor demanda reestruturação, se há necessidade de realocar ou demitir um colaborador, se o planejamento precisa ser refeito, etc.
Ao se falar das diferenças entre mentoring e coaching, essencial também destacar o background de quem vai conduzir o processo. Para se tornar coach, o interessado pode se matricular em cursos de formação, sem necessidade de experiência prévia, voltados às mais diversas finalidades, de business and executive coaching a coach de vendas, cada um com suas técnicas e metodologias particulares.
Por outro lado, não basta se matricular em cursos de mentoring para ser mentor. É claro que é super importante e extremamente válido aprender metodologias, ferramentas, curadoria e outros temas relacionados nos cursos existentes . Mas o que faz um mentor é a sua bagagem profissional e até mesmo emocional, de vida mesmo. Um curso, por mais que tenha 100, 200 horas de carga horária, não lhe dá experiência. Ele confere conteúdo, conhecimento, técnicas. Para ser mentor, porém, precisa-se de prática. É impossível ser mentor em início de carreira, por melhor que você seja em sua área de atuação. Para coordenar um mentoring, é necessário já ter, inclusive, cometido erros, para mostrar ao mentorado como evitá-los.
Ser mentor, afinal, é transmitir conhecimento aliado à prática, é ser professor. Se já praticou o que ensina, é por isso que ele terá autonomia para recomendar contratações, reestruturações, mudanças de rota. O coach evita esse tipo de recomendação, já que leva o coachee a perceber os problemas por si e, também sozinho, tomar uma ação. O mentor dá o caminho, desenha o plano de ação, ajuda a corrigir um processo que não deu certo. É a experiência de vida de um mentor que traz resultado. Método, por si só, não traz frutos.
E se o que confere qualidade ao mentoring é a experiência do mentor, deve-se ressaltar que trabalhar com um único profissional talvez não seja a melhor solução. Isso porque o mentor traz especialidade, domínio, sobre determinada área, seja um tema comercial, mais técnico – de engenharia, tecnologia, direito –, de gestão de pessoas. Assim, para que se tenha um desenvolvimento significativo, é essencial atuar com, ao menos, dois mentores, numa soma de forças.
Quero ressaltar que não considero o coaching uma técnica inferior ao mentoring. Pelo contrário. Acredito, inclusive, como escrevi logo no início do texto, que elas podem, muito bem, complementar-se. É bastante interessante trabalhar com um mentorado que já passou pelo coaching e identificou seus próprios potenciais e pontos de melhoria. É uma pessoa, digamos, mais esclarecida quanto às suas próprias competências e limitações. O que é mandatório ter em mente é que são procedimentos distintos, com metodologias e objetivos próprios, que não se confundem.