
Thiago Muniz
Thiago Muniz é CEO da Receita Previsível Consultoria, professor na FGV em todo o Brasil de marketing e vendas e mentor de negócios.
Cresça 1% todo dia
Transforme a cultura da sua empresa no MBA mais completo do mercado
Seu melhor vendedor continua sendo o mesmo de dois anos atrás? Nesse caso, sua empresa parou de evoluir, mesmo que o faturamento diga outra coisa.
O mesmo se aplica a qualquer outro funcionário.
Em equipes híbridas e aceleradas por IA, os primeiros sinais de fraqueza não aparecem nas planilhas, mas nos relacionamentos. À primeira vista, todos se dão bem, ninguém confronta decisões delicadas, as reuniões terminam rápido.
Contudo, por trás dessa superfície pacífica instala-se o medo de errar; as pessoas deixam de dizer o que pensam; líderes adiam conversas difíceis. A Cultura passa a girar em torno da manutenção do que já existe, e o crescimento, bom, esse é esquecido.
Esse silêncio custa caro. Pesquisa da McKinsey, What employees say matters most to motivate performance, mostra que apenas 21 % dos profissionais que não recebem feedbacks regulares se sentem engajados; quando o diálogo é contínuo, esse índice sobe para 77 %. Já o estudo da Forrester, Managers Who Coach Their Employees Drive Retention revela que colaboradores que enxergam seus gestores como coaches têm 1,5 × mais chances de permanecer na organização.
Sem transformar a Cultura em laboratório de desenvolvimento diário, a empresa seguirá no piloto automático para a estagnação. E do lado de fora, você verá o mercado trocando de marcha e acelerando te deixando para trás.
Aprender trabalhando > supera aprender ouvindo.
Quando o assunto é formar líderes, ainda se confunde evento com processo. A consultoria McKinsey, no estudo Why leadership-development programs fail mostra:
- apenas 7 % das empresas acreditam, de fato, desenvolver líderes com eficácia;
- quase 30 % admitem perder oportunidades de crescimento porque não têm pessoas capacitadas para assumir novos desafios.
Ou seja, a lacuna de liderança já está custando mercado.
A Harvard Business Review, em Why Leadership Training Fails—and What to Do About It, confirma que treinamentos deslocados da rotina raramente mudam comportamento: líderes evoluem muito mais rápido quando aprendem dentro dos projetos reais do que em workshops isolados.
Essa combinação de aprendizado + ação também aparece nos números de Andy Grove. No clássico Gestão de Alta Performance, o ex-CEO da Intel demonstra que se um gestor dedica apenas 2 % a 4 % da própria agenda semanal a ensinar o time, basta que a equipe melhore 1 % para gerar centenas de horas de produtividade extra em cada trimestre.
Pouco tempo; impacto enorme.
Em síntese, os três estudos convergem:
- Aprender trabalhando > supera aprender ouvindo.
- Ritmo curto e contínuo > vence megasessões anuais.
- Líder-professor é a espinha dorsal de uma Cultura que se renova sprint após sprint.
Quando tecnologias e produtos viram commodities, o único diferencial sustentável passa a ser a velocidade com que sua Cultura fabrica novos líderes e isso se mede dentro do expediente, no dia-a-dia de trabalho.
Servir para liderar, liderar para crescer
Gestores que ensinam durante a rotina criam um ambiente onde erros são processados imediatamente como matéria-prima de melhoria, em vez de se acumularem em silêncios constrangedores. Esse espaço seguro nasce do princípio de liderança-serviço: primeiro apoiar o time, depois colher autoridade genuína.
Nos rituais mencionados na etapa anterior, o líder coloca-se na base de uma pirâmide invertida: sustenta o grupo por meio de mentoria contínua. Quanto mais serve, mais confiança constrói, e essa confiança acelera decisões, reduz atritos e incentiva metas ambiciosas.
Em termos práticos:
- Reuniões semanais viram aulas magnas onde aprendizados circulam antes que problemas cresçam.
- O one-on-one quinzenal oferece pista de pouso para dúvidas e ajustes de rota exclusivamente para cada colaborados (principalmente líderes).
Unindo serviço e sistema, a Cultura transforma o expediente em MBA diário, capaz de formar líderes na velocidade que o mercado exige e precisa.
Rituais que mantêm a Cultura pulsando de segunda a sexta
Na segunda-feira de manhã, a empresa abre a semana com a Growth Meeting. Em 1 hoara e meia, cada área compartilha seus números-chave: Marketing revela leads gerados e custo de aquisição; Tráfego mostra desempenho das campanhas e taxa de cliques; Pré-vendas apresenta conversões por segmento; Vendas fecha com receita, ticket médio e ciclo de fechamento. Esse desfile de métricas cria três efeitos imediatos: todo o time vê a mesma fotografia, identifica gargalos antes que cresçam e entende como cada indicador se conecta ao próximo passo do funil.
O segundo ritual é o Daily realizado logo após o almoço. Em uma rápida rodada, cada pessoa usa essa reunião para resolver problemas rápidos. A conversa leva menos de quinze minutos e remove atritos que poderiam custar horas de retrabalho.
Esses dois encontros se complementam. A Growth Meeting oferece visão estratégica semanal e responsabiliza cada área pelo resultado acumulado. O Daily garante que nada fique parado entre uma segunda e a próxima. Esse é um dos pontos mais importantes para uma Cultura de crescimento: rituais.
A cultura da empresa precisa ser uma academia de performance
Imagine entrar em uma academia logo cedo. Os pesos estão ajustados, o instrutor circula entre as estações e cada pessoa repete o movimento de forma controlada. A lógica por trás daquele ambiente é simples: sobrecarga progressiva, acompanhamento técnico e feedback instantâneo.
Aplicado à empresa, esse cenário traduz o conceito de Cultura-escola.
A Growth Meeting faz o papel da balança que registra a evolução semanal. O Daily equivale ao ajuste fino na carga antes de um novo exercício. Já os check-ins e one-on-ones funcionam como observação do instrutor, corrigindo postura e evitando lesões que custariam caro depois. Quando esse ecossistema de treino opera todos os dias, as pessoas ganham força comportamental e técnica no mesmo ritmo em que a empresa cresce em receita.
No treino físico os resultados aparecem no espelho. No treino corporativo eles surgem na agilidade das entregas, na segurança das decisões e na quantidade de problemas resolvidos na primeira tentativa. A Cultura, então, deixa de ser decorativa para se tornar músculo competitivo, pronto para sustentar maratonas de mercado cada vez mais e mais exigentes.
A decisão que molda seu legado de liderança
Toda empresa sonha com times engajados, clientes fiéis e números que sobem em linha constante. Mas esses resultados não surgem por acaso; nascem de líderes que investem o próprio tempo para transformar o expediente em MBA prático. Cada Growth Meeting desvenda gargalos, cada Daily destrava rotas, cada feedback expande a visão de quem está executando.
A pergunta que fica é direta: qual agenda você vai priorizar amanhã? Se a planilha de vendas consome todas as horas e o desenvolvimento do time recebe o que sobra, a Cultura vai se perder. No entanto, quando reservar espaço para mentoria, reflexão e celebração, verá talentos avançarem um semestre em poucas semanas.
Ou anos, em 1 ano.
Liderar, nesse contexto, é escolher o esforço que multiplica esforços. É preferir a paciência de ensinar ao controle de microgerenciar. É construir líderes em cadeia, cada um habilitado a servir o próximo desafio sem esperar o seu resgate.
Se produtos se comoditizam e técnicas se copiam, a única vantagem que permanece é a velocidade de formação de novas lideranças. Comece pelos rituais simples descritos aqui, e libere a alavanca de horas revelada por Grove. O resultado, com o tempo, será visível nas métricas e tangível na cultura: uma empresa que fabrica seus próprios cases de sucesso.
Seu foco não deve ser comprar um jogador caro, e sim, fazer um jogador da base se construir pelo MBA que é a sua empresa.