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Séries como "O Urso" têm muito a ensinar sobre liderança e ambientes organizacionais. Crédito: Freepik.

Chiara Itaborahy

Autoconhecimento e liderança

Liderança: qual é a sua estratégia de lifelong learning?

25/01/2024 14:25
Estamos iniciando o ano e você deve estar se perguntando de que forma irá se desenvolver ao longo do ano, ou quais serão os estímulos para desenvolver seus liderados.
Sabemos que o ócio criativo tem um papel fundamental para gerar insights. Então, por que não aproveitar para maratonar suas séries favoritas e ter aulas sobre diversas temáticas?
A Chiara Itaborahy, executiva na área de pessoas e cultura, nos brindou com a reflexão sobre a série “O URSO”.

“O Urso” e o que temos a aprender sobre liderança e ambientes organizacionais

“O Urso” é uma série lançada em 2022 pela FX que demonstra a vida em um restaurante. A história se inicia quando Carmen "Carmy" Berzatto, um chef da alta gastronomia, assume a lanchonete “The Original Beef” herdada após a morte de seu irmão.
Como toda transição de liderança, Carmen enfrenta a resistência de seu time, em um contexto repleto de stress, desordem e desrespeito. Como fazer esse negócio dar certo?
A série traz diversas reflexões apuradas sobre gestão de pessoas, negócios, atendimento ao cliente e liderança.
Listo, abaixo, algumas das principais reflexões sobre liderança e ambientes organizacionais expostas na série.

Autoconhecimento e liderança

A primeira reflexão se inicia com o próprio Carmy, que está passando por um momento de sofrimento. Como liderar frente às nossas dificuldades pessoais, nossas vulnerabilidades e nossas questões de saúde mental?
No caso do Carmy, fica evidente como sua história de vida e seu momento pessoal influenciam diretamente em suas decisões profissionais e na sua atuação como líder.
Um líder deve começar seu próprio desenvolvimento pelo autoconhecimento. Daniel Goleman traz a importância do autoconhecimento na liderança no livro “Liderança: a inteligência emocional na formação do líder de sucesso”. Segundo o autor, o autoconhecimento (ou autoconsciência), que é um aspecto crucial na inteligência emocional, impacta diretamente na forma como você atua.
E é o autoconhecimento que trará a base para que um líder conheça melhor seu time. Como disse Sócrates, “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. Como observado na série, o espectador consegue ver a equipe do “The Original Beef” dentro e fora do ambiente profissional. Essa visão exemplifica que não há divisões entre vida pessoal e profissional.
Na vida real, tende-se achar que é possível separar o pessoal do profissional. Porém, um líder humanizado reconhece a integralidade de seu time e dedica tempo para conhecer seu time profundamente, por meio de uma atitude proativa e empática, e de conversas intencionais e verdadeiras.

Todos somos chefs

Carmy encontra um grupo muito resistente ao seu novo estilo de liderança e suas propostas. A autoestima do grupo também está abalada, não se sentem capazes de fazer algo além daquilo que já era usual.
Em um dos episódios, Carmy diz que todos serão chamados de chefs. Ele mesmo se dirige a todos como chefs. E nesta ação simbólica, ele consegue se colocar no mesmo nível de todos e, ao mesmo tempo, dar poder, autonomia e responsabilidade. Por consequência, o time, que achava que nunca teria tamanha responsabilidade, consegue enxergar a extensão de suas capacidades.
Quantos ambientes organizacionais não têm uma dinâmica em que existam dois grupos: o dos líderes e o dos liderados? Nesses locais, esquece-se de que, na verdade, todos são contribuintes de um mesmo resultado.
Quando um líder tem a audacidade de quebrar uma estrutura tradicionalmente hierarquizada, ele reconhece o outro, empodera e constrói uma cultura de protagonismo.

Visão compartilhada

É na segunda temporada que o engajamento da equipe de Carmy muda efetivamente, quando há uma decisão de abandonar o velho modelo da lanchonete e partir para a construção de um novo restaurante.
Carmy compartilha a construção deste novo negócio com seu time e quando a visão do que eles poderiam ser juntos é compartilhada, é notável como cada um se dedica e entrega de uma maneira diferenciada.
A equipe entra de “corpo e alma” neste desafio, buscando seu autodesenvolvimento e entregando de forma engajada. A correlação entre propósito compartilhado e performance, que já foi tema de pesquisas, é retratada de forma brilhante na série.

Enxergue o potencial, invista em seu time e inove

Diante da visão compartilhada, Carmy rapidamente se posiciona em sua nova atribuição: deixar de ser o chef de cozinha e passar a gerir um negócio.
Para isso, cada membro da equipe deverá assumir um novo papel. Desde Sydney, assumindo o papel de nova chef de cozinha, até ajustes que ela mesmo faz em seu time.
Mas nenhuma mudança ou alocação de equipe é feita de maneira impulsiva. Sydney e Carmy conhecem muito bem seus colaboradores, seus pontos fortes e vulnerabilidades. E, por este motivo, antes do início das atividades, vários membros da equipe passam por ações imersivas de desenvolvimento, nas quais ampliam seus horizontes sobre suas práticas e aportam segurança e confiança no desempenho individual. Ir a campo, ver práticas diferentes, gera no grupo, automaticamente, ideias e uma forma diferente de pensar.
Nem toda iniciativa de desenvolvimento dá certo. Um dos personagens não consegue se adaptar à nova função e acaba abandonando seu novo posto de trabalho.
A série demostra a importância de se pensar e planejar as famosas “movimentações organizacionais”. Fazer mudanças numa equipe requer um profundo conhecimento dos indivíduos: suas experiências já vividas, suas habilidades, suas vulnerabilidades e suas ambições.
E, após conhecer bem sua equipe, um líder, ao delegar novos desafios, deve pensar cuidadosamente em como preparar a pessoa para sua nova atribuição e construir com ela seu plano de desenvolvimento.
Outro insight importante aqui é a necessidade de ir para fora, “romper a bolha”, como forma de inovar. Um líder deve ser o impulsionador de seus colaboradores, proporcionar e provocar aprendizados e idas “ao mundo” como forma de criar uma cultura de inovação e excelência.

A experiência para o cliente

A cozinha do “The Beef” beira ao caos no início da série. Uma equipe com uma comunicação agressiva, processos desordenados, desperdício, falta de profissionalismo. A história demonstra claramente, com inúmeras situações, que o que acontece da porta para dentro impacta diretamente no serviço entregue ao cliente.
Já na segunda temporada, é possível ver que, quando a equipe opera de forma alinhada, consistente e engajada, ela consegue VER e OUVIR o cliente. Suas dores, desejos, necessidades. E é aí que a excelência na experiência para o cliente acontece.
Não adianta a empresa ter como “mantra” o foco no cliente, quando não existe o foco e cuidado com as pessoas. Na verdade, o cuidado com o cliente começa no cuidado com os colaboradores.
No fim da segunda temporada, vemos a verdadeira essência de uma liderança eficaz. Carmy se ausenta justamente na abertura de seu novo restaurante e o resultado é que a equipe assume seu protagonismo e faz o negócio acontecer. O principal objetivo de um líder foi cumprido: ser substituível.
Autoconhecimento e liderança, visão compartilhada, desenvolvimento de equipe e excelência de atendimento são apenas algumas das reflexões sobre a atuação do líder e ambientes organizacionais na série “O Urso”. Mas o verdadeiro aprendizado está no poder transformador da liderança e das pessoas. Um líder que empodera seu time, gera desenvolvimento, dá oportunidades e confia, gera engajamento, resultados e um negócio diferenciado.
Com certeza, Carmy e Sydney enfrentarão novos desafios, assim como todos os líderes, dia após dia, mas isso é história para a próxima temporada.
E você, quais são as séries e filmes que inspiram sua liderança?
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E vem aí o GazzSummit

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