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Startups têm apostado em eficiência operacional e planejamento financeiro para crescer de forma sustentável, sem depender exclusivamente de aportes externos. Crédito: Reprodução.

Beatriz Bevilaqua

Beatriz Bevilaqua

Jornalista e Comunicadora de Startups. Formada pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), foi condecorada em 2013 pelo Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, em Curitiba, pelo Sindijor PR e, em 2019 E 2021, como Melhor Profissional de Imprensa do Brasil pelo Startup Awards, maior premiação do ecossistema de startups da América Latina. Instagram @beatrizbevilaqua.

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Além dos aportes: como startups estão crescendo sem grandes rodadas de investimento

01/04/2025 11:32
O cenário de captação de investimentos para startups continua desafiador em 2025, refletindo as mudanças macroeconômicas de 2023 e 2024 e os impactos de valuations inflados dos anos anteriores. Segundo a plataforma de gestão de patrimônio Carta, 966 startups encerraram suas atividades em 2024. A escassez de capital dos últimos dois anos criou dificuldades especialmente para startups em busca de financiamento - mas isso não quer dizer que não haja alternativas; e nem que não tenha havido reflexos positivos para o mercado.
O cenário levou startups a replanejarem suas estratégias financeiras, cortando custos e priorizando projetos essenciais. Esse movimento, apesar de doloroso, possibilitou uma maior maturidade no uso dos recursos e a formação de times mais resilientes. "Mesmo que em velocidade mais lenta, estamos em um momento em que a construção dos resultados de longo prazo se tornou mais consistente e viável”, comenta Lívia Calandra, Líder da Vertical MB Startups do MB | Mercado Bitcoin.
Segundo a especialista, os investidores não deixaram de buscar startups com alto potencial de crescimento, mas agora exigem dos empreendedores uma demonstração mais consistente dos aprendizados adquiridos nos últimos anos: os planos de longo prazo precisam estar bem estruturados e embasados na realidade econômica e de mercado.

Como startups podem expandir sem recorrer a captações agressivas

Para driblar desafios de captação, startups têm apostado em eficiência operacional e planejamento financeiro para crescer de forma sustentável, sem depender exclusivamente de aportes externos. Fernando Trota, founder e CEO da Triven, empresa especializada em gestão financeira para empresas de tecnologia, ressalta que uma gestão financeira estratégica tem sido um fator crítico para a sobrevivência e escalabilidade dos negócios.
"O dinheiro não pode ser um fim em si mesmo, mas um meio para viabilizar crescimento real. Startups que estruturam bem seus custos e validam suas hipóteses rapidamente conseguem se fortalecer, mesmo sem grandes rodadas de investimento", explica Trota.
Um dos desafios enfrentados pelos empreendedores é garantir que o capital disponível — seja próprio, de clientes ou de investidores — seja utilizado da maneira mais eficiente possível. Isso exige processos financeiros bem definidos, cenários preditivos realistas e o uso de estratégias como finance hacking, que otimiza o caixa e permite que a startup avance mesmo diante de restrições financeiras. Dessa forma, é possível estruturar a operação para extrair o máximo dos recursos disponíveis, priorizando iniciativas que geram retorno mais rápido e reduzindo a dependência de aportes externos.
A experiência da Triven mostra que startups que equilibram crescimento e solidez financeira conseguem atravessar períodos de incerteza com mais resiliência. "O cenário atual reforça a importância de um modelo sustentável, que permita crescimento sem depender exclusivamente de capital externo. A chave está em estratégias financeiras inteligentes e execução eficiente", conclui o executivo.

Crescimento sustentável e vesting: alternativas ao capital externo

A aposta em crescimento orgânico e a adoção de planos de vesting são estratégias que também têm demonstrado resultados para que startups não dependam exclusivamente de grandes rodadas de investimento. Healthtech especializada em governança de dados regulatórios, a Blendus optou por essas alternativas ao considerar o contexto altamente nichado do mercado de atuação. “As contrapartidas exigidas por investidores externos seriam proporcionalmente elevadas, tornando o custo desse tipo de capital menos atrativo”, comenta Flávio Exterkoetter, CEO e sócio-fundador da Blendus.
A estratégia encontrada foi reinvestir os recursos gerados pela operação, a partir de um esforço que resultou em crescimento orgânico, conquista de novos clientes, otimização de processos e padronização de entregas. “Essa trajetória nos proporcionou um fluxo financeiro positivo e sustentável, permitindo investimentos planejados para 2024 e a formação de reservas para iniciativas em 2025”, conta o executivo.
Outra medida adotada foi a implementação de um plano de vesting, incorporando talentos estratégicos ao quadro societário. "Com metas de crescimento estabelecidas para os próximos três anos, esse modelo nos permite reter e engajar profissionais-chave para a continuidade da expansão, garantindo que o conhecimento e a expertise permaneçam dentro da empresa", acrescenta Flávio Exterkoetter.

Captação tokenizada é alternativa para startups

Além disso, graças à tecnologia, novos modelos de financiamento vêm ganhando força e se democratizando. O MB Startups - plataforma de ativos digitais do MB | Mercado Bitcoin, que lidera investimentos participativos em startups e ativos alternativos -, por exemplo, trabalha com modelos de financiamento diferentes das rodadas tradicionais; como a captação tokenizada com entrega de parte dos resultados financeiros da startup.
"Diante de cenários como o atual, de juros altos, é importante que haja opções que conversem com as alternativas disponíveis, dando ao investidor possibilidades atrativas, para que ele não aloque os investimentos apenas em renda fixa ou tesouro direto”, explica Lívia Calandra, Líder da Vertical MB Startups. "Modelos como a captação tokenizada são inovadores por viabilizar a captação financeira para o desenvolvimento de novos projetos relevantes para a startup, na medida em que permitem a previsão de remuneração ao investidor que se interessa por renda variável e acredita no fomento ao empreendedorismo no Brasil."
Segundo Lívia, o mercado como um todo está compreendendo que o caminho para viabilizar o desenvolvimento está atrelado a uma maior liquidez. "Estamos reconhecendo e buscando trabalhar as variáveis que nos trouxeram até aqui e usar a inovação para buscar alternativas que simplifiquem a operação, viabilizem a liquidez e assegurem a transparência e a segurança adequadas a esse mercado", aponta a especialista.

Outras formas de captação

Apostar em formas alternativas de captação de investimento de menores juros é uma saída que amplia o acesso para diferentes modelos de negócios. Annalisa Blando Dal Zotto, Vice-presidente de Finanças da ACATE, reforça que há modelos que podem ser mais vantajosos a depender do estágio da empresa: “Buscar uma boa estrutura de capital, conhecer as linhas de crédito subsidiadas, conhecer linhas de crédito para inovação, projetos, tudo isso ajuda a empresa a se financiar”.
Ela também destaca que há opções mais acessíveis do que recorrer a bancos tradicionais e tomar empréstimos a juros elevados: “Existem algumas formas de buscar capital, como crowdfunding e fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) que colaboram para que startups possam se desenvolver no Brasil”.
Independente da captação escolhida, previsibilidade e gestão rigorosa são fundamentais para a sobrevivência e crescimento da startup. “Não pode faltar um planejamento financeiro estratégico. Além do cuidado com o fluxo de caixa, ele precisa andar de acordo com o orçamento e com projeções bem definidas”.
Annalisa ressalta a importância de uma governança sólida desde os estágios iniciais: “Mesmo sendo uma empresa pequena, é essencial ter uma boa governança, um controle financeiro detalhado e acompanhar o orçamento mês a mês para garantir que o que foi planejado está sendo executado corretamente”. Para isso, o uso de softwares de gestão financeira e contábil contribui para a organização e reduz custos operacionais.