por Camila Farani
Camila Farani
Temos tudo, mas não temos nada
Está em todos os lugares. Você pode alugar um carro, uma casa, um barco, um jatinho, uma bolsa de luxo ou um simples eletrodoméstico. Hoje, você encontra absolutamente tudo para alugar. Estamos vivendo uma nova economia, a da sublocação. Tudo o que você possui pode se tornar uma fonte de renda extra, e tudo o que você deseja, não é mais necessário que seja comprado, você pode alugar facilitado com a tecnologia que temos à nossa disposição. O aparecimento desse fenômeno se explica por uma série de transformações que nossa sociedade vem passando, como graves crises financeiras, o aumento da importância da sustentabilidade no mundo e, principalmente, a entrada mais ativa no mercado por parte dos Millennials, consumidores que hoje possuem de 25 a 34 anos. O importante para as empresas é entender esse novo momento e adaptar seus modelos de negócios.
Simplesmente, os Millennials correspondem a um quarto da população brasileira, de acordo com a pesquisa do Euromonitor de 2019. A agência de transformação digital, Today, fez um levantamento recente, baseada em inúmeras informações e dados de variadas pesquisas de mercado para analisar as preferências e comportamentos desse público, mostrando que hoje 80% dos Millennials, preferem alugar imóveis a comprá-los. Eles representam mais da metade, ou 51%, do montante de consumidores do mercado imobiliário digital no Brasil. Isso se justifica claramente no sucesso de empresas como, Airbnb e Quinto Andar, por exemplo. Nós não possuímos mais carros, não possuímos mais filmes. Então, por que possuir imóveis?
No caso, do mercado de construtechs, startups que apresentam soluções para o mercado da construção civil, se faz importante que elas entendam esse novo perfil e traga novos produtos, como imóveis menores e serviços mais flexíveis. Semana passada, a startup paulistana Loft, que compra, reforma e revende apartamentos em São Paulo, anunciou a aquisição da empresa de reformas Decorati. Com essa fusão o negócio fundado, em 2018, vai multiplicar em cinco vezes o número de obras simultâneas e pretende explorar outros estados. Ano passado, o segundo aporte pela empresa, colocou a startup com um valuation de aproximadamente, R$ 1,5 bilhão, avaliada acima de outras empresas tradicionais do mesmo segmento.
Portanto, as características desse novo público interferem diretamente no consumo: são pessoas movidas a propósitos (41% dos entrevistados afirmam que poderiam deixar o emprego após dois anos se não estiverem satisfeitos, segundo ainda a agência Today), são nativos digitais (resolvem tudo pelo celular) e valorizam o consumo ético e sustentável. Com o advento do Instagram e Pinterest, startups do segmento de Moda e Design estão aproveitando para usá-las como plataformas de vendas e vitrine para esse público hiper conectado. A startup Fernish, por exemplo, fundada em 2017, aluga e comercializa imitações de móveis de design notórios internacionalmente. A ideia é atender jovens profissionais urbanos, universitários, que estão se mudando constantemente e acabam tendo que jogar fora inúmeros móveis. Os clientes se inscrevem em planos de três a 12 meses.
Na área do Varejo de Moda, grandes marcas de roupas americanas, como, Rebecca Taylor, American Eagle, Express e Ann Taylor, estão lançando um novo nicho para seus clientes, com seus próprios serviços de assinatura de aluguel de roupas mensal. A divulgação é toda direcionada no Instagram, plataforma onde os Millennials mais estão presentes. O senso de propriedade dessa geração não é possuir, e sim, experimentar.
A questão é que estamos vivendo tempos de intensas transformações. Hoje, tudo se transforma mais rápido e essa nova geração nasceu com essa adaptabilidade aflorada, mas nós, empresas, precisamos acompanhá-los se quisermos sobreviver. E a transformação digital nos negócios é indispensável para crescer nessa economia do aluguel de tudo. Não adianta ter um modelo de negócio adequado, mas sem as ferramentas necessárias e sem estar onde o seu público consome.