Camila Farani
Case de sucesso
Por que uma startup com receita de US$ 10 mi levou 36 meses para captar investimento
Em 2006, um norte-americano obstinado chamado Joseph Heller decidiu passar um tempo na China. O objetivo era analisar o mercado local e aventar a possibilidade de construir um negócio disruptivo. No mundo de hoje, onde quase tudo já existe, isso não parece tarefa para amadores. Prova disso é que Heller precisou passar uma década no país até conseguir formatar uma ideia que tivesse força para prosperar no mercado.
Com base na vasta experiência que acabou coletando em negócios manufatureiros de pequenos empresários chineses, Heller criou uma startup chamada The Studio, cujo modelo de negócios consistia em uma plataforma capaz de conectar, de uma forma totalmente digital, estes pequenos empreendedores aos respectivos fabricantes.
A grande sacada de Heller foi criar um canal que tornaria mais fácil para as pequenas empresas encomendarem produtos personalizados de microfábricas na China, dando-lhes acesso às mesmas oportunidades que as grandes marcas, mas em lotes muito menores.
Basicamente, a empresa de Heller construiu relacionamentos com essas micro fábricas chinesas, as quais foram treinadas para operar a fabricação de lotes menores. A The Studio, então, criou um software que permitia que as pequenas e médias empresas fizessem pedidos com essas fábricas. Então, em vez de ter que pedir o mínimo de 30 mil peças, elas podiam fazer pedidos eminentemente menores, de 100 unidades, por exemplo.
Recentemente, Joseph Heller concedeu entrevista para o portal Techcrunch contando como foi construir sua empresa do zero e detalhando a odisseia que travou para conseguir investimento.
Dez anos depois do empreendedor aportar na China, sua
startup já lucrava US$ 10 milhões e contava com 100 colaboradores, ou seja,
estava consolidada. No entanto, quando decidiu retornar ao mercado
norte-americano tentar captar investimento, o empreendedor percebeu que, sem
contatos influentes, o Vale do Silício não era assim tão receptivo com novatos
de fora do ‘clubinho’, nem mesmo com aqueles que já apresentavam resultados
expressivos.
startup já lucrava US$ 10 milhões e contava com 100 colaboradores, ou seja,
estava consolidada. No entanto, quando decidiu retornar ao mercado
norte-americano tentar captar investimento, o empreendedor percebeu que, sem
contatos influentes, o Vale do Silício não era assim tão receptivo com novatos
de fora do ‘clubinho’, nem mesmo com aqueles que já apresentavam resultados
expressivos.
Só que Heller nunca foi homem de desistir, então, continuou buscando, ano após ano. Até que, em 2018, finalmente obteve um investimento de US$ 11 milhões da Ignition Partners, o que lhe permitiu expandir os negócios como ansiava. Contudo, uma dúvida rondava seus pensamentos: ainda se perguntava se teria sido mais vantajoso, se a curva ascendente de bom desempenho poderia ter sido ainda mais veloz, se ele pudesse ter contado com capital de risco desde o início da operação.
Um indício que ajuda a confirmar esta suspeita do fundador da The Studio é a grande quantidade de empreendedores com boas conexões no Vale do Silício e que conseguiram captar rodadas seed de com valores entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões sem nenhum produto em mãos: literalmente nada de concreto, apenas com uma ideia na cabeça.
Fato é que, mesmo sendo extremamente bem sucedido já em um primeiro momento, não foi nada fácil para Heller sair em busca do financiamento do projeto.
“Eu acreditava que tinha uma organização sólida o suficiente
para chamar a atenção dos fundos de venture capital, afinal, esse era um
negócio que construí de forma meticulosa e o fiz crescer até que ele se
tornasse uma empresa saudável, com comprovação da adequação do produto e base
significativa de clientes. No entanto, nada foi como eu imaginei”, disse ao
Techcrunch.
para chamar a atenção dos fundos de venture capital, afinal, esse era um
negócio que construí de forma meticulosa e o fiz crescer até que ele se
tornasse uma empresa saudável, com comprovação da adequação do produto e base
significativa de clientes. No entanto, nada foi como eu imaginei”, disse ao
Techcrunch.
Foi uma luta inglória para conseguir reuniões. Embora Heller seja negro e reconheça que há preconceito racial no ecossistema de investimentos, durante a entrevista, ele não atribuiu as dificuldades apenas a pessoas negras, e sim a todos os indivíduos não brancos. “Não é apenas uma dificuldade imposta aos negros. É mais uma questão de os venture capitals serem eminentemente exclusivos para quem tem os contatos ‘quentes’ e, consequentemente, excludentes a todos os outros”, disse.
Demorou, mas finalmente, depois de 18 meses de intermináveis
reuniões com dezenas de investidores, finalmente o financiamento foi obtido:
justamente os US$ 11 milhões da Ignition Partners. De lá para cá, mesmo com a
pandemia, o negócio não para de crescer e hoje já atinge US$ 20 milhões em
receita anual e 150 colaboradores.
reuniões com dezenas de investidores, finalmente o financiamento foi obtido:
justamente os US$ 11 milhões da Ignition Partners. De lá para cá, mesmo com a
pandemia, o negócio não para de crescer e hoje já atinge US$ 20 milhões em
receita anual e 150 colaboradores.
Um novo projeto também foi lançado no início de 2020 por Heller, o SuppliedShop.com, que permite que empresas muito pequenas comprem estoque pronto das fábricas. E o novo negócio já cresce a passos largos, cerca de 50% ao mês.
De tudo isso, o que fica para o empreendedor brasileiro é que as conexões certamente contam, como Heller descobriu na pele, mas às vezes também é preciso coragem, ousadia, determinação e uma boa ideia para construir uma empresa e ir contra o sistema. Isso é o que Heller melhor pode nos ensinar.