Camila Farani
Vozes
Onde um líder gasta a sua energia e por que o foco no resultado é um erro
Líderes também são humanos e, como tal, falham. Temos a falsa ideia de imaginar que os profissionais que assumem cargos de liderança estão em outro patamar, mais prontos do que nós mesmos. Errado. Eles provavelmente possuem habilidades para liderar, mas não podemos esquecer que estão em pleno desenvolvimento. No mundo em que vivemos hoje, de constantes aprendizados, ninguém está acima de ninguém e ninguém sabe mais do que o outro. Portanto, um líder eficaz erra, aprende com o fracasso e avança.
Mas onde está a falha? O fato é que as lideranças estão muito mais focadas em processos, metas, naquilo que deve ser feito, e não atentam àquilo que é eficaz fazer. Baseado em pesquisas, o livro “What got you here won’t get you there”, traduzido para o português como “Reinventando o seu próprio sucesso”, evidencia que em grandes empresas há um consumo extremo de energia operacional e intelectual por parte dos colaboradores na busca pela causa das falhas, ao invés de se debruçarem sobre o desenvolvimento de projetos para otimizar processos, promover inovação empresarial e, assim, avançarem em suas estratégias.
Uma pesquisa realizada na Microsoft, em 2017, com 38 mil profissionais, mostrou que cerca de 17 horas semanais são tidas como improdutivas. Entre os motivos estão: falta de metas claras, erro de comunicação e o excesso de reuniões. Sendo assim, são os processos e ações ineficazes que influenciam no desempenho. Mas não podemos esquecer um fator chave nesse contexto. Quem executa o microgerenciamento dos projetos? Não são as pessoas? O foco da liderança não deveria estar baseado nelas?
Líderes acabam se perdendo nos números dos acionistas, quando o verdadeiro foco deveria estar nos colaboradores. Não se trata de perda de tempo. Construir relacionamentos, desenvolver habilidades e estimular o autocrescimento devem ser encarados como investimento a longo prazo, com altas taxas de retorno.
De acordo com uma pesquisa da consultoria PwC, profissionais são 2,3 vezes mais propensos a permanecer na empresa quando possuem uma forte conexão com o propósito do líder ou com a cultura da empresa. Se formos falar da geração dos millennials, essa estimativa sobe para 5,3 vezes. Davi Ramsey, escritor do livro “Líder empreendedor”, revela que os comportamentos de um líder costumam ser replicados em sua equipe. Ou seja, o líder influencia pessoas e as leva a agir e, isso é uma responsabilidade muito grande.
Outro aspecto importante é que líderes muito focados em gerenciamento das atividades também tendem a ser mais reativos, pois só conseguem enxergar números, entregas, prazos e, portanto, são mais controladores e perfeccionistas. Entretanto, os colaboradores precisam expor seus pontos de vistas, ideias e inovações, que acabam se perdendo nessa rotina nociva.
Lições para avançar
Um bom hábito para líderes é ter um tempo para a observação e reflexão. Durante uma semana, faça uma contagem para ver quanto tempo você gasta com o que é operacional. Isso oferece uma oportunidade não apenas de estar mais presente com a equipe, mas de “enxugar” seus processos. Praticar a autogestão é algo muito positivo. Você vai descobrir como é mais produtivo deixar de fazer reuniões que podem ser resolvidas com um e-mail e conhecer melhor sua equipe, entender habilidades que não estão sendo aproveitadas, reconhecer o esforço de um colaborador ou dedicar, por exemplo, um tempo para passar conhecimento à equipe.
Grandes empresas, como o Google, vêm praticando com sucesso modelos de compartilhamento de conhecimento. Além do programa de incentivo à inovação, em que os colaboradores dedicam 20% do seu tempo a projetos de livre escolha, a empresa já capacitou mais de 6 mil dos seus 37 mil funcionários, através de sua plataforma interna, o Programa Googler-to-Googler (G2G). Segundo dados da própria empresa, 80% de todo o seu treinamento interno e mentoring é gerenciado nessa plataforma. Trata-se de um programa no qual os funcionários do Google se voluntariam para ensinar e treinar seus colegas de trabalho. E adivinhem quais os cursos mais procurados? Os de negociação e habilidades para liderança.
Em suma, os líderes eficazes são aqueles capazes de equilibrar o foco das tarefas com o foco nas pessoas, para inspirar, desenvolver e capacitar. Líderes muito focados em tarefas tendem a ter uma visão linear e situacional. Enquanto que uma postura diferencial aplica uma visão ampla, que enxerga necessidades e oportunidades. É importante desacelerar momentaneamente, ou seja, dar atenção ao seu público interno, capacitar e fomentar a inovação, para ir mais longe no futuro. A inovação é um processo demorado e que exige investimentos contínuos. Não se trata de ser eficiente, mas de ser eficaz.