Camila Farani
Tempo é dinheiro
‘Hoje o tempo voa, empreendedor, escorre pelas mãos’
Ser líder tornou-se mais difícil, e será cada vez mais, frente aos desafios do crescimento acelerado, das transformações digitais e das rápidas decisões gerenciais que devem ser tomadas todos os dias. Não podemos esquecer que esse trabalho, também, envolve uma ampla variedade de grupos, como: acionistas, clientes, funcionários, mídia, governo, outros stakeholders e concorrência. A questão é que o ativo “tempo” se tornou fundamental para a boa dinâmica da função, impactando diretamente nos resultados de toda a organização. Quantas vezes você se questionou quanto tempo perdeu em reuniões que poderiam se resumir em uma “call” ou numa troca de e-mails? Segundo estudo da Universidade da Carolina do Norte, os encontros que poderiam ser e-mails custam cerca de US$ 37 bilhões para as empresas nos Estados Unidos. Cargos mais altos, exigem maior responsabilidade e saber administrar o tempo causará maior impacto na estratégia das organizações. O escopo e a complexidade só tendem a crescer, e líderes que souberem administrar bem esse ativo serão mais bem sucedidos.
A maneira como os líderes alocam seu tempo, sua agenda e seus esforços, além de ser importante para eficiência do negócio, é um parâmetro de prioridades e sinaliza para a equipe o que pode ser feito ou não. A equipe segue um líder, portanto, trata-se de um ato de legitimidade. Uma pesquisa recente da BMI Blue Management Institute, com 100 líderes de 71 empresas com faturamento acima de R$ 1 bilhão, divulgada pelo Valor Econômico, revelou que os líderes brasileiros passam 11 horas por dia nas empresas, e mais da metade do tempo (52,3%) esses profissionais gastam em reuniões e trabalhos rotineiros que os impedem de se concentrar nas ações estratégicas. Entretanto, um fato interessante é que apesar de 84% dos líderes terem afirmado utilizar e-mails e outras formas de comunicação online, a maioria ainda prefere os métodos antigos, como reuniões presenciais.
Ainda segundo a pesquisa, ficou evidente que os CEOs valorizam mais o contato diário com as equipes, o andamento dos processos e a manutenção dos relacionamentos internos e externos. Contudo, os líderes de hoje precisam dispor de mais tempo para se debruçar às questões relativas as necessidades das organizações no futuro com a transformação digital, como desenvolvimento de novas habilidades, aprimoramento dos processos e como torná-los menos burocráticos e mais ágeis. Apenas 4% disseram que tinham uma equipe com as habilidades necessárias para acompanhar as mudanças necessárias nos próximos anos.
Um artigo de 2018 da Harvard Business Review (How CEOs Manage Time) mostrou uma pesquisa mundial conduzida pelos professores de Harvard, Michael Porter (autor de "A Vantagem Competitiva") e Nitin Nohria, sobre os “gaps” na rotina de 27 CEOs de grandes corporações mundiais por três meses. A ideia era mapear como as grandes lideranças gastam o seu tempo. O resultado evidenciou as mesmas causas e consequências: 72% do tempo total do trabalho é gasto em reuniões e 32% dessas reuniões duraram, em média, uma hora. Quando perguntados sobre a real importância desse tempo investido em reuniões, os líderes confessaram que talvez não houvesse necessidade de tanto tempo gasto em assuntos que poderiam ser resolvidos de outras formas. Ou seja, esse comportamento está muito mais relacionado a hábitos organizacionais ou pessoais. O que nos remete a uma questão de cultura organizacional.
A cultura das startups vem imprimindo um novo ritmo aos processos rotineiros e muitas empresas, como o Google, por exemplo, vêm investindo em novos métodos, com as chamadas micro reuniões diárias ou “huddles”. Basicamente o time se reúne e cada integrante compartilha suas tarefas mais urgentes. O time decide quais itens devem ser priorizados e quinze minutos depois todos estão de volta as suas funções. A verdade é que esse sistema consegue manter todo o time conectado e integrado e, ao mesmo tempo, prioriza tarefas e otimiza o tempo e as expectativas. É a melhor maneira de manter todos no mesmo objetivo estratégico e manter o CEO focado nas decisões gerenciais.
O que precisamos entender é que essa mudança de comportamento causa enormes consequências, positivas ou negativas, para os seus clientes internos (colaboradores e times) e clientes externos (clientes, comunidades, stakeholders) e, desta forma, impacta diretamente nos resultados do negócio. Parece algo simples e de menor importância, mas não é. Essa compreensão do papel mais amplo de um líder é o que realmente diferencia empresas medianas de gigantes. O mundo mudou, as pessoas mudaram e as organizações precisam acompanhar esse movimento. E esse é um dos papéis fundamentais dos líderes da atualidade: a gestão estratégica do tempo.