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(Foto: Bigstock)

Camila Farani

Existe idade para consumir ou empreender?

12/05/2019 23:00
A verdade é que o Brasil está envelhecendo. Com menos nascimentos e mais longevidade, com as próprias healthtechs (startups de saúde) reverberando no mercado e criando novas tecnologias, cresce a participação da terceira idade na população. Diferentemente dos estereótipos que vemos na mídia e na publicidade, muitas dessas pessoas são ativas, produtivas e conectadas. O próprio conceito de “velho” mudou e, se o mercado, as organizações e, você, empreendedor, não tiverem isso como uma estratégia ou um nicho a ser trabalhado, estarão perdendo uma grande oportunidade.
Vamos falar de números: segundo a OMS, entre 2015 a 2050, a proporção da população mundial com mais de 60 anos vai passar de 12% para 22%. Em 2050, 8 em cada 10 pessoas acima de 60 anos viverão em países de baixa e média renda. No Brasil, esse processo é ainda mais acelerado. Daqui há 11 anos, a nossa população terá mais pessoas com 60 anos do que crianças (de 10 anos ou menos).
E sobre comportamentos de consumo? Eles também estão mudando.
Segundo o estudo “Envelhecimento nas Organizações e a gestão da idade” da FGV, 7 em cada 10 empresas no Brasil acham que os mais velhos não acompanham as transformações tecnológicas. Mas, de acordo com o IBGE, 1/4 dos brasileiros acima de 60 anos já estão conectados. Entendeu agora onde está a oportunidade de gerar negócios?
Essa fatia da população não só vai se tornar maioria, como tem novos interesses e hábitos de consumo, derrubando os preconceitos e os estereótipos que eram associados à idade mais avançada. Ou seja, é um público que vem se adaptando as mudanças tecnológicas rapidamente. A questão é que a população sênior está mais ativa, mais saudável, consome mais e está mais conectada do que nunca e a tendência é de que isso aumente com as gerações “do meio”, X e Y, também envelhecendo.
Outro dado que chama atenção é do Google Survey Black Friday que mostra que, em 2018, os consumidores com mais de 55 anos compraram 1,4 vez mais celulares que a faixa entre 18 e 54 anos. E os sites de paquera como o Tinder? Eles também consomem mais… a população madura no Brasil busca 19% mais dates online que a de outros nove países pesquisados, segundo a pesquisa Google Global Senior Survey.
Esse dados nos ajudam a entender melhor os hábitos e anseios dessa população madura. Essas transformações têm um impacto profundo e crescente em nossa sociedade, e é fundamental que as marcas possam enxergar esse público com um olhar rejuvenescido. Será que as grandes organizações estão enxergando com clareza esse fenômeno? Por outro lado, ainda temos um fato muito interessante. Se a população de terceira idade está aumentando, isso quer dizer que também teremos mais empreendedores maduros no mercado, certo?
A pesquisa do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) de 2017 mostra que os empreendedores estabelecidos na faixa etária de 45 a 54 anos são os que mais se destacam em relação a estabilidade dos negócios: 25,9% dos brasileiros nessa idade são donos e ao mesmo tempo gerenciam negócios já consolidados. E isso realmente faz muita diferença na hora de investir. Os empreendedores maduros possuem características muito positivas como a disciplina, a confiabilidade, o comprometimento, o conhecimento e a experiência de vida, além de maior inteligência emocional. Posturas essas fundamentais para o sucesso de qualquer negócio hoje.
Portanto, somos um país em envelhecimento. E isso não é mais uma conjuntura: é a nossa realidade. Precisamos ser mais empreendedores e planejar ações para nossas empresas, visando essas mudanças demográficas, e construindo estratégias para atender esse nicho. Nosso papel é entender, identificar oportunidades e interagir mais. O fato é que a população madura está se adaptando a esse novo contexto. E você? O que vai fazer hoje para adaptar a sua empresa?