Camila Farani
Destino inóspito
Empresas do futuro persistem e não resistem
Nunca confunda resistência com persistência. Uma das principais virtudes do empreendedor é persistir frente a qualquer desafio. Sabendo que sempre aparecerão obstáculos e mudanças em tempos de era digital, o empreendedor se planeja para isso: tem uma visão estratégica clara, traça as metas e objetivos necessários, escolhe os melhores indicadores de desempenho e mede os resultados de suas empresas constantemente.
Baseado nesse processo, as startups conseguem persistir com menos riscos. Ao contrário do conceito de resistir. Empresas que resistiram as mudanças do ambiente e mercado tiveram um destino inóspito.
Eis o destino de duas empresas que quero relembrar com vocês. Vocês se lembram da Blockbuster? Sabiam que ela teve a oportunidade de comprar o Netflix por US$ 50 milhões, em 2000? Essa foi a fala do então CEO da Blockbuster, Jim Reyes, ao CEO da startup: “Nem a RedBox, muito menos a Netflix, estão no nosso radar em termos de concorrência. Estamos mais preocupados com o Wal-Mart e a Apple”. No livro "That Will Never Work" (Isso nunca irá funcionar, em inglês), o fundador do Netflix conta a sua trajetória empreendedora até se tornar um gigante e fala da descrença que enfrentou no mercado em relação ao futuro do audiovisual.
No início dos anos 2000, a Blockbuster era uma das gigantes no setor de entretenimento no mundo. Provedora de serviços de aluguel de filmes e games, seu pico de crescimento foi em 2004, somando 9.094 lojas no mundo todo. Simplesmente, a Blockbuster não teve visão e não acreditou que o serviço de streaming seria o futuro do entretenimento. O resultado você já conhece: falência da Blockbuster.
Como reação, a empresa até tentou a entrega em domicílio, lançou comércio eletrônico e formou parceria com a TiVo e a DIRECTV. Mas reagiu tarde. A Netflix está avaliada hoje em US$ 118 bilhões, segundo artigo da CBInsights, e outras gigantes percebendo a oportunidade estão entrando nesse mercado, como a Apple e a Disney.
E por falar em Disney+ (o serviço de streaming lançado em 2019 nos Estados Unidos), um relatório da empresa Sensor Tower mostrou que somente nos primeiros dois meses de operação, o aplicativo do serviço havia alcançado a marca recorde de 41 milhões de downloads, com faturamento acima de US$ 90 milhões. Isso mostra como as empresas do futuro devem responder as tendências e mudanças. Elas estão se reinventando para sobreviverem.
Outra história que nos ensinou muito foi o caso da Kodak. Ela entrou com pedido de falência em 2012 e também não soube se adaptar aos tempos digitais. Você lembra que antigamente tínhamos que comprar os filmes para inserir nas máquinas analógicas? Não diferente a Kodak foi líder de mercado até o final dos anos 1970, aproximadamente 90% das vendas dos filmes e 85% de vendas de câmeras nos EUA.
A questão é que eles não previram que num futuro próximo, a câmera seria o celular e digital. Mas você sabia que a Kodak criou o padrão RGGB, usado em todas as câmeras digitais?
Então, por que ela não levou para o mercado? A resposta é: temor de não ser o momento ideal, pois a invenção poderia “canibalizar” o seu negócio principal que era a venda de filmes e câmeras tradicionais. Anos depois, esse erro custou muito caro. A marca foi ultrapassada pela gigantes japonesas, Canon, Sony e Fuji. E então surgiram os smartphones, e a história da Kodak ficou mais perto do fim. Nesse momento surgiu a GoPro que capturou boa parte do mercado que ainda restava para a Kodak. Em 2010, a crise já era irreversível, e a empresa saiu do quadro das 500 maiores do mundo.
Portanto, o que podemos tirar de aprendizado dessas histórias é o que chamamos de “Dilema da Inovação”, termo criado pelo estudioso e professor, Clayton Christensen. Ao invés de “resistir”, “abrace” as oportunidades e não demore para executar. Se uma empresa se confronta com uma inovação disruptiva no mercado, se faz necessário repensar o modelo de negócio e a estratégia imediatamente, ou criando um novo segmento de mercado ou reformulando totalmente o modelo. A melhor lição: é melhor dar três passos para trás agora, para avançar dez no futuro.