Camila Farani
Até onde a tecnologia prejudica o aprendizado
Nada de computadores, tablets, smartphones, redes sociais. Um movimento muito interessante que estamos vendo acontecer, principalmente nas escolas americanas do Vale do Silício e que nos faz refletir é o retorno do ensino tradicional. O ensino básico analógico e não digital. Na verdade, nos dias atuais, em que vemos a falta da construção de valores, a ética e o “olho no olho” e com o advento das inteligências artificiais, esse conceito faz todo sentido. Mas por quê? O que vai nos diferenciar é a inteligência emocional, nossas habilidades, nosso poder de criação e adaptabilidade frente aos desafios que virão. E isso o mundo digital não trará. É a convivência com a comunidade, colegas, família, os desafios da vida real que ajudam a construir a base da nossa pirâmide intelectual.
Enquanto a maioria das escolas se esforçam para introduzir tecnologias nas salas de aula, as escolas onde estudam os principais gurus do Vale do Silício usam giz e quadro negro. As aulas de computação e robótica só começam no ensino médio americano. Em entrevista para o El País, uma professora de uma escola particular em Palo Alto, explica que a ideia é desencadear a emoção. As telas e o excesso de tecnologia para uma criança pequena, limita o desenvolvimento das habilidades motoras e a capacidade de concentração. O risco de dependência é alto.
O próprio Steve Jobs, quando deu uma entrevista ao The New York Times, em 2010, revelou que proibia os próprios filhos de usarem iPad. Por que será? O problema da relação das crianças com a tecnologia é que o ritmo vertiginoso em que se transforma dificulta o estudo. Uma pesquisa de 2017 da Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos, que se dedica a ajudar as crianças a se desenvolverem em um mundo digital, mostra que as crianças americanas de zero a oito anos ficavam em média 48 minutos por dia no celular. Um índice que triplicou em relação a 2013 e subiu 10 vezes mais que em 2011.
No Brasil os dados são alarmantes e mostram a importância de fazer uma reflexão sobre a educação de nossas próximas gerações. O estudo Brazil Digital Report de 2019 mostra que de dois a cada três brasileiros têm acesso a smartphones e internet. Ainda ressalta que brasileiros passam mais de 9 horas por dia conectados (entre as maiores taxas do mundo) e estão classificados como segundo país no mundo que mais usa plataformas de mídias sociais, incluindo: Facebook, WhatsApp, Netflix e Pinterest.
Agora vivemos um contrassenso. Como administrar o avanço da tecnologia, que é importante para a sociedade, e ao mesmo tempo limitar que esse avanço cause malefícios na educação? Entretanto, e felizmente, vemos movimentos da indústria a esse respeito. A própria Apple criou o Screen Time, uma ferramenta que ajuda a controlar e limitar o uso de dispositivos móveis, devido a críticas de seus próprios investidores. O Google também se mexeu e liberou o app Digital Wellbeing, que rastreia o uso do smartphone, elaborando métricas analíticas como, por exemplo, como o usuário dedica a maior parte do seu tempo.
A grande questão aqui é que esse é um movimento que vem lá de fora, ainda sem reflexos no Brasil. Mas em pouco tempo será uma questão de extrema importância para todos nós. Por isso, a importância que essa educação digital comece em casa. A escola não é a única responsável nesse processo, mas também nós cidadãos digitais temos que dar o exemplo. Que tipo de sociedade digital queremos para o nosso futuro?