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Parte da revolução tecnológica no campo se deve à atuação das agrotechs, startups do agro que contribuem para o desenvolvimento do setor. Crédito: doidam10/Bigstock.

Thiago Ayres

Thiago Ayres

Thiago Ayres é pai, empresário e empreendedor serial, investidor e especialista em crescimento de negócios através de gestão inteligente. Rodou mais de 20 países ajudando dezenas de empresas a faturarem mais de 1 bilhão e centenas de empresários a terem mais riqueza e liberdade.

Do campo à mesa

Agrotechs: você pode não saber, mas elas já fazem parte do seu dia a dia

08/08/2024 12:52
A revolução tecnológica chegou ao campo e, com isso, chegou à sua mesa. Trago aqui um fenômeno que conheci de perto (por meio dos meus clientes), mas pouca gente sabe: o agro está mudando como plantamos, colhemos e fazemos negócio, usando tecnologia. E se você é empresário ou empreendedor, fica até o final que tem três lições que a galera das agrotechs trazem pra você.
Falar sobre negócios do agro tem uma importância inegável: nos últimos cinco anos, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,55 trilhão, passando a marca de 20% do PIB brasileiro. 
Dentre os segmentos, a maior parcela é do ramo agrícola, que corresponde a 68% desse valor (R$ 1,06 trilhão); a pecuária corresponde a 32%, ou R$ 494,8 bilhões, segundo dados Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Se o agro sempre foi tradição do Brasil, com números e importância claras, agora há um novo movimento acontecendo no campo. Se já era campeão em volumes produzidos e exportados, agora a revolução é em produtividade, com muita inovação e muita tecnologia.
É verdade que a indústria do agro ainda tem algumas perdas de eficiência inerentes ao seu processo, mas a pressão por redução de custos e competitividade está forçando todos a buscarem soluções para reduzir estas perdas, o que pode ser resolvido por soluções tecnológicas. 
Adicionalmente, a pressão ambiental está aumentando significativamente e apenas por meio da tecnologia e inovação conseguiremos produzir mais, sem abrir novas áreas de mata ou reduzir os efeitos colaterais da produção como os efeitos danosos ao meio ambiente.

Mas, Ayres, como você sabe disso?

Já há muitos anos, tive e tenho clientes em diversos pontos da cadeia produtiva do agro e em várias regiões do Brasil. Já fiz trabalhos de planejamento e gestão, ministrei formação de líderes e executivos, e atendi a muitos players do setor - do produtor e cooperativas aos fabricantes de máquinas. Tive que conectar meu conhecimento de gestão e empreendedorismo com quem conhece de grãos, de gado, de leite, de aves, suínos, e muitos outros desafios.
Fui, há muitos anos, um dos mentores especialistas do primeiro programa de inovação promovido pela Ocepar/Sescoop com presença das principais cooperativas do Centro-Sul. 
A presença massiva eram empresas do agro, mas também alguns até de crédito e de saúde. Vi muitos bons projetos saírem de lá e alguns até chegarem à nossa mesa, como o leite que tomamos (que hoje tem a temperatura monitorada no caminhão em tempo real). 
De lá para cá, muita inovação aconteceu não só dentro das grandes empresas do setor, mas também de uma série de empresas de tecnologia que nasceram para melhorar o agro: as chamadas agrotechs.
E esse nome chique, “agrotech”, o que significa? Assim como o termo fintechs se popularizou como empresas de tecnologia (tech) que atendem necessidades do sistema financeiro (fin), o termo agrotech descreve empresas de tecnologia voltadas para o agronegócio, em qualquer parte de sua cadeia produtiva.
Se você vem da “cidade grande” (como eu), veja alguns exemplos pra ver a amplitude do que estamos falando: grandes produtores, hoje, usam drones para monitorar suas áreas (e até fazer correção química de solo, pulverizando químicos em pontos exatos com precisão milimétrica, sem sair do seu apartamento na capital). 
Este mesmo produtor usa tratores sem motorista, guiados por GPS com machine learning e inteligência artificial para mapeamento e decisões de plantio conforme o terreno, área, insumos e até meteorologia. 
Ainda nessa mesma propriedade rural, possivelmente você verá infraestrutura de redes de telecom própria com link direto via satélite para fazer isso tudo funcionar e, ainda, enviar e receber dados em tempo real - ou você acha que no interior pega 5G? 
E os exemplos não acabam: sensores com chips para monitorar o crescimento e comportamento do gado, sistemas de irrigação autônomos e até mesmo tecnologias que transformam lixo em energia (spoiler: tem mais sobre esta startup no finalzinho deste artigo).
Há mais de 300 startups brasileiras que estão entregando valor para o agro em 18 categorias de aplicação, segundo relatório Liga Insights AgTechs, que apresenta um panorama das startups brasileiras no setor, capitaneado pela Liga Ventures. Outras fontes, como o Startup Scanner, apontam mais de 900 empresas.
"Os produtores rurais estão cada dia mais familiarizados com a tecnologia no campo. Porém, há espaço para crescer neste assunto, não apenas do ponto de vista de inovação, mas principalmente de facilidade de implementação, capacitação e uso", comenta Gilberto Nogueira, especialista em negócios da Jacto.
Victor Donaduzzi, presidente do Biopark - parque tecnológico que reúne educação, pesquisa e negócios em Toledo, no Oeste do Paraná -, destaca que nem toda inovação serve somente à eficiência produtiva.
Por vezes, o impacto é direto na saúde das pessoas. “No Biopark, estamos coordenando um projeto de alimentos saudáveis, no qual trabalhamos desde a postura do ovo (reduzindo a incidência de Salmonela e conseqüentemente o custo) até o desenvolvimento de alimentos de melhor nutrição, com redução de sódio, gorduras, açúcares e conservantes, agregando valor à cadeia”, afirma.
Caroline Aguiar, especialista em gestão de projetos que atua no desenvolvimento de novos negócios no setor do agro e possui experiência em programas de inovação aberta, aceleração e incubação de empresas, destaca que nem sempre uma agrotech é pequena como muitos pensam.
"Inovações tecnológicas podem surgir a partir de empresas maiores, mais consolidadas, que têm pequenos projetos inovadores que surgem de seus programas de intraempreendedorismo", conta.
Segundo Caroline, a revolução tecnológica no campo tem muitos desafios, mas ainda há mais oportunidades. “Em cada iniciativa de cooperação conjunta, vemos que há muito espaço para as agrotechs avançarem. As empresas maiores podem ser mais inovadoras e as menores podem amadurecer e gerar cada vez mais valor. Nesse sentido, todos ganham".
E como isso ajuda o agro a ser mais eficiente? Bom, eu já vi controle de temperatura com IA para galinhas crescerem melhor, já vi trator sem motorista que cobre toda a área de plantio e também já vi o uso de imagens de satélites para checar de onde veio cada grão de soja. Até um pulverizador que identifica, seleciona e aplica remédio somente sobre cada erva daninha… as aplicações de uso não tem fim. Na prática, toda essa inovação gera eficiência, sustentabilidade e transparência, o que ajuda o produtor, o consumidor e a sociedade como um todo.
"Cada vez mais, vemos soluções surgindo para sanar as dificuldades do produtor rural. Então, a inovação para o campo é essencial para aumentar a produtividade e eficiência em custos de operação, produzir com sustentabilidade para lidar com os impactos negativos das mudanças climáticas, ser mais coerente com as normas e deixar um legado positivo na sua região e no Brasil como um todo, bem no conceito de ESG no agro", comenta Léo Tostes, head de inovação e marketing  da Impactability e gestor operacional do Agnest.
Theo Roccon, fundador e CEO da Composta+, empresa de compostagem orgânica, aponta para um fato curioso. “Nem toda inovação é software - e muita tecnologia está direto na terra", diz. 
A Composta+ tem uma tecnologia própria de compostagem de resíduos orgânicos que, além de ser muito mais benéfica ao planeta (olha o ESG nos negócios aí), ainda gera energia de maneira limpa e eficiente. E ainda deixa uma lição de inovação.
“Se você olhar nosso pátio, nossos caminhões - e até nosso produto - podem parecer bem tradicionais, mas a maneira como fazemos é comprovadamente inovadora e gera benefícios para todos: clientes, meio ambiente e acionistas", conta.
Hoje, essas soluções inovadoras estão disponíveis do pequeno produtor aos grandes players e ajudam o Brasil a ser produtivo. Você podia não saber disso, mas certamente é positivamente impactado, talvez no café da manhã que você comeu hoje mesmo.
E quais lições dessas agrotechs podemos tirar para nossos negócios?
  1. Onde tem carência, tem oportunidade: mercado da agricultura ficou esquecido durante muito tempo, longe da tecnologia, da eficiência etc. É bem nessas lacunas que as agrotechs atuam - e atuam bem;
  2. Negócios podem, ao mesmo tempo, ter missões nobres (alimentar) e também prósperas (ser mais eficiente e gerar mais lucro);
  3. Você pode não ser tão “escalável” como uma empresa digital, mas pode ser muito “CRESCÍVEL”: hoje, nossas cooperativas estão entre as maiores da América Latina em volume e eficiência. Mesmo em um negócio bastante físico - com plantios e rebanhos, com carregamentos e transportes, silos e navios, é possível ter uma gestão inteligente e crescer muito;
  4. A inovação não vem do inédito, mas sim de um novo olhar sobre algo que já conhecemos: ao invés de reinventar a roda, será que seu negócio não pode enxergar novos jeitos de fazer o que já sabemos fazer? Na prática, ao invés de “inventar uma tecnologia nova”, será que não dá pra aplicar uma que já existe e ter resultados melhores em um aspecto para o qual ninguém estava olhando?
  5. Juntos somos mais fortes (e podemos ganhar mais dinheiro): os programas de inovação aberta que conectam empresas tradicionais que têm dores e necessidades com startups que têm soluções tecnológicas é a prova de que o jogo da inovação e do empreendedorismo não se joga sozinho. Sempre tem alguém que pode solucionar os problemas que sua empresa tem. Você pode achar esse alguém e criar parcerias.
O agro é pop, deu pra ver. Agora, me diz, qual dessas lições você aplicar no seu negócio? Me conta lá no Instagram ou no LinkedIn.

E vem aí o GazzSummit Agrotechs

O GazzSummit Agrotechs é uma iniciativa pioneira do GazzConecta para debater o cenário de inovação em um dos setores mais relevantes do país. O evento será realizado no dia 15 de agosto com o propósito de conectar e promover conhecimento para geração de novos negócios, discussão de problemas e desafios, além de propor soluções para o setor.
O GazzSummit promove a disseminação de tecnologias e práticas de inovação que possam levar a cadeia produtiva ainda mais longe. Uma programação intensa de 10 horas de conteúdo, e mais de 25 palestrantes, espera os participantes que poderão interagir com players importantes do ecossistema como grandes empresas, cooperativas, produtores, entidades públicas, startups e inovadores. Garanta já a sua vaga.