Anderson Godz
Desde 2016 Anderson Godz é investidor, conselheiro de administração e advisor para nova economia, projetos e governança corporativa. Autor de livro, criou uma comunidade de governança com mais de 12 mil pessoas. É conselheiro da Gazeta do Povo.
Inovação x regulação
LGPD: o Risco Brasil agora é digital
decidido que a vigência da LGPD deveria ter início em 31 de dezembro de 2020.
Antes, Medida Provisória do presidente Jair Bolsonaro corretamente havia
prorrogado o início da vigência da lei para maio de 2021, devido aos impactos
da Covid-19. Mas a confusão não para por aí, já que a Autoridade Nacional de
Proteção de Dados (ANPD), órgão voltado a interpretar, defender e orientar a
lei, um dos principais pontos da LGPD, sequer foi criado pelo Governo Federal.
insegurança jurídica àqueles que ainda não conseguiram se adaptar à legislação;
há pontos obscuros a serem resolvidos. Para as empresas de tecnologia, então,
nem se fala. Mesmo em condições normais de temperatura e pressão já é difícil
empreender no Brasil, pois negócios inovadores caminham mais rápido do que as
regras legais – as empresas de entregas e de delivery de comida que o digam.
Isso tende a espantar investimentos e acaba reduzindo a capacidade de geração
de emprego. Parabéns aos envolvidos.
Ao mesmo tempo em que no Ocidente desfrutamos de todas as benesses de se viver em uma democracia, como ter eleições diretas, verdadeira liberdade de ir e vir e direito à livre manifestação de pensamento – ainda que a discussão sobre as fake news, que já foi tema de outra coluna, possa colocá-la em perigo –, fica impossível lançarmos mão, na prática, da ideia de testar rápido, falhar rápido e aprender rápido, preconizada no âmbito dos ecossistemas de inovação.
estatais que podem nos prejudicar e que já afastam as startups de parte do
mercado brasileiro. Pior ainda: muitas vezes, essas regras e como elas serão
aplicadas/fiscalizadas sequer estão claras, como é o caso da LGPD.
E mais: enquanto o Ocidente busca enquadrar monopólios digitais, a China os fomenta. Daqui a pouco, algum burocrata ocidental decidirá que o Facebook precisa ser dividido em partes, enquanto a China exponencial avança concentrando e minerando a inteligência de uma quantidade absurda de dados - o novo e mais importante ativo global - dos seus 20% de reserva de mercado da população mundial. Que paradoxo: democracias parecem menos competitivas no mundo digital.
usuários das plataformas devem, sim, ser protegidos, e os negócios digitais
devem ser adequadamente regulados. Do modo como está sendo feito, porém, só
consigo vislumbrar prejuízos. Há nos negócios digitais muita gente séria que
anseia por algum controle, mas não todo o controle - e muito menos pelo excesso
de controle e de comandos desencontrados.
entender que a sobrevivência passa por questões digitais. Países e governos
também deveriam perceber que precisamos mais do que um Estado digital, precisamos
de um “Estado líquido”.