O bloqueio do ChatGPT: entre medo e progresso

Redação
04/06/2025 12:50
Muitas grandes empresas, principalmente aquelas com políticas rigorosas de segurança e acesso, têm imposto restrições significativas ao uso de modelos de inteligência artificial, como o ChatGPT. No cenário corporativo atual, especialmente em instituições financeiras, a adoção dessas ferramentas já é limitada ou até mesmo proibida. O motivo? Proteger dados sensíveis, evitar vazamentos e preservar propriedade intelectual. Mas, ao barrar o avanço da IA como ferramenta, essas empresas realmente estão se protegendo ou correm o risco de ficar para trás?
A resposta não é simples. Em um mundo onde dados e contexto são o combustível para modelos de IA, governança e segurança tornaram-se pilares essenciais para qualquer organização. O equilíbrio entre inovação e controle é frágil: frear demais pode significar perder oportunidades, produtividade e/ou competitividade, enquanto abrir mão da segurança pode custar caro em termos reputacionais e financeiros.
O dilema das empresas: segurança versus inovação
Empresas de tecnologia, finanças e mídia estão cada vez mais cautelosas no uso de inteligência artificial. Segundo o Zscaler ThreatLabz 2025 AI Security Report, que analisa dados de mais de 536 bilhões de transações de IA e machine learning (ML), cerca de 60% de todas as transações envolvendo ferramentas de IA/ML foram bloqueadas pelas empresas em todo o mundo, principalmente devido a preocupações com vazamento de dados sensíveis, acessos não autorizados e risco de violação de conformidade. O relatório destaca que o ChatGPT, apesar de ser a ferramenta mais utilizada globalmente (com 45,2% do uso de IA), é justamente a mais bloqueada pelas corporações, seguido por Grammarly e Microsoft CoPilot.
No Brasil, enquanto o mercado global se move rapidamente para adotar políticas robustas de governança de IA, ainda há uma parcela das empresas que estão em fase de definição dessas regras, especialmente em setores regulados, como bancos e consultorias. A adoção de IA nas empresas brasileiras está acelerando, mas muitos gestores reconhecem a necessidade de estruturar diretrizes claras para minimizar riscos e aproveitar o potencial da tecnologia. O cenário é similar ao de outros países emergentes, onde a busca por segurança e controle caminha lado a lado com a pressão para inovar.
Governança de dados: alicerce ou amarra?
A governança de dados é, sem dúvida, um fator crítico para o sucesso das empresas modernas. Ela garante que os dados sejam confiáveis, organizados e seguros, permitindo que as equipes experimentem e inovem com mais confiança. A construção da governança e da cultura de dados é justamente o objetivo de um projeto que conduzimos pela Inbix na Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, com apoio do Sescoop/PR, que envolve a formação de 60 analistas de dados de diferentes setores da cooperativa. Quando bem implementada, a governança impulsiona a inovação, alimentando sistemas de análise, personalizando experiências e revelando oportunidades antes ocultas.
No entanto, quando a governança se transforma em burocracia, ela pode sufocar a criatividade e a agilidade. Políticas muito rígidas, processos lentos de aprovação e medo excessivo de riscos podem fazer com que as empresas percam o timing para adotar novas tecnologias. Afinal, “no data, no AI”. Isso é especialmente relevante em setores altamente competitivos, onde a velocidade de inovação define quem lidera e quem fica para trás. É o velho dilema de excessos de burocracias em grandes companhias que voltam à tona também para o tema de IA.
Segurança da informação: parceira ou inimiga da inovação?
A segurança da informação é fundamental para proteger ativos digitais e garantir a confiança de clientes e parceiros. Investir em medidas robustas de proteção permite que as empresas explorem novas tecnologias com mais tranquilidade, sabendo que seus dados estão seguros. Uma cultura de segurança bem estabelecida incentiva a colaboração e a troca de ideias, pois os funcionários se sentem protegidos para compartilhar informações e inovar.
Porém, quando a segurança se transforma em paranoia, ela pode criar barreiras à inovação. Todo o extremismo traz consigo algum tipo de miopia. Funcionários podem se sentir desencorajados a experimentar novas ferramentas, temendo punições por eventuais erros. Em alguns casos, o excesso de controle pode até gerar atalhos inseguros, como o uso de aplicativos não autorizados, aumentando ainda mais os riscos.
O impacto do bloqueio do ChatGPT na produtividade e desenvolvimento
O bloqueio do ChatGPT e de outras ferramentas de IA não afeta apenas a inovação, mas também a produtividade e o desenvolvimento de equipes. Esses modelos podem automatizar tarefas repetitivas, gerar insights rápidos e até auxiliar na tomada de decisões estratégicas. Ao restringir o acesso, as empresas podem perder ganhos de eficiência e agilidade.
Por exemplo, equipes de marketing podem deixar de aproveitar a capacidade do ChatGPT para criar textos, analisar dados de campanhas ou personalizar mensagens. Times de desenvolvimento podem perder a chance de acelerar a criação de código ou documentação. Em áreas como atendimento ao cliente, a IA pode reduzir o tempo de resposta e melhorar a experiência do usuário. Até mesmo o departamento de pessoas pode usar a IA como um assistente pessoal para planejar feedbacks assertivos e auxiliar no plano de desenvolvimento de equipes e colaboradores.
O futuro: equilíbrio ou extinção?
Já adianto minha visão: não acredito na extinção, definitivamente. O desafio das grandes empresas é encontrar o equilíbrio entre governança, segurança e inovação. Gigantes como Microsoft, Salesforce e iFood mostram que é possível adotar práticas rigorosas de governança sem sacrificar a agilidade e a capacidade de inovar. Elas investem em infraestrutura de segurança robusta, promovem uma cultura de privacidade, modelos internos, e treinam seus funcionários para lidar com dados de forma responsável.
No entanto, nem todas as empresas conseguem encontrar esse equilíbrio. Algumas, em nome da proteção, acabam criando barreiras que impedem a adoção de tecnologias disruptivas. Outras, buscando inovar a qualquer custo, negligenciam a segurança e acabam expostas a riscos graves.
Buscar equilíbrio e educar o seu público para esse novo tempo é fundamental para transformar desafios em oportunidades. A educação, especialmente quando alinhada à inovação, é a chave para preparar pessoas e organizações para lidar com mudanças aceleradas e complexas, como as que vivemos hoje. A inovação tornou-se a nova linguagem da educação, permitindo que indivíduos e empresas não apenas sobrevivam, mas prosperem em ambientes marcados por incertezas e riscos globais.
O software comeu o mundo: e agora?
O artigo “O software comeu o mundo”, publicado recentemente por Guilherme Pacheco no Brazil Journal, lembra que, em pouco tempo, o software transformou indústrias inteiras e criou novos gigantes globais. Hoje, a inteligência artificial está propondo um caminho similar: quem não se adaptar, corre o risco de ser engolido.
O bloqueio do ChatGPT e de outras ferramentas de IA pode ser uma medida temporária, enquanto as empresas ajustam suas políticas e infraestrutura. Mas, se esse bloqueio se tornar permanente, as empresas podem perder espaço para concorrentes mais ágeis e ousados, perder produtividade e até mesmo abrir novas janelas de riscos para o uso de ferramentas e aplicativos não autorizados.
Provocação: governança e segurança freiam ou impulsionam a inovação?
A governança e a segurança de dados são, sim, fundamentais para o sucesso das empresas modernas. Elas protegem ativos valiosos, garantem a confiança dos clientes e permitem que a inovação ocorra de forma segura e sustentável. No entanto, quando transformadas em barreiras, elas podem frear a produtividade, a inovação e o desenvolvimento.
Empresas que conseguem equilibrar proteção e agilidade serão as líderes do futuro. Aquelas que travam o acesso à tecnologia podem ficar para trás, vendo concorrentes menores e mais ágeis assumirem a dianteira.
Conclusão: inovação com segurança, ou segurança sem inovação?
O bloqueio do ChatGPT e de outras ferramentas de IA por grandes empresas é um sinal dos tempos: a segurança e a governança nunca foram tão importantes. Mas, em um mundo em constante transformação, quem não arrisca, não inova e não otimiza. E quem não inova e otimiza, corre o risco de ser ultrapassado.
A provocação fica: até que ponto a governança e a segurança de dados devem limitar a inovação e a busca pela produtividade? Será que, ao tentar proteger tudo, as grandes empresas estão se isolando do futuro? Ou será que, ao abrir mão do controle, elas correm o risco real de perder tudo?
O caminho, como sempre, está no equilíbrio. Inovação e segurança não são inimigas, mas parceiras. Quem souber unir as duas, será o protagonista da atual revolução digital. Que privilégio podermos viver ativamente esse momento da história!