Conheça os desafios e estratégias
Guia para startups: desvendando o universo do investimento anjo
Investir em startups em estágio inicial, conhecido como investimento anjo, é uma jornada de alto risco, mas com potencial de retornos exponenciais. Para quem busca entrar nesse universo, é crucial entender os desafios e as melhores estratégias.
Neste guia, baseado na expertise de Ricardo Urso, especialista em gestão empresarial e sócio-fundador da Urso Consultoria Empresarial e da Urso Capital, e de Antonio Luiz Urso, também fundador das empresas Urso, exploramos como avaliar o potencial de negócios, os riscos envolvidos e os benefícios de se tornar um investidor anjo.
“O investimento anjo é um caminho desafiador, mas repleto de oportunidades. Ao seguir as diretrizes de investir de forma estruturada, buscar a colaboração de redes e fundos, e analisar cuidadosamente as equipes fundadoras e as tendências de mercado, o investidor pode aumentar significativamente suas chances de sucesso nesse ambiente dinâmico e inovador”, antecipa Ricardo Urso.
Muita atenção ao investir como pessoa física
O investimento em startups na fase de "early stage" – quando a ideia muitas vezes se resume a um PowerPoint – é extremamente arriscado. Ricardo Urso aponta que a taxa de mortalidade é altíssima, com pouquíssimas empresas sobrevivendo a essa etapa inicial. Para investidores pessoa física sem experiência em análise de mercado e empresas, o alerta é vermelho: não invista nessa fase de forma direta.
“O principal erro para o investidor iniciante é aportar capital de forma isolada e em estágios muito embrionários sem o devido conhecimento”, sinaliza Antonio Luiz Urso. Embora haja um benefício fiscal para pessoa jurídica em caso de perda do investimento (o fisco "paga" 30% via imposto de renda e contribuição social, fazendo com que o investidor perca 70% do total), esse benefício não se aplica à pessoa física.
Estratégias inteligentes para o investidor anjo
Para mitigar os riscos, Ricardo Urso oferece um caminho mais seguro para quem está começando:
Busque fundos de venture capital: a melhor estratégia é investir por meio de fundos fechados ou abertos que compram cotas de mercado. Fundos como Honey Island Capital, Caravela, Quartz e Curitiba Angels, por exemplo, oferecem um portfólio diversificado de empresas, relatórios periódicos de performance e eventos para conexão com os founders. Isso permite ao investidor ter uma participação mais diluída e segura, com a gestão profissional do fundo.
Aposte no coinvestimento: não entre sozinho em nenhum investimento. A formação de um pool de investidores anjos, que possam contribuir com diferentes experiências e redes, é crucial. "É melhor ter um pedaço do rabo da baleia do que ter a tainha inteira", reflete Ricardo Urso, enfatizando a importância de diluir o risco e compartilhar o know-how.
Invista com moderação: para quem busca aprender e se relacionar com o ecossistema, o conselho é não comprometer mais do que 3% a 5% do seu patrimônio total em venture capital. “Se você tem um patrimônio de R$ 1 milhão, coloque R$ 50 mil para começar”, aconselha Ricardo Urso.
Momento de entrada: espere por um estágio mais maduro da startup, mesmo que isso signifique um percentual menor de participação. A fase de "PowerPoint" ou MVP (Produto Mínimo Viável) é para aportes mínimos, se houver.
Invista via pessoa jurídica: para volumes maiores, aporte o capital por meio de uma holding. Caso ocorra um write-off (perda do investimento), você terá um benefício fiscal que não existe para pessoa física.
Avaliando o potencial de sucesso e a resiliência
Além da inovação e do potencial de mercado, a equipe fundadora é um fator determinante para o sucesso. Ricardo Urso revela o que têm em mente os investidores experientes:
Evite one-only founders e casais: dificilmente investidores experientes aportam em empresas com um único fundador ou em negócios de casais, devido aos riscos de continuidade e gestão.
Busque equipes complementares: as empresas mais atraentes possuem três a quatro fundadores com diferentes experiências e posições, como um CTO (tecnologia), um COO (operações), um especialista comercial e um líder de equipe com capacidade de conexão e aporte financeiro inicial. O "tripé sólido" (tecnologia, conexão de mercado e desenvolvimento de time) é fundamental.
Due diligence: um olhar crítico no investimento anjo
A realidade da due diligence no investimento anjo em estágio inicial é surpreendente: ela é quase inexistente. Ricardo Urso explica que, muitas vezes, a startup sequer tem CNPJ, operando apenas com uma apresentação e a ideia de três amigos. Nessas situações, o investimento se baseia na confiança e no conceito dos "3F’s": Friends, Family and Fools (amigos, família e “tolos” em português).
No entanto, quando fundos de venture capital se envolvem, mesmo em rodadas anjo, a due diligence se aprofunda. Isso pode incluir:
Análise da pessoa física dos fundadores: verificação de histórico criminal e antecedentes.
Elaboração de contratos robustos: contratos de mútuo conversível, acordo de acionistas e opções de compra de cotas.
Governança e metas: implementação de condições que permitam ao investidor remover os founders do board ou do C-level caso as metas não sejam atingidas.
Redes de investidores são um clube poderoso
Participar de redes e comunidades de investidores anjos é crucial para o desenvolvimento do investidor e da startup. Ricardo Urso, que é sócio de fundos fechados como Honey Island Capital e Caravela Capital, disponível apenas por convite, destaca o privilégio de estar nesses ambientes.
“Para quem não tem acesso a fundos convite, a recomendação é participar de iniciativas de startups de órgãos governamentais como FIEP, SESI, SENAI, Sebrae Startups e o Vale do Pinhão em Curitiba”, diz Ricardo Urso. “Esses programas promovem rodadas de pitches, oferecem mentoria e permitem que o investidor se blinde de tomar decisões erradas, enquanto se relaciona com o ecossistema.”
Quanto, quando e como sair
A pergunta fundamental do investidor é: "quanto eu ponho? Quando eu saio? E qual a minha possibilidade de ganho?". O manual "Estágios de Maturidade versus Rodadas de Venture Capital", produzido pela Bigbets, detalha o que se espera em cada estágio (pré-seed, série A, B, C) e ajuda a avaliar a projeção de escalabilidade.
Para os próximos três a cinco anos, as tendências de investimento mais promissoras apontadas por Ricardo e Antonio Luiz Urso são:
Inteligência Artificial (IA): em todas as suas vertentes, desde aplicações para celular e e-mail até automação jurídica e CRM.
Cibersegurança: proteção de dados e sistemas contra ataques cibernéticos.
Robótica: Um setor com grande potencial de crescimento.
Meio ambiente: especialmente no campo de créditos de carbono e compensação, no qual o Brasil se destaca como um espaço interessante.
Automação: em geral, tudo que visa otimizar operações de ponta a ponta.