Mulheres em TI
Tech Girls utiliza a tecnologia para transformar a vida de mulheres
Transformar a vida de mulheres por meio da tecnologia. Este é um dos propósitos do Tech Girls, negócio social nascido em Curitiba em 2017 que, hoje, capacita mulheres em situação de vulnerabilidade social na área de tecnologia da informação (TI) e potencializa a entrada delas no mercado de trabalho. Nos cinco anos desde sua criação, o Tech Girls já impactou mais de 580 mulheres.
Fundado pela desenvolvedora de software Gisele Lasserre, o Tech Girls também busca mitigar os danos causados pelo lixo eletrônico, fazendo a reciclagem de computadores e componentes que, depois, são enviados a todo o país. Parte desses equipamentos também ficam com as alunas do programa de capacitação gratuito de três meses que tomou forma há mais de um ano e meio.
No curso, as alunas aprendem, de forma lúdica e afetiva, como gosta de ressaltar Gisele, desde a criação de bijuterias utilizando componentes não reaproveitáveis de computadores, as bijutechs, até o desenvolvimento de software na última etapa. O programa ainda inclui módulos de empreendedorismo digital, manutenção de notebooks e lógica de programação. No fim do curso, as alunas são presenteadas com os notebooks que elas mesmas reciclaram, além de um certificado e a oportunidade de serem empregadas.
Desde o início do programa, 150 alunas já chegaram até o último módulo de desenvolvimento de softwares na linguagem Python nas unidades do Tech Girls em Curitiba (PR) e São Paulo (SP). Dessas, 30 já estão empregadas como desenvolvedoras na área de TI. Agora, o Tech Girls conta com mais duas escolas, uma em Taubaté (SP) e outra em Florianópolis (SC), cujas primeiras turmas devem encerrar seus programas ainda neste mês.

As primeiras franquias do Tech Girls também já estão em operação nas cidades de São José dos Pinhais (PR) e Joinville (SC). As novas escolas fazem parte de um modelo de franquia social, cujo objetivo é aumentar a expansão geográfica e atender a demanda crescente de outras localidades pelo mesmo propósito criado por Gisele.
Para ela, o Tech Girls busca reduzir a escassez de profissionais mulheres em um mercado de trabalho permanentemente aquecido e majoritariamente formado por homens. “E quanto mais oportunidades proporcionarmos, em mais regiões, melhor para o mercado e para o enriquecimento pessoal e profissional de mais mulheres”, conta.
Parte importante do trabalho social desenvolvido pelo Tech Girls é o reconhecimento e as parcerias firmadas com grandes marcas como Renault e outras. No caso do Grupo Boticário, os computadores reciclados são destinados a alunos em situação de vulnerabilidade social do Programa Desenvolve, projeto de formação em tecnologia realizado pelo Boticário. Este é o segundo ano da parceria.
Reinventando-se para um propósito
Em 2021, Gisele ficou com o 1º lugar do Prêmio Empreendedora Curitiba 2021, concedido pela Prefeitura de Curitiba, na categoria impacto socioambiental. A conquista é importante para a mulher que, aos 40 anos, viu sua vida se transformar, quando decidiu dar aulas de tecnologia para mulheres em áreas da periferia de Curitiba.
Antes disso, Gisele havia concluído o curso de gestão em tecnologia da informação (TI), algo que ela foi buscar depois de enfrentar dificuldades no seu último emprego. “Eu era da área de marketing e posso dizer que vinha de uma carreira de sucesso. Porém, naquele momento, eu fui colocada para liderar uma equipe de desenvolvedores de software, a maioria homens, e muitas barreiras foram colocadas diante de mim por conta disso”, conta.

Gisele enfrentou a rejeição por não falar a linguagem técnica dos demais profissionais e foi isso que a motivou a buscar uma nova graduação. “Com o diploma na mão, percebi que a tecnologia poderia me levar para onde eu quisesse. Foi aí que decidi sair do meu último emprego, sair de São Paulo, onde trabalhava, retornar a Curitiba, empreender e iniciar um projeto social que ajudasse a mais mulheres a descobrirem o mundo digital. Assim surgiu o Tech Girls em 2017”, lembra ela que, na época, tinha 40 anos.
Foram anos de trabalho voluntário até que empresas começaram a reconhecer em Gisele o potencial de ensino de tecnologia. Projetos foram desenvolvidos para que capacitações maiores se tornassem realidade para mais pessoas. Ao mesmo tempo, ela percebeu a necessidade de atuar mais fortemente com o propósito da inclusão digital para mulheres e a mitigação do lixo eletrônico. Assim cresceu o Tech Girls, com o programa gratuito que prepara mulheres para o mercado de TI.
“O Tech Girls como agora ele se configura foi uma forma que encontrei de devolver à sociedade aquilo que me foi tão difícil para conquistar. Quando vemos nossas meninas se formando, com seus computadores na mão, é uma realização muito grande. Muitas delas nem caixa de e-mail tinham. Cada formatura demonstra os esforços delas, os nossos e de todos os nossos parceiros para que tudo isso seja possível”, revela a fundadora.
Nesses cinco anos, o Tech Girls começou a atacar três grandes problemas mundiais, o analfabetismo digital, a reciclagem do lixo eletrônico e o apagão de talentos de TI. O impacto gerado enquadra o negócio social numa categoria recente conhecida como ESG Tech, que reúne empresas que propõem projetos com propósitos nas áreas social, ambiental e de governança.
“Também somos um produto para outras empresas que buscam atuar com os fatores ESG de forma efetiva. Nosso propósito de democratizar a tecnologia para um público com pouco acesso a ela, fazer a inclusão digital e ressignificar o lixo eletrônico é parte importante no atual cenário que estamos vivendo. E transformar a vida de mulheres por meio deste propósito é um ganho social imenso”, finaliza.