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Universidades públicas e privadas possuem grupos de pesquisas que podem contribuir, e muito, com as demandas do mercado na área de inovação.

Inovação

Startup curitibana de educação gamificada aposta na aproximação entre universidade e mercado

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
12/05/2021 15:46
Quando criaram a Ybyram, as jovens estudantes Nicolle Sayuri e Gabriela Mondini buscavam solucionar, a partir da inovação, problemas estruturais do país, ao mesmo tempo em que criavam uma resposta ágil para um dos setores mais afetados pela pandemia: o da educação. Desse contexto surgiu a startup curitibana de educação gamificada para crianças que já recebeu mais de R$ 60 mil reais em investimentos em menos de um ano. “Percebemos uma grande dor na educação básica, com pais tendo que assumir papéis de professores, evasão escolar a improdutividade de alunos”, explica Nicolle Sayuri, cofundadora da Ybyram.
Após uma série de entrevistas com os responsáveis pelas crianças, além de alunos, professores e outros profissionais da área, elas chegaram ao projeto de um jogo educacional pautado nos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU, pertencentes à agenda 2030. “Queríamos engajar, divertir e ao mesmo tempo conscientizar aqueles alunos que estavam distantes da escola sobre a importância do meio ambiente e cidadania sustentável”, conta. Hoje, o produto é voltado às escolas, que têm uma assinatura semestral ou anual do serviço. “Acreditamos que para a sustentabilidade ser eficiente, ela deve ultrapassar muitas barreiras sociais e econômicas”, afirma. A prova disso está no valor negociável da assinatura, com descontos progressivos e que variam de acordo com o número de alunos. Os valores partem de R$ 49,90 para turmas de até 20 alunos.
Com o investimento recente de R$ 60 mil do programa de aceleração Centelha, promovido pela Fundação Araucária, a Ybyram trabalha em um mínimo produto viável (MVP). Só em Curitiba, as empreendedoras estimam atingir 215 mil crianças na faixa etária dos 9 aos 11 anos. No Brasil, o número de jovens nessa idade escolar é de 27 milhões de pessoas. Depois da região metropolitana de Curitiba, onde o alvo são escolas que acreditam na causa da sustentabilidade, o grande objetivo é atingir as grandes empresas.
A missão não deve ser complicada. A startup faz parte de uma extensa lista de empresas, iniciativas e projetos que surgem a partir do contexto de inovação universitária. Nicolle e Gabriella se conheceram durante o programa de empreendedorismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o PIBEP, no primeiro semestre de 2020. Apesar de serem berços de inovação nas mais variadas áreas do conhecimento, ainda há um desconhecimento da iniciativa privada sobre a possibilidade de parceria e aplicação prática de projetos desenvolvidos no ambiente acadêmico, o que restringe o acesso à inovação universitária a órgãos públicos, em sua maioria.
“Hoje há uma carência muito grande no setor público de mão de obra qualificada tecnológica para desenvolver soluções ágeis”, explica Marcos Sfair Sunyé, um dos fundadores do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), grupo de pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Registrado no CNPQ, o grupo desenvolve projetos e atua como um laboratório de informática dentro da Universidade. Hoje o C3SL é formado por 14 professores que atuam como pesquisadores e orientadores em paralelo à atividade de docência, e desenvolvem soluções em software livre. Na prática, isso significa que uma codificação criada pelo grupo para um fim específico pode ser usada posteriormente por outras universidades, órgãos e até mesmo empresas, de maneira gratuita. O grupo foi responsável pelo desenvolvimento do programa Paraná Digital, que levou inclusão digital para mais de 2 mil escolas no Estado. Além disso, eles mantêm projetos em parceria com os Ministérios da Educação, Saúde e Comunicações.

Aproximação com o setor empresarial

A ponte com os órgãos acontece por meio da criação de editais públicos. A aproximação com o setor empresarial, porém, é um desafio adicional às universidades, segundo Sunye. “É uma falha dos dois lados. As empresas desconhecem a chance de negociar com as universidades para resolver problemas e criar tecnologias, e nós precisávamos reforçar esse diálogo e levar essa informação com mais frequência”, diz.
Permitir a prestação de serviços por universidades no setor privado é a premissa básica do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, legislação que autoriza a compra de soluções inovadoras como forma de incentivo financeiro às empresas. Diferente das pastas públicas, que se valem das soluções universitárias para resolver a lacuna de mão de obra profissional, as empresas também poderiam se beneficiar com um custo muito inferior em projetos. “Ao firmar esse tipo de acordo, as empresas ficam muito surpresas ao ver que é muito mais barato recorrer à universidade do que empresas terceirizadas para desenvolver tecnologias”, diz.
Há um consenso, segundo Sunye, de que as duas pontas, empresas e universidades, seriam beneficiadas com um comum acordo e maior aproximação, em todos os Estados da federação. “Como um grupo de pesquisa multissetorial, conversamos com outras áreas da UFPR constantemente. É esse diálogo ativo que devemos criar com as empresas também para levar soluções para além da universidade”, completa Sunye.
Uma outra startup universitária vem para reforçar o argumento de que a inovação acadêmica tem potencial de chegar à agenda de grandes multinacionais. Trata-se da FiberBio, startup paranaense de tecnologia que criou uma solução de plástico biodegradável. A Fiber Bio nasceu dentro dos corredores da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu, em 2019, e também passou pelo programa aceleração do Governo do Estado do Paraná e Fundação Araucária, com apoio do Sebrae/PR. Hoje, a empresa está desenvolvendo um projeto piloto em parceria com a Klabin e Voith Paper, ambas gigantes da indústria de papel e celulose. O apoio das multinacionais pode acelerar etapas e aproximar o lançamento do produto, além de refletir o interesse da iniciativa privada em se aproximar, cada vez mais, de startups soluções inovadoras - venham elas de onde for.

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