Solidariedade
SOS RS: profissionais de TI criam"Tinder" para conectar voluntários, vítimas das enchentes e doações no estado gaúcho
As fortes chuvas no Rio Grande do Sul têm tomado conta dos noticiários. A situação de calamidade no estado obrigou, até o momento, mais de 500 mil pessoas a deixarem suas casas e, muitas vezes, recorrerem a abrigos para se manter seguros. Atualmente, segundo dados da Defesa Civil estadual, cerca de 77 mil pessoas estão nessas condições. Após dias de chuvas intensas e enchentes, os níveis do Rio Guaíba, na capital do estado, Porto Alegre, atingiram a máxima histórica já registrada, superando os 5 metros de altura.
Fato é que o desarranjo climático no estado também tem desafiado o poder público e também iniciativas privadas que, com a carência de um sistema unificado e outros gargalos logísticos notáveis, encontram dificuldades para dar vazão a todos os donativos que chegam por ali. Além disso, essas organizações ainda buscam maneiras mais simples de conseguir mapear a distribuição correta para abrigos e instituições de apoio aos desalojados, considerando suas necessidades.
Diante desse cenário, o engenheiro elétrico Matheus Ribeiro do Carmo decidiu agir. Também em tempo recorde, ele se uniu a um grupo de outros nove voluntários com alguma experiência nas áreas de tecnologia e que, em comum, compartilhavam o fato de terem passado por situações similares com enchentes no passado. Todos eles atuaram como voluntários também durante as enchentes no Vale do Taquari, região do Rio Grande do Sul, em setembro de 2023.
“Todos nós atuamos na linha de frente naquela ocasião, que foi devastadora também, mas não tinha nem de perto as proporções que estamos vendo hoje”, conta, em entrevista ao GazzConecta. A experiência prévia com um desastre natural trouxe o embasamento para a parte “gerencial” do projeto, explica Carmo. “Sabíamos como agir, que processo seguir e como nos conectar ao poder público. Tudo isso poderia ser muito útil agora também”, diz.
A intenção inicial, segundo Carmo, era a de criar uma base de dados confiável, capaz de munir de informações reais o montante de voluntários dispostos a doar, e também auxiliar o poder público a distribuir corretamente os donativos entre os abrigos. “Não tínhamos noção da proporção que tudo isso ia tomar”, diz. “Precisávamos de um controle para ajudar na chegada de 1,5 mil voluntários por dia e monitoramento das necessidades em tempo real”, conta.
Uma conexão em comum com representantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) ajudou o grupo a ter um primeiro espaço de trabalho físico para reuniões e alinhamentos para que o projeto fosse tirado do papel. Uma pequena sala no Tecnopuc, Parque Científico e Tecnológico da PUCRS, virou ambiente para essas discussões ainda no sábado, dia 4 de maio, em Porto Alegre. Do primeiro encontro surgiu o projeto, apelidado de SOS RS.
O projeto, que nasceu de uma simples planilha de Excel, logo migrou para uma plataforma mais robusta e cresceu exponencialmente. Atualmente, o SOS RS conecta voluntários comuns e também treinados, por ali chamados de “premium” a abrigos.
Esses representantes “premium” ficam a cargo de repassar as demandas de abrigos, como padrinhos e madrinhas, sendo a interface de contato entre esses locais e os doadores. “O responsável pelo abrigo dificilmente conseguiria responder às solicitações em tempo real e repassar isso. Nossos padrinhos e madrinhas cumpriam esse papel, com atualizações de uma em uma hora para nossa base de dados. Algo como um organismo vivo mesmo”, explica.
Tinder das doações
Duas semanas depois do primeiro esboço criativo e conexões, a SOS RS se tornou um ecossistema de iniciativas voluntárias. Para além do monitoramento das necessidades de doações nos abrigos, o projeto ganhou verticais dedicadas à logística e transporte, acolhimento de desabrigados e distribuição de água.
A comparação mais óbvia, segundo o fundador, é a do aplicativo de relacionamento Tinder. “Por termos esse sistema de 'match', estamos sempre conectando voluntários que podem oferecer mão de obra e insumos aos locais que necessitam. É uma ótima comparação e que caiu muito bem”, conta. Até o momento, a plataforma soma mais de 130 mil horas de trabalho voluntário.
Com mais experiência, a iniciativa também definiu seu mote de alcance. Por atender a menores demandas de forma mais assertiva, o SOS RS passou a focar no B2C, atendendo apenas a doações particulares e em menor proporção. Já as grandes doações corporativas estão a cargo do governo estadual, de acordo com Carmo.
O futuro após o RS
De acordo com o fundador, o projeto já está de olho nos próximos passos de reestruturação das cidades afetadas, e se preparando para atender as necessidades que vão além dos donativos emergenciais. “Esperamos poder ajudar também nas próximas ondas do voluntariado no estado, que são as fases de limpeza e reconstrução. Essas serão, sem dúvida, novas frentes de atuação que teremos no nosso ecossistema e já estamos fechando parcerias para isso”, diz
A intenção de Carmo e dos demais fundadores é também manter as bases do SOS RS como um legado para eventuais catástrofes naturais, dentro e fora do estado gaúcho. “Nossa ideia é ter um modelo replicável em qualquer tipo de catástrofe. A população deve poder ter acesso a isso e, em qualquer lugar do mundo, usar os novos playbooks para replicar isso para situações similares, mas adaptados aos contextos de cada situação”, diz.
Apesar da agilidade ao pivotar seu primeiro “MVP”, a SOS RS não deve ser comparada a uma startup. Segundo Carmo, é esperado que, no futuro, a plataforma assuma características de intuição sem fins lucrativos, auxiliando cidades - por meio de tecnologia - em situações de calamidade pública.
Para isso, já está fazendo alianças com importantes Organizações Não Governamentais (ONGs) internacionais que irão auxiliar o projeto a ganhar robustez. “Já fomos procurados por importantes ONGs com experiência em desastres e que vão nos ajudar a trazer essa visão no longo prazo”, conta.
Site permite consultar necessidades de cada abrigo
O site do SOS RS contabiliza mais de 600 abrigos cadastrados em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Nele, é possível consultar os itens de necessidade imediata em cada local, além de indicar a demanda por voluntários e profissionais de diferentes áreas. Interessados em se voluntariar podem se inscrever pelo formulário.
E vem aí o GazzSummit Agrotechs
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